João Ricardo Alves Pereira
Zootecnista, Doutor em Nutrição Animal e Pastagens
jricardouepg@uol.com.br
Comercialização de silagem pré-secada em fardos
19 de junho, 2019
Autor: Dr. João Ricardo Alves Pereira*
A especialização da pecuária no Brasil tem resultado no crescimento de serviços terceirizados e, mais recentemente, na comercialização de volumosos. Atualmente, terceirizar serviços ou adquirir produtos, inclusive volumosos, de produtores especializados na atividade tem sido uma boa alternativa para os pecuaristas. Como vantagens o produtor tem uma maior especialização da propriedade, focando seus esforços e investimentos naquilo que realmente é de sua competência.
A ensilagem é um processo de conservação de forragem que tem como objetivo final preservar forragem de alto valor nutritivo com o mínimo de perdas. No processo, basicamente, carboidratos solúveis são convertidos em ácidos orgânicos pela ação de microrganismos, que encontrando ambiente anaeróbio ideal proliferam e criam condições adequadas à conservação. Contudo, na ensilagem de plantas forrageiras que apresentam matéria seca (MS) inferior a 20% e poucos carboidratos solúveis, os riscos de deterioração são maiores, tornando-se fundamental o uso de recursos que, de alguma forma, modifiquem esta situação. A pré-secagem ou emurchecimento permite a ensilagem de plantas forrageiras com teores mais elevados de umidade, num processo relativamente simples onde fermentações indesejáveis são controladas.
As forrageiras mais utilizadas para produção de silagem pré-secada são as gramíneas de clima temperado: aveia, azevém, triticale e cevada; e mais recentemente gramíneas tropicais como as espécies do gênero Cynodon como os “tiftons”, "coast-cross"; algumas braquiárias e mesmo panicuns. Dentre as leguminosas somente a alfafa é utilizada em quantidade expressiva.
Silagem pré-secada em fardos (400 a 600kg) nada mais é do que enfardar forragem com maior umidade e embalar hermeticamente, com filme plástico especial, de modo a criar um ambiente aneróbio onde seja possível a fermentação e conservação dessa forragem.
O momento ideal de ensilagem é quando a forragem atinge entre 40 e 60 por cento de matéria seca. O tempo de secagem varia de acordo com a umidade relativa, vento, horas de luz solar e densidade da forragem.
Os modelos mais comuns de enfardadeira são as de fardos redondos e a densidade é determinante para a boa conservação da forragem. Em seguida ao enfardamento, a forragem deve ser embalada em filme plástico de qualidade para que se inicie o processo de fermentação. A qualidade do filme plástico e o número de camadas sobre o fardo são fundamentais para a melhor conservação e maior tempo de armazenamento do fardo ensilado.
Desde a introdução do sistema em meados da década de 1980, a silagem empacotada provou ser uma opção interessante no fornecimento de forragens de alta qualidade e nutritiva, com os benefícios adicionais de reduzir mão-de-obra; permitir a comercialização de forragens; otimizar investimentos em equipamentos forrageiros e dar mais flexibilidade na alimentação dos rebanhos.
Embora pareça um conceito simples, o teor de matéria seca é um dos fatores fundamentais na conservação e comercialização de forragem pré-secada nessa forma. Infelizmente, uma boa parte dessas silagens ainda é comercializada com baixos teores MS. Para o “vendedor” o rendimento (número de fardos) no campo é maior, enquanto que o “comprador” prefere silagens mais verdes e fardos mais pesados, uma vez que a comercialização é por unidade e não por peso. Essa relação é bem ilustrada na tabela abaixo.
Tabela: Influência do grau de desidratação da forragem sobre a densidade, número e peso de fardos e quantidade de plástico utilizada para o revestimento.
Fonte: Tabacco & Borreani (2006) – citados por Amaral & Bernardes (2007).
Se o processo de campo foi bem conduzido e a forragem foi ensilada com teores de matéria seca ideais, a compressão da forragem na enfardadora e a qualidade e quantidade de filme na embalagem serão os determinantes no tempo de conservação da forragem. Se enfardadas e empacotadas corretamente, o tempo de armazenamento pode ser de igual ou até superior a um ano após a produção.
Embora não ainda seja uma prática comum, a comercialização de silagens pré-secadas com base na qualidade do produto será uma demanda do mercado. Da mesma forma como se comercializam rações com base em seus teores de proteína e energia, o mesmo está sendo feito para forragens, já que variações na qualidade são esperadas devido ao processo de produção. Nas figuras 01 e 02, temos a qualidade da silagem em fardos provenientes de sete cortes em uma área de produção de capim tifton, expressa em porcentagem de proteína e quilogramas de leite estimados.
Figura 01: Teores de proteína em fardos de silagem de capim tifton em sete cortes.
Figura 02: Estimativa de produtividade de leite por quilograma de matéria seca de fardos de silagem de capim tifton em sete cortes.
Quando comparada a outras fontes de fibra para dietas, como o feno ou mesmo a ensilagem em silos trincheira ou superfície, a silagem pré-secada em fardos apresenta as seguintes vantagens::
- Permite o uso de alguns equipamentos empregados no processo de fenação, o que reduz sensivelmente os custos de depreciação e amplia as opções de produção de forragem conservada;
- Possibilita o transporte e comercialização de forragens;
- Permite o uso de forragem conservada até a abertura de silos maiores;
- Quando comparado ao feno, o tempo de secagem e dos riscos de perdas no campo são menores para a silagem pré secada;
- Preserva melhor a qualidade da forragem mesmo quando colhida com níveis mais elevados de umidade;
- Facilidade de armazenamento (ao ar livre), reduzindo custos fixos na construção de silos;
- Favorece o uso de forragens em menor quantidade nas dietas, reduzindo as perdas por deterioração da forragem no silo.
*Dr. João Ricardo Pereira - Professor Adjunto da Universidade Estadual de Ponta Grossa, possui graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Mestrado em Nutrição Animal e Pastagens pela ESALQ/USP e Doutorado em Zootecnia pela UNESP/Jaboticabal. É palestrante e consultor de empresas nas áreas de conservação de forragens e nutrição animal, ganhador do Prêmio Impacto 2012 Milkpoint, técnico do ano no Troféu Agroleite 2016.