A surpresa no cofre

A surpresa no cofre

04 de abril, 2023

Escrito por Paulo do Carmo Martins*

 

Em 2007 eu era Chefe-geral da Embrapa Gado de Leite e participei de uma missão oficial do Governo Brasileiro, para discutir parcerias com o Governo da Venezuela, que desenvolvessem sua agricultura.

A Venezuela é totalmente dependente de alimentos vindos do exterior. Por ser um país tropical, tem dificuldades imensas de fazer uma agricultura diversificada, como são todos os países do mundo que estão no entorno da linha imaginária do Equador. Na verdade, nem todos. Afinal, o Brasil é o único país do mundo que consegue produzir alimentos de todo tipo neste desafiante ambiente tropical. O segredo? Ciência!

O Brasil conseguiu esta façanha por meio de investimento público na construção do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária, formada pela Embrapa, Universidades e Institutos de Pesquisa estaduais. Trabalho de modo articulado e sem descontinuidade por décadas deu resultados. Sempre é bom lembrar que soja, uva, trigo e o Girolando, por exemplo, foram tropicalizados ou criados aqui.

Sem ciência, continuaríamos dependentes de alimentos produzidos em países do mundo temperado, como Uruguai, Argentina, Austrália, Nova Zelândia, França, Alemanha, Irlanda, Estados Unidos e Canadá. Mas, o segredo do sucesso brasileiro não se deveu somente à ciência. A coragem, a resiliência e a determinação dos produtores é pilar decisivo.

Entre a ciência e produtor corajoso, tem o elo fundamental: a oferta de serviços especializados e produtos compatíveis com as necessidades do produtor e da indústria de alimentos. Afinal, conseguimos colocar um frango na mesa de um chinês a preços mais baratos do que produzem, na quantidade que quiserem e sem risco sanitário ou de resíduos. As empresas de insumos, ingredientes, máquinas e implementos são o terceiro pilar deste sucesso.

Portanto, o segredo do sucesso do agro brasileiro é resultante de Inovação e Empreendedorismo!

Já a economia venezuelana depende totalmente de um único produto: exportação de petróleo. Bem parecido com a economia brasileira até a década de 1950, em que as exportações de café bancavam as importações de alimentos.

Em 2007, quando lá estive, a Venezuela importava volumes imensos e regulares de leite em pó da mineira Itambé, por meio de frete aéreo. Imagine a que custo o leite chegava lá. Para torná-lo acessível o Governo é quem importava e subsidiava o preço ao consumidor, distribuindo pela rede capilar de supermercados da PDVSA, a sua poderosa estatal de petróleo.

Chegamos na Venezuela para discutir parcerias e fomos recebidos pelo ministro do Petróleo. Ele era poderoso, porque tinha o dinheiro que iria bancar o projeto de criação da moderna agricultura venezuelana. Mas, no meio da reunião, ele recebeu uma ligação telefônica e ficou muito sério. E, ao desligar, disse que a reunião estava suspensa e que teríamos uma surpresa! Nada mais foi dito.

Fomos convidados a entrar numa van, sem saber o destino. A van parou na entrada de uma construção antiga e portentosa. Ninguém nos disse o que iríamos fazer ali. Para nossa surpresa, fomos levados ao gabinete de trabalho do Presidente Chaves. Ele queria conversar conosco. E ali ficamos por cerca de três horas. Saí de lá com a impressão de que Chaves era um visionário, mas infeliz. Com medo de sofrer atentados, vivia num verdadeiro cofre, sem janelas, em que ele era a riqueza a ser protegida.

Eu me lembrei de Chaves e seu cofre na noite do último 28 de fevereiro. Convidado pela Neogen para proferir palestra em São Paulo, fui orientado a me encontrar no saguão do hotel com outras pessoas para ter uma surpresa. Fomos convidados a entrar numa van, sem saber o destino. Saímos da região nobre da cidade e fomos levados para o centro de São Paulo, à noite. Um lugar não recomendável!

A van parou na entrada de uma construção antiga e portentosa. Ninguém nos disse o que iríamos fazer ali. Fomos levados a um subsolo. Cada vez mais, me lembrava do encontro com o Presidente Chaves. Mas, que surpresa a Neogen nos guardava?

Eis que descobrimos que estávamos dentro do cofre do antigo Banespa, o lendário Banco do Estado de São Paulo, tão importante para a história do agro brasileiro. Na sua origem, os barões do café guardavam seu dinheiro ali, naquele cofre. E, o Governo de São Paulo, suas reservas. E o que fomos fazer ali?

Pois, eu custei a entender que era ali que eu iria proferir a palestra. Naquele cofre histórico, eu deveria revelar alguns segredos quanto ao futuro que está chegando. E novamente lembrei-me do Chaves, que vivia aprisionado num verdadeiro cofre. Já eu, estava num cofre verdadeiro, mas com a liberdade de me expressar e interagir com os presentes.

Interação! Esse foi o segredo revelado naquela noite. De modo inesperado e audacioso, a Neogen, criou um ambiente muito apropriado para que professores e pesquisadores, técnicos de empresas e o seu time praticassem a interação, requisito fundamental em ecossistemas de inovação. E isso foi só o prenúncio do que viria no dia seguinte: o I Simpósio Internacional Neogen Food Safety.

 

*Paulo do Carmo Martins é Economista, com Mestrado e Doutorado em Economia Aplicada. Pesquisador da Embrapa, foi Chefe-Geral da Embrapa Gado de Leite e Secretário Executivo da Câmara Setorial do Leite e Derivados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (2004 a 2008).

 

Fonte: Revista Balde Branco

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