Qual dieta suas vacas comem?
29 de agosto, 2021
Os produtores de leite são continuamente desafiados a garantir que suas vacas tenham uma ingestão consistente e equilibrada de nutrientes, de modo a promover sua saúde, produtividade e eficiência produtiva.
Em teoria, uma dieta total é formulada para que os produtores tenham a certeza de que estão fornecendo uma alimentação bem balanceada aos seus animais. Mas, infelizmente, a dieta formulada não é a única dieta encontrada nas fazendas. Na realidade do dia-a-dia, normalmente, as fazendas acabam tendo “três dietas”: a dieta formulada no papel, a dieta oferecida às vacas e a dieta consumida por elas.
Diferenças drásticas observadas
À medida que a variabilidade entre essas "dietas” e a dieta formulada se torna maior, aumenta também a chance de que as vacas não tenham o desempenho esperado. Embora haja um entendimento geral de que as vacas nem sempre consomem a dieta exatamente como ela é formulada, uma pesquisa do professor Trevor Devries, da Universidade de Guelph (Canadá), identificou as possíveis consequências disso.
Nesse estudo, foram coletadas amostras de dietas preparadas e servidas em 22 fazendas com rebanhos confinados, por sete dias consecutivos, nos meses de inverno e verão. As análises dos nutrientes dessas amostras foram então comparadas com aquelas formuladas "no papel". De modo geral, as dietas servidas aos animais não representaram com precisão aquelas formuladas pelos nutricionistas.
Na média, as dietas servidas tinham energia, carboidratos não fibrosos, fibra em detergente ácido, cálcio, fósforo, magnésio e potássio em excesso. Por outro lado, proteína bruta, fibra em detergente neutro e sódio foram servidos em quantidade menor do que a projetada.
Teoricamente, a superalimentação pode não ser problemática, pois uma margem de segurança é geralmente incluída na formulação das dietas, a fim de se compensar eventuais diferenças na composição dos ingredientes. Houve, no entato, uma grande variação entre as fazendas, com algumas propriedades tendo experimentando - consistentemente - uma discrepância de 5 a 10 por cento para quase todos os nutrientes (tanto positiva quanto negativa), entre as dietas fornecida e formulada.
As características físicas variam muito
A pesquisa também investigou a consistência diária na composição física e química das dietas e como isto afetou a produtividade. A maior variabilidade foi observada para a quantidade de sobras, a distribuição do tamanho das partículas e o conteúdo mineral.
O oferecimento de uma dieta mais consistente para as vacas foi associado a uma maior produção. Por exemplo, maior consumo de matéria seca, mais produção de leite e eficiência produtiva foram todos associados a uma menor variabilidade diária no conteúdo energético da ração. Já, uma menor variabilidade na porcentagem de partículas longas de forragens foi associada a uma maior produção de leite e a mais eficiência produtiva.
É interessante notar que, em média, a variabilidade diária foi maior para as características físicas da dieta (tamanho das partículas) em relação à sua composição nutricional. Isto sugere que a variação diária pode ter sido causada pela variabilidade dos ingredientes e pela composição da matéria seca. Além disso, os erros de mistura provavelmente desempenharam um papel ainda maior.
De toda forma, essas descobertas sugerem que uma vigilância adicional na composição da dieta total, bem como nos ingredientes individuais, pode ser útil como parte regular de sua estratégia de alimentação. Além disso, esses dados reforçam a necessidade de protocolos e treinamento de alimentação padrão.
Digamos que a dieta seja acertada e devidamente servida conforme formulado. Isso não significa que as vacas comerão essa dieta. Está bem estabelecido que as vacas normalmente irão selecionar os grãos em detrimento dos componentes mais longos de forragens. Pesquisas anteriores já mostraram que essa seleção pode fazer com que as vacas, individualemte, consumam uma dieta inconsistente. Issto também coloca as vacas em risco de sofrer depressões no pH ruminal e de terãem uma produção de leite com menor percentual de gordura.
Seleção de alimentos mina sua dieta
No nível do rebanho, menos seleção dos alimentos concentrados, em detrimento da forragem, foi associada a uma maior produção (leite corrigido para gordura e energia), bem como uma maior eficiência produtiva. Desta forma, estratégias para reduzir a seleção de alimentos são imperativas. Embora existam várias abordagens para isso (mudar o comprimento das partículas de forragem, usar menos forragem seca, adicionar água à dieta seca), o trabalho do professor Devries mostrou a importância do manejo da alimentação na redução da seleção.
Por exemplo, servir a dieta total no mínimo duas vezes por dia, ao invés de somente uma vez, mostrou uma consistente redução na seleção de alimentos pelos lotes. Os benefícios de se fornecer a alimentação com mais frequência é não apenas fazer com que as vacas consumam uma dieta mais consistente, mas também que consumam essa dieta de uma maneira que promova melhor digestão ruminal.
Vacas alimentadas mais vezes geralmente têm “refeições” mais frequentes, menores e mais lentas ao longo do dia. Isso resulta em uma absorção mais consistente de nutrientes no rúmen - tanto em temos de frequência quanto de composição - além de melhor digestibilidade da fibra, eficiência ruminal e produção de gordura no leite. A pesquisa do professor Devries também mostrou que isso pode se traduzir em benefícios na produção, sendo que a alimentação duas vezes por dia - ao contrário de uma vez só - foi associada a uma produção de leite 6% maior.
Outra decisão de gerenciamento de cocho a se considerar é a taxa almejada de sobras. Uma maior seleção de alimentos é observada nos rebanhos alimentandos com maiores taxas de sobras. Basicamente, quanto mais comida for colocada na frente das vacas, maior será sua capacidade de selecionar os alimentos e ingerir o que desejam. Isso sugere que a alimentação com uma baixa taxa de sobras pode não apenas ter benefícios econômicos, associados com a redução do desperdício da comida, mas também pode promover o consumo de uma dieta mais próxima da pretendida.
Em um mundo ideal, os produtores devem ter como alvo a menor sobra possível, sem deixar vacas com o cocho vazio por um período significativo de tempo. Os pesquisadores demonstraram que, quando as vacas têm tempo limitado para acessar a alimentação ao longo do dia, elas modificam negativamente seus padrões de consumo, principalmente em situações de sobrelotação.
O estudo do professor Devries descobriu que uma redução de 10 cm no espaço de cocho por vaca (em uma faixa de 35 a 97 cm/vaca) estava associada à produção de leite com 0,06 pontos percentuais menos de gordura. Isso provavelmente se deve ao impacto que a competição no cocho tem sobre os padrões de alimentação das vacas.
No geral, é importante que as vacas leiteiras consumam a dieta correta; ou seja, aquela que é formulada para elas. Para se conseguir isso, a comida deve ser servida às vacas de forma consistente, sendo consumida à medida que é entregue e de uma maneira que seja boa para elas.
Fonte: Hoard`s Dairymen
Adaptado do artigo “What ration do your cows eat?”
Disponível em: https://hoards.com/article-13246-what-ration-do--your-cows-eat.html