João Ricardo Alves Pereira
Zootecnista, Doutor em Nutrição Animal e Pastagens
jricardouepg@uol.com.br
A terceirização dos serviços de colheita do milho para silagem
23 de junho, 2021
Escrito pelo Prof. Dr. João Ricardo Alves Pereira* (Universidade Estadual de Ponta Grossa-PR)
Durante as últimas décadas houve um intenso crescimento na demanda pela mecanização e automação em todas as fases do processo produtivo, sempre com a utilização de tecnologias avançadas. Um dos grandes desafios de toda propriedade agropecuária, principalmente aquelas com pequenas extensões de terra, é a ociosidade ou a desatualização de suas máquinas agrícolas.
Para evitar o custo de adquirir uma nova máquina, custos operacionais, trabalhador capacitado para operar, entre outros, o produtor tem visto na contratação de serviços uma opção viável. Neste caso, investir menos pode ser ganhar mais. O processo de terceirização de máquinas e serviços não é necessariamente uma novidade, tanto que vários produtores já alugam seus tratores e colheitadeiras para vizinhos, nos mais diversos tipos de parcerias, porém sem contrato.
Atualmente, impulsionada pelo significativo crescimento da pecuária bovina de leite e carne, a terceirização de serviços, principalmente de colheita de forragens, vem se tornando uma prática cada vez mais comum em diferentes regiões do Brasil. Um levantamento realizado na região Centro Oriental do Paraná e Sul de São Paulo junto as cooperativas Frísia, Capal e Castrolanda demonstra aumento significativo nos serviços de terceirização da colheita do milho para produção de silagem entre os anos de 2016 a 2019, conforme pode ser observado na figura 01.No Rio Grande do Sul, em trabalho realizado pela Vitalle Consultoria na safra 2019/20 em 42 propriedades, constatou-se que 72% das colheitas foram terceirizadas.
Cabe ressaltar que a terceirização na produção de forragem conservada não está associada somente às forrageiras autopropelidas, e sim a toda forma trabalho que envolva pagamento em espécie e/ou troca por serviços pelo uso de maquinas, equipamentos e veículos nas etapas de produção e colheita de forragem destinada à conservação. Enquanto a avaliação no Rio Grande do Sul mostrou que 53% da colheita era realizada com máquinas tracionadas, as avaliações no Paraná e sul de São Paulo mostraram um predomínio crescente das colhedoras automotrizes (Figura 2).
Independentemente do tipo de máquina (tracionada ou automotriz) é fundamental que o produtor fique atento a qualidade da silagem que está sendo feita, uma vez que a digestibilidade do amido está diretamente ligada ao grau de processamento do grão de milho durante a colheita. A maneira mais precisa de se quantificar o efetivo processamento de grãos na silagem de milho é por meio da determinação, em laboratório, do índice de KPS (Kernel Processing Score). Por meio de um conjunto vibratório de peneiras são considerados processados os pedaços de grãos que passam na malha de 4,75 mm, que corresponderia a quebra do grão no mínimo em quatro partes. O valor encontrado permite classificar o processamento em três faixas:
Processamento |
Valor de KPS |
Excelente |
Maior que 70 % |
Bom |
50 a 69 % |
Ruim |
Menor que 50% |
O resultado de uma análise de KPS será um bom indicativo do desempenho produtivo dos animais durante todo o período de fornecimento daquela silagem.
Contudo, terceirizar a colheita não é transferir a responsabilidade sobre ela, o produtor deve estar atento desde a escolha de quem irá fazer a silagem (recursos e equipamentos para colheita), monitoramento do corte e compactação da mesma.
O processamento dos grãos deve ser monitorado por uma pessoa treinada durante todo processo de colheita, pois pode haver variações na eficiência de quebra de grãos entre talhões da lavoura, estágio de desenvolvimento da planta, velocidade de colheita e, principalmente, no tamanho do picado da forragem, fazendo com que ajustes nos processadores das colhedoras (cracker ou quebra grãos) sejam feitos com frequência.
Uma maneira simples muito prática para auxiliar no monitoramento do processamento de grãos é tomar amostras durante a descarga da forragem colhida no silo utilizando-se um copo de 01 litro de volume (figura 4). A amostra deve ser espalhada sobre uma superfície limpa e seca e separados todos os grãos inteiros ou com tamanho superior a pouco mais de sua metade, certificando-se que não foram quebrados e que os pedaços estão unidos apenas pela película do grão. O ideal é que não sejam encontrados mais que dois grãos inteiros ou maiores que meio (tolerável até três ou quatro). Se observados em duas ou três avaliações subsequentes o operador da colhedora deve ser imediatamente informado para os devidos ajustes na máquina.
Figura 4. Copo de 01 litro para monitoramento do processamento de grãos durante a colheita do milho para silagem.
Ao contratar serviços terceirizados, o produtor terá economia de recursos em novas aquisições e manutenção de máquinas, muitas vezes subutilizadas, e passa a contar com trabalho especializado o que permite focar a sua atenção e recursos a outros setores da atividade. Contudo, ele deve estar continuamente atualizado para implementar ferramentas e processos de monitoramento da qualidade forragem colhida; para isso é vital investir no treinamento de funcionários para a execução de procedimentos simples mas fundamentais para garantia da qualidade da silagem produzida.
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*Dr. João Ricardo Alves Pereira – Professor Adjunto da Universidade Estadual de Ponta Grossa, possui graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Mestrado em Nutrição Animal e Pastagens pela ESALQ/USP e Doutorado em Zootecnia pela UNESP/Jaboticabal. É palestrante e consultor de empresas nas áreas de conservação de forragens e nutrição animal, ganhador do Prêmio Impacto 2012 Milkpoint, técnico do ano no Troféu Agroleite 2016.