A gestão e a competitividade do agronegócio leite
11 de fevereiro, 2019
Autor: Prof. Dr. Cleber Carvalho de Castro*
A competitividade em qualquer setor do agronegócio depende basicamente de três fatores dinâmicos e interativos: 1) Fatores sistêmicos, que são aqueles que o produtor rural não tem nenhum controle (como taxa de juros, câmbio e aspectos regulatórios, por exemplo); 2) Fatores estruturais, que são os que o produtor possui uma influência apenas parcial (como a organização do setor e a relação entre os elos da cadeia produtiva, por exemplo); e 3) Fatores empresariais ou internos, que são aqueles que o produtor rural possui amplo controle e que faz a distinção uns dos outros (como forma de gestão do negócio e a tecnologia empregada, por exemplo).
Como os fatores empresariais ou internos são aqueles diretamente influenciados pelas decisões dos produtores rurais merecem no dia-a-dia a maior atenção e podem determinar o sucesso ou insucesso no negócio. Apesar de serem fatores internos, eles estão fortemente atrelados às grandes demandas dos consumidores atuais, que desejam qualidade, preço adequado e informação e que se configuram como grandes desafios para a gestão.
Para produzir com qualidade e com custo aceitável é preciso escolher a tecnologia adequada e coerente com o sistema de produção desejado (se mais intensivo ou mais extensivo). Neste sentido, os aspectos mais críticos e que impactam na eficiência produtiva dos produtores de leite costumam ser a estrutura das instalações, nutrição do rebanho, manejo, sanidade, reprodução e melhoramento genético. A gestão destes fatores críticos irá determinar a estrutura de custos e o patamar de qualidade. Estas questões são mais facilmente entendidas pelos produtores rurais, que conseguem ver uma ligação entre eles e as demandas dos consumidores.
Nem sempre é fácil conseguir bons resultados individualmente, e a alternativa de buscar soluções conjuntas por meio de associações ou cooperativas pode ser uma boa alternativa, dependendo especialmente do número e tipo de compradores presentes na região e suas políticas de preços e pagamento. Embora muitos compradores dizem pagar pela qualidade do leite, na maioria das vezes estão mais interessados mesmo é no volume fornecido e a política de pagamento contempla de forma insuficiente os produtores que conseguem produzir com melhor qualidade.
Para a conquista de uma posição competitiva sustentável no agronegócio e atendimento de uma demanda crescente por parte dos consumidores, o setor produtivo precisa se preparar para a ampliação do nível de informação aos consumidores, tarefa complexa e que depende de uma boa articulação entre produtores rurais, indústria e setor de distribuição. A rastreabilidade e a certificação de origem são exemplos de procedimentos que impactam o nível de informação e facilitam a decisão de compra por parte dos consumidores finais. Assim como no caso do setor de café, em que há uma série de certificações (orgânico, fair trade, denominações de origem, etc.), a ampliação do mercado para produtos lácteos no Brasil e exterior poderá depender de informações que propiciem maior segurança aos diferentes tipos de consumidores da grande variedade de lácteos. Mais ainda, poderá agregar maior valor a produção rural e garantir melhores resultados para aqueles que se propoêm a ir além do tradicional.
Com uma boa gestão dos fatores competitivos, que o produtor rural domina, e uma boa governança e articulação com os demais elos da cadeia produtiva, o produtor poderá avançar na direção da redução de custos e/ou aumento de receitas. E se o governo for efetivo em manter boas condições macroeconômicas e uma adequada regulação, os ganhos de eficiência podem ser potencializados, facilitando o alcance de novos mercados para os produtos lácteos e propiciando ganhos competitivos aos produtores rurais.
*Professor do Departamento de Gestão Agroindustrial da Universidade Federal de Lavras (DGA/UFLA), Doutor em Agronegócios pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Agronegócios da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CEPAN/UFRGS).