Cuidados antes e após o parto podem evitar problemas
26 de abril, 2021
Os cuidados com a vaca e a cria antes do parto são extremamente importantes, uma vez que qualquer problema na hora do nascimento pode comprometer o desempenho produtivo de ambos.
Para a intensificação nos cuidados, é ideal que sejam formados lotes de vacas em final de gestação, o lote de transição pré-parto, onde se encontram animais de 90 a 30 dias antes do parto. Dos 30 dias ao parto, transferi-las para um piquete maternidade permite uma maior observação.
O PIQUETE MATERNIDADE
Deve possuir uma boa cobertura vegetal, ser fresco e ventilado, limpo, com boa drenagem e sombreamento. São indicadas sombras móveis para se evitar acúmulo de barro, fezes e urina, principalmente visando à prevenção de mastites e metrites. Deve haver pelo menos 4 m2 de sombra por animal.
A localização deve facilitar a observação dos sinais do parto, ter acesso à água e alimentação à vontade. As medidas recomendadas são de 56 m2/animal, com um espaço de cocho de 70 cm/animal.
Sinais de proximidade do parto:
- 2 a 3 semanas antes do parto - ocorre aumento do úbere. Em primíparas, isto pode acontecer um pouco mais cedo.
- 2 a 3 dias antes do parto - os tetos se enchem e perdem a rugosidade. Ocorre relaxamento dos ligamentos e músculos da pelve (flanco) e da cauda.
- Próximo ao parto - ocorre liberação de muco viscoso pela vagina. A vulva fica edemaciada. Ocorre produção e liberação de colostro.
ESTÁGIOS ANTES DO PARTO
Estágio 1 – No início do trabalho de parto, o animal fica agitado e inquieto, se afasta do grupo, fica tentando cheirar e lamber a vulva, se deita e se levanta diversas vezes, não come. Estes sinais podem durar de 2 a 6 horas.
Estágio 2 – Ocorre o rompimento da bolsa de água. Depois de aproximadamente 1 hora, ocorre o rompimento da segunda bolsa (amniótica). Ela libera um líquido mais viscoso que lubrifica o canal do parto. Logo que se rompe a bolsa de água, o útero já começa a contrair e o feto se insinua no canal, promovendo a dilação do mesmo. Após 2 horas da ruptura da bolsa, já é possível ver o feto em pluríparas, e em primíparas normalmente após 4 h.
Estágio 3 – Momento do nascimento à expulsão dos restos placentários. Pode variar de 30 min até 12 horas após o parto.
PROBLEMAS NO PARTO
Analisando fazendas nos EUA, pesquisadores chegaram à conclusão que 2% das mortes de bezerros no útero estavam associadas ao parto demorado e à falta de assistência. Outros 2% morreram pelos mesmos motivos na primeira semana de vida.
A maioria das mortes está associada às distocias (partos difíceis). Por isso, sem dúvida, é preciso que o responsável pela maternidade esteja preparado para monitorar os partos, e caso seja necessário, intervir até certo ponto. A intervenção deve ser considerada quando o parto não ocorreu 60 a 90 min após o aparecimento das membranas fetais em novilhas e, em vacas, de 30 a 60 min após o aparecimento das membranas fetais.
Em posição normal, o bezerro projeta primeiro as patas dianteiras acompanhadas pela cabeça (com o focinho voltado para fora) apoiada nas patas.
Outras posições podem acontecer e cabe à experiência do técnico para identificar e intervir. Mas, qualquer intervenção pode causar injúrias na vaca e no bezerro. Nunca se deve tentar romper as bolsas. É preciso checar todos os parâmetros vitais para intervenção e, caso seja preciso, optar por uma cesariana.
CUIDADOS APÓS O PARTO
Vacas
A utilização de soluções eletrolíticas, chamadas drench, é uma forma de se antecipar aos efeitos provocados pela queda de apetite no período pós-parto; e, consequentemente, das doenças metabólicas provocadas pela diferença entre necessidades e consumo (balanço energético negativo).
Observe se o animal irá expulsar em até 12 horas os restos placentários. Caso isso não ocorra, adote medidas contra os efeitos da retenção de placenta.
Este período, crítico para as vacas, é um momento em que ocorrem diversas alterações fisiológicas e metabólicas. Qualquer problema aqui pode impactar na produção deste animal nesta lactação e nas seguintes.
Bezerros
Logo após o parto, o bezerro passa por alterações para que possa se adaptar à vida fora do útero. É importante remover todo muco da narina e da boca do bezerro. Se necessário, estimule a respiração, fazendo cócegas na narina e massagem torácica.
Neste momento, ele ainda não é eficiente na regulação da temperatura corporal e sua temperatura diminui nas primeiras 12h de vida. Assim, é recomendado secar o bezerro após o parto. Se as condições forem propícias, com ingestão de colostro, boa cobertura vegetal no piquete e ambiente favorável, entre 48 a 72h de vida sua temperatura estará normal.
Em condições normais os bezerros levam em média 3 minutos para posicionar a cabeça corretamente, 5 minutos para assumirem a posição esternal. Em até 20 minutos após o parto, já tentam ficar em pé e em cerca de 60 minutos já estão de pé, procurando a teta da vaca.
OUTROS CUIDADOS
Duas ações básicas contribuem muito com a sobrevivência do bezerro.
1) Cura de umbigo:
O umbigo é como uma porta aberta ao organismo do animal. Veia umbilical, artéria umbilical e úraco estão diretamente em contato com o ambiente e serão via de transporte direta de microorganismos para circulação animal e podem promover infecções em diferentes sistemas.
Para uma proteção adequada, a curo do umbigo deve ser feita da seguinte forma:
- O ideal é não cortar. Fazê-lo somente nos casos em que o umbigo estiver muito grande e arrastando no chão
- Mergulhar o coto umbilical em uma solução de iodo de concentração entre 7% a 10% durante 10 segundos. Repetir por pelo menos 3 dias.
2) Fornecimento do colostro:
- Fornecer colostro para o bezerro nas 6 primeiras horas de vida é de extrema importância. Após este período, a taxa de absorção diminui muito. Toda a proteção do bezerro durante as primeiras duas semanas de vida será promovida pelos anticorpos absorvidos do colostro. Como o contato com os agentes patogênicos muitas vezes acontece antes mesmo do contato com o colostro, é essencial garantir uma boa colostragem.
- O colostro, além das imunoglobulinas, é também fonte energia, de fatores de crescimento e de muitos outros nutrientes importantes para sobrevivência do bezerro.
- Para cada raça animal existe uma quantidade sugerida de colostro a ser oferecida. Em média os pesquisadores acreditam que 4 litros de um colostro de boa qualidade sejam capazes de suprir as necessidades do bezerro.
- Observar se o animal conseguiu mamar o colostro é muito importante, mas sem dúvida a forma mais fácil de garantir que o bezerro foi bem colostrado, em termos de quantidade ingerida e qualidade do colostro, é oferecer via mamadeira ou através de sonda esofágica. Para utilizar a sonda, o conhecimento para tal é primordial.
Após todos os cuidados, é preciso identificar os bezerros e direcioná-los ao bezerreiro. Todo investimento em cuidados com a vaca e a cria antes, durante e após o parto irá refletir na produção das vacas e na sobrevivência dos bezerros.
Referências:
COELHO, S. G., CARVALHO, A. U. Criação de animais jovens. In: Do campus para o campo: tecnologias para a produção de leite. Fortaleza Expressão Gráfica Editora. 2006, 320 p.
COELHO, S. G. Criação de bezerros. II Simpósio Mineiro de Buiatria. Universidade Federal de Minas Gerais, 15p. 2005.
DAVIS CL & DRACKLEY JK. The development, nutrition, and management of young calf: Iowa: State University, 1998. 339p
DRACKLEY, J. K. Calf nutrition from birth to breeding. Veterinary Clinics Food Animal, v. 24, p. 55-86, 2008.
Fonte: Rehagro – Blog