O cruzamento aumenta o lucro diário por vaca
26 de fevereiro, 2020
Escrito por Jim Dickrell
Após 10 anos de teste e mais dois anos de análise, os resultados finalmente chegaram e são inequívocos: O uso de um sistema de cruzamentos rotacionais de três raças resultará em mais lucro diário por vaca do que o uso da raça Holandesa pura ao longo de três gerações.
O estudo da Universidade de Minnesota (UdM) envolveu sete rebanhos de alta produção, com média de pouco menos de 30.000 libras (13.608 kg) de leite. Os rebanhos tinham em média 982 vacas confinadas em barracões de freestall. Os rebanhos destinaram 3.550 novilhas e vacas holandesas como fêmeas “base” para a pesquisa, com cada um destinando no mínimo 250 fêmeas.
Pelo menos 150 desses animais “base” em cada rebanho foram acasalados com touros da raça Holandesa para manter uma linhagem pura. Pelo menos 100 animais “base” foram acasalados com os touros Viking Red1 ou Montbeliarde, para se iniciar o programa rotacional de três raças, conhecido como ProCROSS. Os filhos cruzados foram acasalados com a 3ª raça para criar mestiços de 3 raças (tri-cross). E, finalmente, os mestiços de três raças foram acasalados com touros da raça Holandesa para manter o avanço da rotação.
O objetivo do estudo foi determinar se um programa contínuo de cruzamento pode ser mais lucrativo e, o que é importante, compensar o aumento do nível de endogamia dentro da raça Holandesa. "A depressão por consanguinidade rouba silenciosamente o lucro dos produtores de gado de leite, porque é expressa principalmente por características que não são facilmente perceptíveis, como perdas embrionárias, menor resistência a doenças e longevidade reduzida", diz Les Hansen, geneticista da UdM e pesquisador principal do projeto.
“A adoção e o uso da seleção genômica nos Estados Unidos nos últimos 10 anos aceleraram bastante o aumento anual da consanguinidade média de fêmeas da raça Holandesa, principalmente porque o intervalo de geração foi reduzido pela metade”, diz ele. Ele observa que a endogamia média aumentou aproximadamente 0,35% em cada um dos últimos 4 anos, com o coeficiente médio de endogamia subindo para 8% para as fêmeas da raça Holandesa nascidas durante o início de 2019.
“Para referência, a consanguinidade resultante do touro acasalado com sua própria filha é de 25%, e o acasalamento de primos de primeiro grau resulta em consanguinidade de 6,25%”, diz ele.
Os cruzamentos eliminam a depressão por endogamia. "Quando pais de raças diferentes são acasalados para criar um animal mestiço, os 2 genes de mesmo local nos cromossomos não podem ser idênticos a um ancestral comum", explica Hansen. "Portanto, é provável que genes recessivos de maiores e menores consequências não sejam expressos com o cruzamento".
Ao mesmo tempo, é importante observar que o vigor híbrido não substitui o progresso genético dentro das raças, o que geralmente aumenta a frequência dos genes desejáveis. Consequentemente, é importante usar os melhores touros de cada raça – e continuar a fazê-lo – em um programa de cruzamentos.
No estudo, os gerentes de rebanho foram solicitados a selecionar os touros da raça Holandesa, classificados entre os 10% melhores para Mérito Líquido. O sêmen dos touros Viking Red e Montbeliarde foi importado da Europa e obteve uma classificação alta no Índice Nórdico de Merito Total para touros Viking Red ou no índice francês ISU para touros Montbeliarde. Os touros Viking Red e Montbeliarde foram importados pela Creative Genetics da Califórnia. Todos os touros holandeses vieram da Select Sires.
Principais resultados
- As mestiças de duas e três raças combinadas se mantiveram 153 dias a mais no rebanho do que suas companheiras da raça Holandesa.
- O lucro diário foi 13% maior para as mestiças de duas raças e 9% maior para as mestiças de três raças do que para suas companheiras de rebanho da raça Holandesa. (Nota: O lucro diário incluiu não apenas a produção de leite, mas também os custos relacionados à sanidade e fertilidade).
- A produção diária de gordura mais proteína foi 1% maior em mestiças de duas raças e 1% menor em mestiças de três raças do que nas companheiras de rebanho da raça Holandesa.
- Os custos com tratamento de saúde foram 23% mais baixos para as mestiças de 2 raças e 17% mais baixos para as mestiças de 3 raças.
- Todas as gerações de mestiços apresentaram taxas mais baixas de natimortos.
- A fertilidade foi maior nas mestiças, com as mestiças de duas raças tendo 12 dias em aberto a menos e mestiças de três raças tendo 17 dias em aberto a menos que as companheiras de rebanho da raça Holandesa.
- Os óbitos ao longo da vida foi 4% menor para as mestiças.
Resultado final: Mais lucro
O resultado final é que o cruzamento é mais rentável. "O principal fator foi a vida útil de 153 dias a mais nos rebanhos das mestiças em relação às companheiras da raça Holandesa", diz Amy Hazel Loeschke, uma das principais cientistas envolvidas no estudo. (Nota: Outros estudos mostram que os custos de reposição são os maiores fatores de lucratividade em rebanhos leiteiros).
“As vacas mestiças, em média, demoraram mais para serem substituídas e, portanto, o custo de reposição foi substancialmente reduzido”, diz Loeschke. A fertilidade superior (menos dias em aberto e maior taxa de concepção) das mestiças também influenciou na persistência da produção, na frequência de partos e na longevidade do rebanho, diz ela.
O próximo fator importante que afetou a lucratividade foi a redução dos custos de tratamento de saúde nas mestiças, notadamente menos cetose, febre do leite, deslocamento de abomaso e mastite, diz ela.
As mestiças também tiveram um aumento no valor dos seus bezerros, porque apresentaram menores taxas de natimortos, o que resultou em mais bezerros nascidos durante a vida. Os bezerros mestiços também tiveram maior valor.
Alguns rebanhos que usaram touros de IA da raça Montbeliarde relataram mais dificuldades de parto e foram para o sêmen sexado. Mas, para a UdM, isso não foi um problema. "Devido a essas observações ..., não temos uma recomendação especial para o uso de sêmen sexado de Montbeliarde para facilitar o parto", diz Loeschke. “Para todas as raças, é aconselhável evitar touros de IA com dificuldade de parto ou de manejo."
Alguns produtores também expressaram preocupação com o cruzamento simplesmente porque o consideram complexo, para saber quais touros devem ser cruzados com quais vacas e quando. Mas, o uso de brincos com códigos e cores no software de gerenciamento da fazenda pode simplificar bastante o processo.
E manter um estoque atualizado de sêmen das três raças é fundamental. Mas, Loeschke observa que as três raças têm índices de mérito total que podem ser usados para selecionar os touros mais bem classificados. “Gerenciar o ProCROSS para um rebanho é muito menos complexo do que acasalar touros de IA de maneira apropriada para vacas da mesma raça, a fim de fornecer proteção para consanguinidade”, diz Loeschke.
"Se forem escolhidos touros com filhas provadas, talvez apenas três touros de cada raça possam ser usados por vez", diz ela. "Quando se usa somente sêmen de touros genômicos, um número maior de touros deve ser usado e eles devem ser substituidos com mais frequência".
Ela também observa que a seleção dos touros para IA deve ser feita três vezes por ano, após a liberação de cada avaliação de touros, para garantir que sempre os melhores touros sejam usados.
No final, o estudo da UdM confirmou que o cruzamento é uma opção viável e razoável. “Para todos os sete rebanhos do estudo, as vacas ProCross obtiveram mais lucro por dia do que suas companheiras de rebanho da raça Holandesa”, diz ela. "Cinco dos sete proprietários de rebanhos leiteiros no estudo pretendem manter ou aumentar a proporção de vaca mestiças em seus rebanhos com o tempo."
Nota:
1 - A raça Viking Red é o resultado da combinação de programas de melhoramento genético de populações de Vermelha Sueca, Ayshire Finlandês e Vermelha Dinamarquesa previamente separadas.
Fonte: Dairy Herd Management
Disponível em: https://www.dairyherd.com/article/crossbreeding-increases-daily-profit-cow