Gerenciando o período de transição na vaca de leite moderna
14 de fevereiro, 2019
Autor: Denis Dreux
Tradução: Marcelo de Paula Xavier
Disponível: http://www.keenansystem.com/ie-en/2017/07/12/managing-transition-period-modern-dairy-cow/
A importância de cuidar da vaca no final de sua gestação, em preparação para a próxima lactação é reconhecida há várias décadas. Com o crescente conhecimento da fisiologia das vacas leiteiras e a importante contribuição que um bom manejo de pré-parto pode proporcionar – tanto ao parto quanto à lactação subsequente – o gerenciamento do chamado “período de transição” assumiu uma nova dimensão nos últimos 5-10 anos. O parto em si representa um grande desafio para a vaca e é um período em que podem ocorrer problemas sérios, os quais – em diferentes graus – podem afetar a saúde da vaca, e a performance/rentabilidade geral da lactação subsequente.
Esta breve revisão do manejo da transição tentará examinar os princípios envolvidos nas mudanças fisiológicas que ocorrem à medida que a vaca gestante/não lactante passa para um estágio pós-parto/em lactação. Em particular, examinará as causas subjacentes de alguns dos principais distúrbios de produção, bem como se concentrará no estabelecimento de uma boa ingestão de ração após o parto, a fim de se alcançar níveis satisfatórios de produção de leite. A partir dessa base de conhecimento fisiológico, a revisão tentará fornecer alguns aspectos práticos envolvidos no manejo das vacas para tenham um parto sem intercorrências, lactações bem-sucedidas e a boa fertilidade geral.
O período de transição, secagem das vacas
Não existe uma definição específica do período de transição em termos de sua duração e – embora seja geralmente aceitável considerar o seu início no momento da secagem – é discutível quando ele é concluído. As vacas são normalmente secadas 60 dias antes da data esperada de parto.
A secagem antecipada pode resultar em vacas sobre-condicionadas (gordas) antes do parto; enquanto que a secagem retardada, geralmente observada em vacas de maior produção, pode afetar os rendimentos na lactação subseqüente. Vacas que produzem 10-12 litros de leite por dia são relativamente fáceis de secar, com interrupção intermitente ou abrupta da ordenha. Vacas de maior rendimento podem ser mais difíceis, porém a estratégia de fornecer menos alimento e com menor valor nutritivo geralmente funciona; a retenção de água não é recomendada. A terapia com antibiótico de vacas secas é recomendada neste momento, juntamente com o monitoramento da saúde do úbere para garantir que a mastite não se torne um problema.
Antes da secagem, as vacas poderiam estar comendo mais de 3% do seu peso corporal. O que cairá rapidamente para apenas 2% após a remoção das exigências de lactação da vaca. A involução do tecido do úbere ocorre neste momento, embora a massa do tecido secretor tenha diminuído desde a obtenção do pico de lactação. Ao mesmo tempo, o feto em desenvolvimento necessitará de nutrientes adicionais à medida que a vaca se move para a final do terceiro trimestre de gestação. No geral, este aumento na demanda será relativamente modesto, mas o aumento na proporção da cavidade abdominal da vaca, sendo ocupada pelo útero gravídico, terá um efeito importante no espaço disponível para o rúmen. Enquanto esta constrição no rúmen continua, o consumo total de ração vai sendo afetado e – em tais situações – pode ser aconselhável compensar possíveis reduções na ingestão total de nutrientes aumentando a densidade total de nutrientes da ração.
Peso do bezerro
Como indicado, é improvável que o consumo total de ração durante este período exceda 2% do peso corporal, mas – na maioria das circunstâncias – isto será suficiente para atender às necessidades totais dos animais; desde que a ração seja de densidade energética e proteica adequada. Quando a subalimentação ocorre, por qualquer motivo, o peso ao nascer e a taxa de sobrevivência do bezerro podem ser afetados. Um estudo recente encontrou uma dupla variação no peso ao nascer de novilhas nascidas de vacas multíparas – o que foi bastante surpreendente – dado que todas as vacas receberam o mesmo manejo pré-parto.
Como indicado, o baixo peso ao nascer pode afetar a taxa de sobrevivência do bezerro, mas também pode afetar o desempenho subseqüente da lactação do bezerro. Embora até o momento esses efeitos não tenham sido quantificados. Por outro lado, a alimentação excessiva durante o período de transição pode resultar no sobre-condicionamento das vacas, muitas vezes resultando em bezerras muito grandes. Ambas as condições podem aumentar a incidência de distocia (parto assistido), enquanto as vacas com excesso de gordura podem enfrentar outros problemas, como baixo consumo, esteatose hepática e cetose, uma vez iniciada a lactação.
Consumo de alimentos
Após a secagem, o apetite da vaca diminui rapidamente. Mas, pelo menos durante a primeira parte do período de transição, níveis próximos de 2% do peso corporal são alcançáveis sob a maioria dos regimes alimentares. Assim, uma vaca leiteira gestante e não lactante de 625 Kg deve consumir entre 11,5 e 12,5 Kg de Matéria Seca (MS) por dia, com poucas vacas tendo probabilidade de consumir mais de 13 Kg MS/dia. Mais perto do parto, a ingestão total de alimentos começa a declinar, mais notadamente a partir de aproximadamente 7 dias antes da data real do parto. A manutenção de níveis satisfatórios de ingestão de ração durante todo o período peri-parturiente (pré e pós parto) é importante em relação ao desempenho subsequente da lactação.
A gestão da oferta de alimentos durante o período de transição precisa levar em conta: a redução inicial na demanda de nutrientes devido à interrupção da lactação, a redução do espaço abdominal para acomodar o rúmen conforme o aumento do conteúdo uterino, a necessidade de proporcionar a adaptação ruminal à ração, evitando a superalimentação (vacas muito gordas, bezerros grandes) e o possível início de secreção de leite no período pré-parto.
Em todo o tempo, é essencial que a boa função ruminal seja mantida, a fim de se alcançar bons níveis de ingestão de ração após o parto. Da secagem até aproximadamente 3 semanas antes do parto (período distante), níveis razoáveis de forragens – com conteúdo relativamente alto em fibra – devem ser fornecidos, tendo como alvo entre 50-60% da ração total (por exemplo: 1,0 a 1,2% de peso corporal fornecido como forragem).
Alimentação de palha
A alimentação de palha de boa qualidade durante o período de transição está se tornando bastante comum, já que não apenas fornece o preenchimento físico, mas – devido ao seu baixo nível de potássio – pode ser valioso quando se tenta controlar os níveis de potássio na dieta. Muita palha na ração neste momento pode, no entanto, afetar o desempenho subseqüente da lactação.
Uma boa quantidade de palha na dieta da vaca seca seria em torno de 5 Kg/cabeça/dia. A quantidade é importante, mas a forma como é fornecida ao animal é ainda mais crítica. Respeitando um certo comprimento dessa fibra misturada em um TMR (vagão de mistura total), você garantiria o volume correto de ingestão de alimentos. Palhas corretamente cortadas ajudarão no aprimoramento das funções do rumen.