Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), desde o início de 2020, o preço do leite no campo apresenta alta acumulada real de 42,5% na “Média Brasil” líquida.

Esse avanço foi acentuado nos últimos três meses, quando os valores subiram 39,7% e a cotação do leite captado em julho -  que foi pago ao produtor em agosto - chegou ao recorde de R$ 1,9426/litro na “Média Brasil” líquida (dados deflacionados pelo IPCA de agosto/20). E, segundo pesquisas da entidade, a expectativa é de que o preço do leite captado em agosto possa subir em torno de 10%, estabelecendo - assim - um novo recorde real.

O aumento das cotações ao produtor entre março e agosto é um fato sazonal, já que a captação de leite é prejudicada pela baixa disponibilidade de pastagens nesta época, em decorrência da diminuição das chuvas no Sudeste e no Centro-Oeste. Mas, neste ano, a situação foi agravada por três fatores principais:

1) condições climáticas mais severas, que impactaram a retomada da produção leiteira (com destaque para a estiagem no Sul do País);

2) aumento nos custos de produção em relação ao ano anterior (o que tem dificultado os investimentos na produção); e

3) pela redução considerável dos estoques de derivados lácteos – o que está atrelado à recuperação do consumo, ancorado nos programas de auxílio emergencial.

É importante também destacar que, no primeiro semestre, o volume de importações de lácteos foi enxuto, devido à desvalorização do Real frente a moedas estrangerias – o que contribuiu para a demanda superar a oferta e para a concorrência acirrada das indústrias de laticínios na compra de matéria-prima.

O preço do leite captado em agosto - e pago em setembro - deve continuar sendo influenciado por esses fatores, à medida que os preços do spot (comercializado entre indústrias) e dos derivados também se elevarem. Entre a primeira e a segunda quinzenas do mês, a pesquisa do CEPEA apontou alta acumulada de 15% nos valores do leite spot em Minas Gerais. O preço médio de agosto aumentou 12,2% em relação a julho, com a média a R$ 2,66/litro. A menor oferta de leite e os baixos estoques dos derivados lácteos também impulsionaram os preços médios da muçarela e do leite em pó, que atingiram novos recordes da série histórica do CEPEA.

Movimento de alta pode perder força

O movimento de alta no campo deve perder força nos próximos meses. Isso porque o final da entressafra se aproxima com o início da primavera e com condições climáticas mais favoráveis para a produção leiteira.

Além disso, a indústria tem aumentado as importações de lácteos, visando diminuir a disputa pela compra de matéria-prima. Como consequência, o preço médio do leite spot em Minas Gerais na primeira quinzena de setembro se elevou apenas 0,2%. Na segunda quinzena, recuou 5,5%, chegando a R$ 2,61/litro.

Finalmente, o acompanhamento diário das negociações de derivados durante a primeira quinzena de setembro indicou desaceleração dos preços. Assim, existe uma tendência de estabilidade-queda para o preço do leite captado em setembro e a ser pago em outubro.

Fonte: Boletim do Leite – Setembro 2020