João Ricardo Alves Pereira


Zootecnista, Doutor em Nutrição Animal e Pastagens

jricardouepg@uol.com.br

PUBLICAÇÕES

Dicas técnicas para ensilagem do milho

25 de fevereiro, 2020

Autor: Dr. João Ricardo Alves Pereira*

 

Estamos começando a maior estação de ensilagem das nossas lavouras de milho para garantir a alimentação e produção dos nossos rebanhos no ano que começa. De maneira prática apresentamos dicas técnicas que certamente ajudarão nossos parceiros a produzir silagem de milho de ótima qualidade e de menor custo de produção.

 

  • O ponto ideal de colheita para ensilar é quando a planta acumula a maior quantidade de matéria seca (MS) de melhor qualidade nutricional. Em geral, pode-se identificar esse momento pelos grãos do milho, que estão no estádio farináceo duro (50% da linha do leite) e colhe-se 95% dos grãos e 100% da forragem que o milho pode produzir.  O teor de MS da planta varia de 32% a 38%, dependendo da sanidade de colmos e folhas no momento da ensilagem.

  • Na tabela 1 verifica-se que quanto mais cedo se colhe o milho para silagem o teor de fibra (FDN) aumenta e o teor de energia (NDT) diminui, implicando em menores produtividades de leite e carne e aumentando os custos de produção, pois silagens de baixo valor energético demandam maiores quantidades de concentrado na dieta para atender as exigências nutricionais dos animais.

  • A altura de corte deve ficar entre 25 a 30 cm do solo. Dessa maneira evita-se o recolhimento de solo na colheita, reduzindo-se a presença de microrganismos indesejáveis ao processo de ensilagem (contaminação) bem como o desgaste, pela ação da areia, da maquina forrageira.
  • A metodologia padrão recomendada para avaliação do tamanho das partículas é o Separador de Partículas Penn State (“Penn State Box”), desenvolvido pela Pennsylvania State University. Trata-se de um conjunto de bandejas perfuradas com malhas de diâmetros diferentes, dispostas umas sobre as outras. A superior tem orifícios de 19 mm; a segunda, de 8 mm; a terceira, de 4 mm; e a bandeja inferior não tem aberturas (fundo). A recomendação atual para a distribuição adequada de tamanhos de partículas para a silagem de milho e silagens pré secadas é mostrada na tabela abaixo.

  • No geral, recomenda-se que a regulagem de ensiladeiras rebocadas (acopladas a tratores) esteja com 7,5 a 9,0 mm nos modelos que apresentam o quebrador de grãos. Se a lavoura estiver com teores de matéria seca mais elevados sugere-se reduzir o tamanho de corte.
  • A regulagem da ensiladeira merece uma atenção especial, pois ela é o equipamento fundamental na transformação dos investimentos feitos na lavoura em uma silagem de qualidade.
  • Os procedimentos são os seguintes:
    • Afiação das facas
      • Retirar a proteção da pedra de afiação;
      • Com o trator parado colocar a rotação de 540 rpm na tomada de força;
      • Pressionar a pedra contra as facas por cerca de 20 segundos;
      • Baixar a rotação do motor e recolocar a proteção da pedra de afiação;
      • Repetir o procedimento ao menos uma vez ao dia.
    • Aproximação das facas da contra-facas
      • Abertura da máquina – Soltar dos parafusos (travas) na lateral direita;
      •  Acessar a contra faca – Afrouxar as 3 porcas de fixação da contra-facas e aproximá-la cerca de 0,2 mm das facas. Uma “serra de aço gasta” pode ser usada para limitar o espaço entre faca e contra facas;
      • Retirar a “serra”, apertar as porcas e fechar a máquina.
  • Na colheita com forrageiras autopropelidas (Automotrizes) o tamanho de corte deve ficar entre 12 a 18 mm e o “cracker” (rolos que giram em rotações diferentes) devem ser ajustados com distância próxima a 2mm, de modo a maximizar a quebra dos grãos.
    • Uma maneira de se avaliar a eficiência da quebra de grãos é tomar uma amostra de litro a cada 3 ou 4 cargas e se avaliar a quantidade de grãos inteiros ou mesmo ¾ de um grão. Se forem detectados mais que 2 ou 3 o ideal é ajustar o cracker para se maximizar o processamento. Geralmente, quando ajustadas para o processamento ideal a velocidade de colheita não deve ser mais que 5 a 6 km/hora.
  • A dimensão do silo deve levar em consideração a quantidade de silagem a ser retirada diariamente. A largura mínima do silo deve ser 1,5 vezes a largura do rodado do trator, de modo que seja possível compactar as laterais e o centro com a mesma intensidade.
    • A retirada diária de todo o painel (frente) do silo numa profundidade de pelo menos 25 cm. O uso de fresas, acopladas a vagões misturadores, permitem retiradas precisas sem comprometer a silagem compactada;
    • Silos do tipo trincheira facilitam a compactação e, geralmente, possibilitam maiores quantidades de matéria verde/m3 que os silos de superfície;
    • Silos de superfície também permitem que tenhamos silagens de boa qualidade, mas exige-se mais cuidado na compactação, principalmente no abaulamento final do silo.
  • O enchimento do silo precisa ser feito rapidamente; se possível em até 3 ou 4 dias. Acima desse prazo recomenda-se o uso de silos menores, que serão fechados mais rapidamente e são mais fáceis de compactar, permitindo melhor conservação da silagem. As retiradas diárias também podem ser mais profundas, o que preserva a qualidade diária do alimento.
  • Quanto maior a compactação, maior será a densidade (em kg de MS/m3) e menores as perdas. A densidade ideal para a silagem de milho fica em torno de 550 a 600 kg/m3. Valores muito acima disso geralmente resultam de silagens com teores mais baixos de matéria seca, colhidas mais verdes, o que não se recomenda.
  • A boa compactação exige tratores pesados, quando disponível, mas principalmente a distribuição em camadas mais finas e um tempo de compactação superior à soma de tempo gasto no corte e na descarga.
  • É preciso tirar o ar rapidamente! Se não tiver oxigênio o processo de respiração cessa e a silagem não aquece, não perdendo energia na forma de calor, que o animal utilizaria para produzir leite ou carne.
  • A cobertura do silo deve ser feita com lonas de maior espessura (200 micra ou mais) e de dupla-face, com proteção a radiação solar. A lona deve ser colocada de modo a deixar espaço para que o ar saia pela frente do silo, evitando que se formem bolsões de ar e, principalmente, que a colocação de pesos sobre a lona empurre esse ar dentro da massa ensilada, o que vai favorecer o aquecimento da forragem.
  • O uso de lonas de silos bolsa usados para armazenagem de grãos têm demonstrado bons resultados. Com o corte na lateral da bolsa temos mantas plásticas nas larguras de 8, 10 e 12m. O plástico é de melhor qualidade e garante mais segurança na proteção da silagem.
  • Se optar por lona preta o produtor deve colocar um camada uniforme de terra para sua proteção.
  • Devem ser feitas boas vedações nas laterais, evitando possíveis infiltrações e cercas de proteção ao redor dos silos.
  • Recomenda-se que o silo seja aberto num prazo mínimo de trinta dias.

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*Dr. João Ricardo Alves PereiraProfessor Adjunto da Universidade Estadual de Ponta Grossa, possui graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Mestrado em Nutrição Animal e Pastagens pela ESALQ/USP e Doutorado em Zootecnia pela UNESP/Jaboticabal. É palestrante e consultor de empresas nas áreas de conservação de forragens e nutrição animal, ganhador do Prêmio Impacto 2012 Milkpoint, técnico do ano no Troféu Agroleite 2016.

 

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