Mercado de lácteos: Desafios globais e perspectivas de crescimento no Brasil
25 de novembro, 2024
O ambiente político e econômico mundial permanece desafiador. As incertezas causadas pelos movimentos bélicos na Europa e no Oriente Médio afetam os mercados e as perspectivas globais de crescimento econômico. A sinalização de mudança de governo nos Estados Unidos gera novas expectativas na solução destes desafios, que ainda precisam ser confirmadas. As últimas projeções do FMI trazem um crescimento um pouco melhor para Europa e pior para Estados Unidos e China.
A China tem estimulado a produção doméstica de lácteos, visando maior autossuficiência em leite e derivados. Isto somado ao menor crescimento da economia do gigante da Ásia tem deprimido as importações deste país. Estimativas indicam que a importação de leite e derivados decrescerá de 24 milhões de litros equivalentes/dia em 2023 para 20 milhões de litros equivalentes/dia em 2024. A China é o maior importador de lácteos do mundo e isso seguirá impactando o mercado global de leite e derivados.
A oferta de leite e derivados já havia diminuído no passado recente, nos principais exportadores do mundo, em um movimento de adequação à menor demanda por lácteos. Os últimos meses indicam leve recuperação da produção mundial e à recuperação das cotações internacionais, sinalizando que – apesar da retração da demanda chinesa – há um melhor equilíbrio entre oferta e demanda em escala global. A rentabilidade da atividade leiteira está melhorando nos principais países produtores do mundo, o que tende a sustentar a expansão da oferta nos próximos meses.
No âmbito doméstico, em 2024, os principais indicadores macroeconômicos brasileiros sinalizam para um crescimento da economia próximo de 3,1%, segundo o Boletim Focus. Os indicadores de emprego e renda seguem em expansão garantindo a melhoria do poder de compra da população.
No entanto, a expansão dos gastos públicos e as incertezas sobre o ajuste fiscal tem gerado apreensão nos agentes econômicos. A projeção de inflação acima da meta de 4,5% em 2024, o aumento do dólar e das taxas de juros são as consequências desta realidade, e que afetam as previsões de crescimento econômico.
O crescimento da massa de rendimento dos brasileiros tem permitido a expansão da oferta de lácteos no mercado brasileiro de 2,4% nos últimos doze meses finalizados em setembro. Parte desta oferta tem sido suprido pela produção inspecionada, que aumentou 1,6%. No entanto o destaque ainda tem sido o crescimento das importações, 12,3%, que já respondem por 9% da oferta doméstica de lácteos no país. As exportações, ainda que exibam crescimento de 14,9%, são pouco expressivas em volume.
No entanto os termos de troca observados em setembro de 2024 foram os mais favoráveis ao produtor dos últimos quatro anos e as margens da indústria e do varejo continuam relativamente boas na média do ano, ainda refletindo a relativa escassez recente de leite no território nacional. Com isso, a margem do varejista ficou mais apertada. Apesar dos termos de troca favoráveis ao produtor, a produção de leite ainda não esboçou aumento significativo em relação ao mesmo período do ano passado, o que pode atenuar a queda observada nos preços de lácteos no atacado e ao produtor.
O preço do leite, que seguia nos últimos meses em alta no varejo, atacado, mercado Spot e ao produtor, sinaliza para um enfraquecimento, já que o mercado consumidor tem dificuldade para absorver aumentos de preços. Além disso, o movimento sazonal de produção aumenta a oferta do leite no último trimestre do ano. Já há reduções de preço observadas no mercado atacadista de São Paulo e no mercado Spot. I
sso tende a provocar uma leve piora na rentabilidade nos próximos meses em um contexto de algum aumento do custo de produção de leite, como detectado pelo ICPLeite/Embrapa que registrou pelo segundo mês consecutivo aumento mensal acima de 1% em outubro. No entanto, ainda que a produção do leite no terceiro trimestre deste ano tenha sido superior à observada no segundo trimestre, não houve aumento em relação ao mesmo período do ano passado, mesmo com os termos de troca favoráveis ao produtor nos últimos meses. Dificuldades estruturais como o encarecimento e a escassez de mão de obra e a saída de produtores da atividade ajudam a explicar este quadro.
Fonte: Centro de Inteligência do Leite (CILeite/Embrapa)