João Ricardo Alves Pereira
Zootecnista, Doutor em Nutrição Animal e Pastagens
jricardouepg@uol.com.br
A importância do tamanho de partículas da dieta total
08 de julho, 2020
Escrito por Dr. João Ricardo Alves Pereira*
O tamanho de partícula da forragem colhida, na forma de feno, silagens ou mesmo corte direto, bem como na dieta total misturada (TMR) afetam a saúde e a produção dos ruminantes, principalmente da vaca leiteira. O tamanho adequado da partícula forrageira é essencial para estimulação da atividade de mastigação e da produção de saliva que, por sua vez, é essencial para manter um ótimo ambiente ruminal, ajudando no controle do pH (acidez), para facilitar a ação dos microrganismos, que são responsáveis por grande parte do processo de digestão.
As dietas com pouca fibra ou tamanho de partícula menor diminuirão a atividade de mastigação, a secreção de saliva e, em última análise, o pH do rúmen, tendo como consequência a menor porcentagem de gordura do leite e até mesmo distúrbios metabólicos, como a acidose ruminal. Por outro lado, o aumento do tamanho da partícula da forragem pode diminuir a ingestão de alimentos devido ao efeito de “enchimento do rúmen”, além de permitir a seleção de alimentos pelos animais durante o consumo, promovendo maiores perdas (sobras) e o desbalanço da dieta consumida.
Na grande maioria das dietas utilizadas no Brasil a silagem de milho é principal fonte de fibra, e o gerenciamento do tamanho de partícula começa na colheita das forragens, já que o tamanho de partículas é muito pouco afetado após o processo de fermentação da silagem.
As diferenças nas características de projeto, manutenção e operação tornam praticamente impossível recomendar um padrão teórico de corte para todas máquinas forrageiras. Para garantir que o tamanho de partículas das forragens atendam às recomendações técnicas, as amostras devem ser coletadas e avaliadas durante a colheita, por isso é essencial a interação entre o nutricionista, técnico conhecedor dos recursos da máquina forrageira e o operador dessa máquina. Algumas observações práticas durante a colheita podem indicar a necessidade de ajustes rápidos na forrageira para melhorar a qualidade da forragem colhida.
A metodologia padrão recomendada para avaliação do tamanho das partículas é o Separador de Partículas Penn State (“Penn State Box”), desenvolvido pela Pennsylvania State University (foto acima). Trata-se de um conjunto de bandejas perfuradas com malhas de diâmetros diferentes, dispostas umas sobre as outras. A superior tem orifícios de 19 mm; a segunda, de 8 mm; a terceira, de 4 mm; e a bandeja inferior não tem aberturas (fundo). A recomendação atual para a distribuição adequada de tamanhos de partículas para a silagem de milho e silagens pré secadas é mostrada na tabela abaixo.
Tabela: Recomendações de tamanho de partículas
Embora o tamanho da forragem seja definido principalmente na sua colheita, deve-se ter atenção adicional ao processo de mistura da dieta, pois pode resultar em alterações sobre o tamanho e a uniformidade das partículas da dieta. De modo geral, os misturadores TMR podem ser categorizados como verticais ou horizontais com diferentes configurações e modelos dentro de cada uma dessas categorias.
Em uma avaliação do equipamento de mistura vertical e horizontal realizada em fazendas nos Estados Unidos, observou-se que a diferença é pequena entre os dois tipos de misturadores quando usados corretamente1.
Embora alguma redução no tamanho de partícula ocorra durante a mistura a uniformidade da mistura é o fator mais importante. Para uma mistura adequada no “trânsito dos alimentos” dentro do mixer durante a recirculação deve ser livre, evitando-se “pontos cegos” onde se tem a concentração de determinados alimentos. Embora a maioria dos misturadores tenha sido projetada para isso, alguns modelos são limitados em sua capacidade de redução (caixa redutora) em transmitir a rotação necessária para um bom processo de mistura. Na prática um bom mixer deve permitir que a carga dos alimentos possa ser feita com o trator desligado e facilmente acionado mesmo depois da carga completa, permitindo que o tempo desejado de mistura não comprometa o tamanho das partículas e/ou a qualidade da mistura.
Da mesma forma das silagens, a metodologia padrão recomendada para avaliação do tamanho das partículas da mistura é o Separador de Partículas Penn State (“Penn State Box”). Para isso devem ser coletadas em torno de 05 a 07 amostras em diferentes pontos na “linha de trato”, e as porcentagens retidas nas peneiras seriam a seguintes:
Na avaliação das dietas, quantidades crescentes de forragem acima do recomendado na peneira de 19mm (2 a 8%) indicam a possibilidade de segregação pelos animais durante o consumo, implicando em sobras e seleção dos alimentos consumidos (desbalanço). Maiores quantidades na peneira de 4mm e mesmo no fundo podem indicar que a dieta está sendo muito repicada e/ou uma granulometria muita fina dos alimentos concentrados. Nesse caso, além dos ajustes no procedimento da mistura, deve-se ter atenção especial do nutricionista para possíveis riscos de acidose ruminal, indicada pelo menor teor de gordura do leite e mesmo a presença de animais com laminite (inflamação dos cascos). Contudo, cabe lembrar que carboidratos rapidamente fermentáveis no rúmen (amido) podem ter efeitos ainda maiores sobre a variação no pH rúminal do que o tamanho de partículas da dieta sozinho,
Na formulação de dietas, os nutricionistas devem estar atentos a essas recomendações e entender que fatores como a ordem de carga dos alimentos, a capacidade de redução da caixa do mixer e o tempo de mistura são fundamentais para o maior consumo da dieta formulada e, dessa maneira, se maximizar o desempenho animal.
Referência:
1 - Rippel, C.M., E.R. Jordan, and S.R. Stokes. 1998. Evaluation of particle size distribution and ration uniformity in total mixed rations fed in North-central Texas. Prof. Anim. Sci. 14:44-50
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*Dr. João Ricardo Alves Pereira - Professor Adjunto da Universidade Estadual de Ponta Grossa, possui graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Mestrado em Nutrição Animal e Pastagens pela ESALQ/USP e Doutorado em Zootecnia pela UNESP/Jaboticabal. É palestrante e consultor de empresas nas áreas de conservação de forragens e nutrição animal, ganhador do Prêmio Impacto 2012 Milkpoint, técnico do ano no Troféu Agroleite 2016.