O consumo de leite e a Copa do Mundo
15 de dezembro, 2022
Todo mundo associa Copa do Mundo com aumento de consumo de cervejas e televisores. Mas, outros produtos também têm sua demanda aumentada durante o período.
No caso dos aparelhos de televisão, a indústria se preparou com antecedência para um aumento do consumo. Dados da produção industrial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a produção de bens de consumo duráveis cresceu 16% sobre fevereiro de 2016. O aumento da produção da chamada linha marrom do setor de eletrodomésticos, que inclui televisores, aparelhos de som e similares, foi ainda maior, de 41% em fevereiro em relação ao mesmo mês do ano passado, indicando um setor realmente otimista em relação ao impacto da Copa nas vendas.
Estudo realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) aponta que 33% dos micro e pequenos empresários dos ramos do comércio e serviços estimam que as vendas aumentem no período dos jogos. No entanto, pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) revela que apenas 24% das pessoas têm intenções de consumo relacionadas ao Mundial de Futebol 2018. Cerca de 23% dos entrevistados deve gastar até R$ 100,00; outros 22% até R$ 200,00; mas a maioria (41%) pretende gastar mais de R$ 300,00. Neste âmbito, os produtos mais procurados pelos consumidores são itens de vestuário masculino, feminino e infantil (9,4%), alimentos e bebidas (8,2%) e aparelhos televisores (7,4%). Além disso, quase 70% dos consumidores afirmaram que pretendem assistir aos jogos em casa, contra 17% que pretendem frequentar bares e restaurantes.
De acordo com a consultoria TNS, as categorias de alimentos que devem ter melhor desempenho de vendas durante os jogos da Copa do Mundo são: pipocas (expectativa de crescimento de consumo de 58%), salgadinhos (49%), pizzas (36%) e lanches do tipo snacks, como por exemplo, batatas fritas industrializadas e amendoim (33). Dentre as bebidas, os refrigerantes se destacam com 62% de intenção de consumo, seguido por sucos (52%), água (48%) e cervejas (44%).
O fato de nenhuma das pesquisas apresentadas anteriormente ter mencionado o leite e seus derivados pode ser explicado por estes não serem produtos diretamente relacionados ao Mundial. No entanto, dados históricos mostram que, pelo menos nas últimas cinco copas do mundo, o consumo de leite e derivados cresceu no País.
Pela Figura 1, observa-se que o crescimento do consumo foi maior na Copa de 2002 (7,7%), ano em que o País foi campeão e foi menor (0,7%) em 2014, ano do maior fiasco do Brasil nas copas. Taxas de crescimento significativas também foram verificadas em 2010 (5,4%) e em 2006 (3,7%).
Coincidência ou não, o fato é que a Copa do Mundo movimenta a economia brasileira, o que se reflete em setores que, como os lácteos, não estão diretamente ligados aos jogos. Isso pode ser explicado pelo modelo de Gains (1994), o qual mostra que o comportamento alimentar é determinado por três fatores: o alimento em si, o consumidor e o contexto ou situação em que o ato alimentar acontece (Figura 2).
Em síntese, o modelo de Gains afirma que as características do contexto do consumo (momento, estação do ano, lugar, acompanhantes, etc.) influenciam diretamente no consumo de alimentos. Neste sentido, o fato das pessoas se reunirem para assistir jogos durante a Copa do Mundo ou mesmo por passarem mais tempo em casa assistindo os jogos pela televisão, tem impacto positivo sobre o consumo de alimentos, de um modo geral. Neste ano, como a intenção da maioria das pessoas é assistir aos jogos em casa, comidinhas caseiras que envolvem leite e derivados como ingredientes acabam por ser consumidas.
Produtos caracterizados como snacks, como os queijos, por exemplo, também devem ter seu consumo ampliado no período. De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Queijos (Abiq), o consumo de queijos no País deve aumentar 2,5% este ano. Vale ressaltar que a Copa do Mundo aqui no Brasil coincide com o inverno e época de festividades juninas, fatores estes já relacionados com o incremento de consumo de queijos e derivados.
Por fim, é importante mencionar que os marqueteiros do setor estão perdendo uma ótima oportunidade de divulgar os benefícios do leite, assim como fez a Parmalat com a campanha Mamíferos na Copa de 1998. Estudos recentes mostram que o leite tem apresentado melhor desempenho como bebida esportiva recuperadora do que água e outras bebidas esportivas, por propiciar uma recuperação mais rápida e eficaz, além de um treino mais longo após o consumo de leite. Portanto, a Copa do Mundo seria uma ótima oportunidade de massificar essa informação para os consumidores, de forma a elevar o status do leite na cadeia alimentar e ampliar o consumo.
Então, quem disse que leite e Copa do Mundo não estão relacionados está um pouco enganado.
Escrito por: Kennya Siqueira
Fonte: Milkpoint