Gabriel Augusto Marques Rossi
Médico Veterinário - Professor Dr. Unesp/Jaboticabal
gabrielrossiveterinario@gmail.com
Etapas de higienização por sistema Clean in Place (CIP) e latão ao pé
14 de setembro, 2022
A qualidade do leite depende de vários fatores dentro da cadeia produtiva do leite, desde a fazenda até os laticínios. Entre eles está a correta higienização dos equipamentos, como as ordenhadeiras mecânicas, já que o leite entra em contato direto com partes desse equipamento, como por exemplo, teteiras, o copo coletor, a tubulação de leite e a unidade final. Além disso, pode atuar na transmissão da mastite contagiosa, caso não seja feita a limpeza correta.
As ordenhadeiras mecânicas exercem papel fundamental no setor leiteiro, em especial o sistema Clean in Place (CIP), cuja função é realizar a limpeza das tubulações em nível automatizado, assegurando maior agilidade no processo de higienização.
Hoje, no canal do leite, iremos abordar sobre a higienização das ordenhadeiras mecânicas e os possíveis fatores que interferem na eficácia do processo.
Primeiramente, a limpeza das tubulações deve começar imediatamente após ordenha, aproveitando que o sistema está aquecido, facilitando a retirada dos resíduos. Depois de desacoplar a tubulação de leite do tanque de expansão, é necessária a limpeza manual externa, para assim, conectar ao circuito de limpeza.
Na etapa de enxágue inicial, a água passará pela tubulação em uma temperatura de 35 a 45ºC facilitando a retirada dos sólidos e auxiliando na manutenção da temperatura para os próximos ciclos. Lembrando que a água não deve ser reutilizada e a quantidade deve ser necessária até que saia limpa pelas tubulações.
A etapa de limpeza com detergente alcalino clorado tem como principal objetivo a remoção da gordura e proteínas. O detergente também tem o poder de ação de adentrar as moléculas dos resíduos, facilitando sua remoção. O tempo varia de 8 a 10 minutos em uma temperatura de 70 a 75ºC no início do ciclo e no final da tubulação a uma temperatura de 40ºC. Deve-se atentar a alcalinidade de 250 a 500 ppm de óxido de sódio e compostos clorados de 75 a 200 ppm de hipoclorito de sódio. São valores que devem ser considerados para que não prejudiquem a eficácia da higienização.
A terceira etapa é a limpeza com detergente ácido, cuja função é remover resíduos minerais. A ação do detergente dependerá do produto, podendo ser diária ou 2 até 3 vezes semanais. Na diária, tem que ter duração de 5 minutos em temperatura ambiente. Nas semanais, tem tempo de ação de 10 minutos. Nos dois modos, a concentração é aquela recomendada pelo rótulo do produto. Ainda, o detergente tem que ter um pH menor que 3,5 para garantir eficiência no processo.
A última etapa é a de desinfecção, a qual reduz as populações de microrganismos patogênicos. Os produtos preferencialmente utilizados são hipoclorito de cálcio ou hipoclorito de sódio. Deve conter de 100 a 200 ppm de cloro agindo em temperatura ambiente por cerca de 5 minutos. Dessa forma, está pronta para a próxima ordenha.
Falando-se a respeito do sistema de latão ao pé, onde tem as teteiras, mangueiras, latão, eles são higienizados separadamente com a ajuda de escovas especiais e manualmente. Há enxágue inicial com água à 38 a 43ºC com a teteira em sistema a vácuo. Após isso, desliga o vácuo e começa a enxaguar o restante das superfícies. Depois parte para a limpeza com detergente alcalino, a qual incorporará todos os materiais desmontados em solução alcalina na temperatura de 50ºC. Posteriormente, com uma escova de teteira, faz-se uma força de atrito nos equipamentos para remover completamente a matéria orgânica. Por último, ocorre a limpeza com detergente ácido, em uma temperatura de 35 a 43ºC com duração de 5 minutos, a qual é recomendada diariamente.
Se após todas as fases de higienização, ainda assim, não obter sucesso, alguns fatores devem ser analisados como a temperatura da água em cada fase, o volume de água total para limpeza correta das tubulações, velocidade ou turbulência inadequada, concentrações inadequadas dos detergentes e início tardio da limpeza.
Dessa forma, respeitando cada fase de limpeza, contribui-se para a entrega de qualidade do leite do produtor ao laticínio.
Autores:
Lívia Pasolini Siqueira e Ana Luiza Cabral Castro – Membros da Liga Acadêmica de Tecnologia, Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal (LATHIPOA), Universidade Vila Velha (UVV)
Prof. Dr. Gabriel Augusto Marques Rossi – Professor Orientador da LATHIPOA/UVV
Referências:
MEDONÇA, L.C.; GUIMARÃES, A. de S.; BRITO, M. A. V. de P. Higienização do equipamento de ordenha mecânica. Comunicado técnico, 64. 1ª edição. Minas Gerais, Juiz de Fora: Embrapa, jul de 2012. Disponível em: COT-64-Higienizacao-do-equipamento-de-ordenha-mecanica-Leticia-Mendonca-n-64.pdf (embrapa.br). Acesso em 16 de set de 2022.
DIAS, J. A.; BELOTI, V.; OLIVEIRA, A. M. de. Ordenha e boas práticas de produção. In: SALMAN, A. K. D.; PFEIFER, L. F. M. (Ed.). Pecuária leiteira na Amazônia. Brasília, DF: Embrapa, 2020. Cap. 6, p. 123-129. Disponível em: https://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/217359/1/cpafro-18460.pdf. Acesso em 12 de set de 2022.
SANTOS, M. V.; DA FONSECA, L. F. L. Controle da mastite e qualidade do leite: desafios e soluções. 1ª edição. Pirassununga: Edição dos Autores, 2019. p. 295-301.