Te vejo na Royal

Te vejo na Royal

01 de fevereiro, 2019

Por JOEY BAGG (Artigo publicado na na Revista Cowsmopolitan, edição de novembro/2011, traduzido por Marcelo P. Xavier)

 

Me parece difícil acreditar, mas – este ano – a Royal Winter Fair será a 56ª edição da exposição que vou participar. Apesar de provavelmente eu não ter contribuído muito enquanto criança – eu admito – nos primeiros 10 ou 15 anos, eu estava lá. Alguns “amigos” meus vão falar inclusive que eu não fiz muito nas últimas 40 edições da Royal também.

Meu primeiro trabalho era me certificar de que o cooler estava cheio de cerveja e gelo. Então, me encaminhar para catar esterco, para o lavador e, eventualmente, segurar algumas tosquiadeiras. Eu aspiro um dia estar encarregado da cerveja e do gelo novamente!

É muito difícil para nós expositores levarmos nossos animais para a Royal Winter Fair. Nos custa muito dinheiro, nos sacrifica bastante e nossos familiares – de quem dependemos – nem sempre nos entendem ou compartilham do nosso entusiasmo. Levamos o ano todo nos preparando. Trabalhamos duro, desde o mês de novembro1 anterior, de modo a deixar tudo pronto para a exposição. Emprenhar as vacas novamente e fazê-las parir bem, mantê-las saudáveis, alimentá-las cuidadosamente e viajar – visitando bezerreiros e currais – procurando animais com potencial para o show.

Para estarem na Royal, em Toronto, aquelas grandes vacas são transportadas por centenas – ou até – milhares de milhas. Quando chegam, a agitação é muito cansativa. Nós trabalhamos de maneira incrivelmente dura, não dormimos e estamos muito ocupados para comer. Para deixarmos aquelas vacas prontas para o julgamento, nós nos dedicamos muito e damos tudo que temos. Nossa adrenalina sempre alta, coração e emoção! Apesar de eu mesmo nunca ter visto, me falaram que alguns indivíduos também fazem festa. No pavilhão da exposição, tudo está acontecendo tão rápido. É como se estivéssemos tentando espremer um ano inteiro de vida em apenas alguns dias. Porque fazemos isto?

Nós fazemos isto porque nós amamos grandes vacas e nós amamos trabalhar com elas. É a nossa paixão! Nós temos sorte, porque aqueles que tem paixão tiram mais da vida. Nós trabalhamos mais duro, rimos mais, nos sentimos inspirados, vemos as recompensas do otimismo determinado e da paciência e mantemos nossa família e amigos próximos. Somos abençoados, porque aquelas grandes vacas nos fazem pessoas melhores.

Ao longo dos anos, eu tive o privilégio de trabalhar com grandes criadores e preparadores. Com meu pai Norm Bagg, nos primeiros tempos, na Fazenda Edgelea; com Jack Savage e Don Hendrickson na Gaymar; com Lorne Ella, na Rock Ella; com Roger Ray e Diane Jarrell-Ray, na Hollylane; e – nas duas últimas décadas ou mais, é claro – com Steve Borland e meus outros amigos da Rapid Bay.

A Royal Winter Fair é nossa “grande dança” – a Stanley Cup2, a World Series3 e o Kentucky Derby4 das exposições de gado de leite. Para muitos de nós, o pavilhão das vacas na Royal é solo sagrado. Apenas pense em todas as grandes vacas que ficaram expostas ali e passaram por aqueles corredores durante os anos.

Apesar de olharmos com admiração para as campeãs do passado, nós ficamos sempre impressionados em ver como as vacas estão sempre melhorando. Quão incrivelmente bom você tem que ser para vencer e quão difícil é conseguir manter uma sequência de campeonatos. É difícil chegar ao topo e ainda mais difícil de se manter lá. Assim mesmo que deve ser. É este desafio que torna a exposição especial e tão almejada por todos. Por décadas, eu tenho ouvido alguns predizerem que as exposições estavam ficando obsoletas e caminhando para o fim. Eu não penso assim! Depois de todos esses anos, a exposição de gado de leite na Royal continua forte, mais competitiva e com mais prestígio do que nunca.

 Infelizmente, mesmo as vacas show não duram para sempre. É isto que nos faz estar sempre procurando pela próxima “grande vaca exclusiva”. Mas, o amor e a paixão por aquelas vacas nos une como amigos e família – isto é eterno!

Esses amigos vêm de muitos lugares – do Canadá, dos Estados Unidos e, também, do Reino Unido, Brasil, Colômbia e de todo o mundo. Nós temos algo em comum. Apesar de estarmos separados pela distância e de, alguns, só vermos por alguns dias todos os anos, nós ainda os contamos entre os amigos mais próximos. Na manhã do julgamento, nós sentimos a tensão juntos e passamos a garrafa de uísque, como soldados antes de uma batalha. É na Royal, com esses amigos, que dividimos alguns de nossos maiores desapontamentos, mas também celebramos nossos maiores triunfos pessoais.

É mais ou menos como na fabulosa vila escocesa de Brigadoon6. Todos os anos, por alguns dias, nos tornamos vivos e temos a oportunidade de estar com as pessoas que realmente “nos pertencem”. Nós vivemos de maneira intensa, nos sentimos apaixonados, saboreamos cada momento e isto nos sustenta até o próximo ano.

Nós todos tivemos nossos mentores – os veteranos experientes da “velha guarda” que nos ensinaram o que a gente sabe, nos incentivaram a fazer sempre o nosso melhor, nos deram humildade e nos trouxeram até aqui. Muitos não estão mais conosco. Para mim, estes incluem jersistas icônicos como Bill Featherstone, Jack Savage, Sean McMahon e Norm Bagg. Quando estamos na Royal, no calor da batalha, indo para a pista de julgamento ou voltando ao pavilhão para deixar a próxima vaca pronta, esses mentores do passado ainda estão conosco. Nós podemos sentir sua presença. Eles ainda estão nos vendo, comemorando e nos inspirando.

Aparentemente, a paixão pelo show na Royal está em nosso DNA. Nós fomos selecionados geneticamente. Nós herdamos isto dos nossos pais e avós e passamos para nossos filhos e netos. Isto se estende através dos anos e das gerações. Meu pai esteve na primeira Royal aos 7 anos de idade, em 1922, com seu pai, tios, avô e suas jersinhas. Ele participou de cada Royal por 80 anos. Eu não acho que tenha existido outra pessoa com um caso mais grave de “febre da Royal”, à medida que o mês de novembro se aproximava.

Muitos e muitos de nós lutamos não apenas pelo nosso sucesso, mas para manter um legado vivo para nossa família e para a nossa fazenda. Juntos, como famílias, nós trabalhamos pesado e jogamos duro. Isto nos aproxima e define quem nós somos. Alguns são afortunados de ter achado sua “cara metade” na própria Royal. Adolescentes sentem o primeiro gostinho da Royal na Competição Clássica 4-H5 e se tornam viciados na experiência. Alguns tem grandes criadores e criadoras em ambos os lados do seu pedigree. Assim como nós, muitos de nossos pais estiveram lá como competidores e amigos, apresentando vacas na Royal, um quarto de século atrás. Nossos avós – e até bisavós – estiveram lá, juntos, há meio século atrás. Compartilhar essa conexão que existe lá atrás em nossos próprios pedigrees é um sentimento único e incrível.

Então, o que nos leva nessa grande peregrinação até a Royal Winter Fair, no centro de Toronto, ano após ano? Sem sombra de dúvida que é a nossa paixão pelas grandes vacas e também por estar com amigos que compartilham essa paixão conosco. Nós sabemos que o que acontece na Royal se torna parte da história e nós estaremos lá para ser parte disso mais uma vez, para saborear o momento.

Vejo vocês em novembro!

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Notas do tradutor:

1 – A Royal Winter Fair, principal exposição de gado de leite no Canadá, acontece todos os anos no mês de novembro, na cidade de Toronto.

2 – A “Stanley Cup” é a final do campeonato mundial de Hockey no Gelo, esporte muito popular no Canadá.

3 – A “Word Series” é a final do campeonato mundial de Baseball, esporte muito popular na América do Norte.

4 – O “Kentucky Derby” é a corrida de cavalos mais importante do mundo do turfe.

5 – As Competições 4-H representam o início da participação de jovens criadores nas exposições da América do Norte.

6 – A lenda de Brigadoon é a história de uma aldeia mítica nas Terras Altas da Escócia. A vila tornou-se encantada há séculos, permanecendo inalterada e invisível para o mundo exterior, exceto por um dia especial a cada cem anos, quando podia ser vista e até visitada por estranhos. 

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