João Ricardo Alves Pereira


Zootecnista, Doutor em Nutrição Animal e Pastagens

jricardouepg@uol.com.br

PUBLICAÇÕES

Feno: Por que não?

26 de agosto, 2020

Escrito por Dr. João Ricardo Alves Pereira*

 

A fenação é um processo no qual a forragem é conservada após sofrer um processo de desidratação onde se reduz o teor de umidade de 80 a 85% para 12 a 15%, por meio de operações mecânicas, de modo a conservar o máximo possível o seu valor nutritivo original.

As forrageiras mais utilizadas para produção de feno são as gramíneas tropicais como as espécies do gênero Cynodon como os “tiftons”, "coast-cross", "Jiggs" e até algumas braquiárias e mesmo panicuns. As de clima temperado são a aveia e o azevém. Dentre as leguminosas somente a alfafa é utilizada em quantidade expressiva. De maneira geral, as leguminosas são mais nutritivas do que as gramíneas de clima temperado que por sua vez apresentam melhor qualidade que as de clima tropical.

Todavia, a fertilidade do solo, além de ser determinante para a produtividade também influência no valor nutricional das plantas forrageiras, interferindo diretamente nos teores de proteína, fósforo, potássio e na sua digestibilidade. A medida que as plantas vão ficando mais velhas a produção de forragem por área aumenta, mas a qualidade nutricional diminui, uma vez que a relação de folhas (porção mais digestível da planta) diminui em relação ao caule (porção mais fibrosa).

Quanto às etapas do processo de fenação, ele se inicia com o corte, que deve ser feito por meio de segadeiras de alto rendimento operacional, precisão no corte (para não comprometer a rebrota) e o mínimo de perdas de forragem no processo.

A secagem se inicia quando a forragem é cortada e espalhada no campo. Nessa etapa, a perda de umidade é intensa nas plantas, que quando cortadas apresentam teor de umidade entre 80 a 85% e que se reduz rapidamente para 65%. Numa segunda fase de desidratação, o processo é lento e pode se prolongar quando a forragem é densa, a umidade relativa é alta, ou se é pequena a circulação de ar dentro da leira. Nessa fase, é fundamental as operações de viragem por meio de ancinhos, de modo a promover a aeração na leira, permitindo a troca de ar, redução da umidade e aceleração da secagem.

Uma terceira etapa se inicia quando a umidade da planta atinge cerca de 30%. Nessa etapa, a secagem é rápida, mas é mais sensível às condições climáticas do que as anteriores, principalmente à umidade relativa do ar. Isso explica o porquê da dificuldade de produção de feno no inverno e do grande potencial de produção no período de verão.

O feno produzido será armazenado em fardos retangulares ou cilíndricos de diversos tamanhos. O enfardamento é interessante pela facilidade de manuseio e redução drástica do volume.

As perdas nessa fase são menores, porém não menos importantes. Como a umidade do feno é baixa isso impede o crescimento de microrganismos que degradam o feno e produzem toxinas que podem ser prejudiciais aos animais. Quando o processo de fenação não foi bem conduzido a umidade remanescente nos fardos permite o crescimento de fungos, leveduras e algumas bactérias. O processo de respiração de alguns desses microrganismos gera calor que, num primeiro momento reduz drasticamente a digestibilidade da proteína desse feno (em até 50% ou mais), caracterizado pelo escurecimento do feno; e em condições extremas leva a propagação de fogo no material e instalações.

Quanto ao uso, o feno pode ser uma boa opção nas dietas para bovinos de leite ou corte, como fonte de fibras necessárias para otimizar a função ruminal. A maior digestibilidade da fibra de fenos de alta qualidade faz com que o seu tempo de permanência (enchimento) no rúmem seja menor, permitindo maior ingestão de matéria seca pelos animais, demamandando menos alimentos concentrados, e aumentando a produtividade e teores de gordura no leite.

A especialização da pecuária no Brasil tem resultado num crescimento significativo na comercialização de forragens. Até recentemente tínhamos como referência a comercialização de feno somente para alguns poucos rebanhos de animais elite ou, em situações mais críticas, quando não se dispunha de volumoso suficiente para a produção do rebanho. Atualmente, adquirir volumosos como o feno, de produtores especializados na atividade, tem sido uma boa alternativa para os pecuaristas, que podem ter maior especialização da propriedade, focando seus esforços e investimentos naquilo que realmente é de sua competência; tendo melhor qualidade na produção de volumosos, menor investimento em máquinas, e, principalmente, um planejamento mais seguro para sua atividade. Para os agricultores, o feno pode ser opção de renda integrada ao seu planejamento agrícola, como venda de parte das forragens de inverno ou de áreas de forragens de verão exclusivas para produção; ou até mesmo prestando serviços com seu maquinário (redução de custos fixos).

 

Vantagens

O feno possui algumas vantagens interessantes, tais como:

– É tecnicamente versátil, ou seja, pode ser produzido tanto por grandes quanto pequenos produores;

– É facilmente transportável (manuseio), principalmente para os fardos retangulares, o que facilita a comercialização;

– É versátil do ponto de vista de armazenamento;

– Não depende de processos fermentativos longos, como a silagem;

– Tem maior estabilidade (demora mais a estragar) quando fornecido aos animais.

 

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*Dr. João Ricardo Alves Pereira - Professor Adjunto da Universidade Estadual de Ponta Grossa, possui graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Mestrado em Nutrição Animal e Pastagens pela ESALQ/USP e Doutorado em Zootecnia pela UNESP/Jaboticabal. É palestrante e consultor de empresas nas áreas de conservação de forragens e nutrição animal, ganhador do Prêmio Impacto 2012 Milkpoint, técnico do ano no Troféu Agroleite 2016.

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