Marcelo de Paula Xavier
Editor do Canal do Leite, Administrador de Empresas e Mestre em Agronegócios
canaldoleite@terra.com.br
A raça Jersey alcança novos recordes e reforça seu impacto na indústria leiteira
19 de janeiro, 2025
Escrito por Marcelo de Paula Xavier, M.Sc.*
A raça Jersey é como um chip de computador: pequena em tamanho, mas incrivelmente poderosa e eficiente. Assim como os chips processam uma enorme quantidade de dados com precisão e rapidez, as vacas Jersey transformam sua energia em uma produção excepcional de leite (com qualidade superior e alto rendimento), mesmo com seu porte compacto.
Os resultado finais do ano de 2023 reforçam essa comparação. Pelo quarto ano consecutivo, a raça Jersey alcançou novos recordes em todas as medidas de produção nos Estados Unidos. As estatísticas divulgadas pela Associação Americana do Gado Jersey (AJCA) comprovam um progresso significativo nos dados de produção de leite, gordura, proteína e rendimento para a fabricação de queijo.
Em 2023, a lactação média oficial das vacas Jersey nos EUA atingiu 20.710 libras de leite, 1.038 libras de gordura e 778 libras de proteína, considerando os equivalentes padronizados para idade adulta (M.E.)1. Isso se traduz em uma impressionante média diária de 30,8 kg de leite, com 5,01% de gordura e 3,76% de proteína. O rendimento para produção de queijo, por sua vez, alcançou 12,83%.
A produção real2 também foi recorde e atingiu as segiuntes médias:
- 18.400 libras (27,4 kg/dia) de leite;
- 923 libras (5,02%) de gordura;
- 689 libras (3,74%) de proteína; e
- 2.354 libras (1.067,5 kg) de rendimento de queijo.
Com base nas dados dos últimos 10 anos, até o ano de 2030, prevê-se que a lactação média da raça em 305 dias atinja 21.420 libras de leite (9.714 kg), 1.084 libras de gordura (5,06%) e 820 libras de proteína (3,83%). Já o rendimento de queijo deve chegar a 2.799 libras (13,07%). Vale ressaltar que a vida produtiva média das vacas Jersey americanas atualmente é de 2,36 lactações.
Em termos reais, a produção deverá alcançar 19.226 libras de leite (8.719 kg), 976 libras de gordura (5,08%) e 731 libras de proteína (3,80%), com um rendimento de queijo de 2.500 libras.
No resumo anual de produção divulgado pela AJCA, os dados incluem vacas registradas inscritas em programas de desempenho da associação e com no mínimo 4 gerações controladas. Além disso, a Jersey Americana também destaca os principais rebanhos do país, ranqueando-os no geral, por tamanho e por estado.
Esses rebanhos refletem uma diversidade de tamanhos e estilos de gestão, distribuindo-se por todo o território dos Estados Unidos, evidenciando que a lucratividade na produção leiteira não se limita a um modelo padronizado. Entre os principais exemplos, destacam-se tanto operações de menor escala, baseadas em sistemas de pastoreio intensivo, quanto grandes empreendimentos em regime de confinamento.
Tudo isso evidencia o grande potencial e a adaptabilidade do gado Jersey, mostrando que a raça se enquadra em qualquer processo de produção e industrialização de leite nos EUA e no mundo.
Cuide do rebanho e a riqueza virá
Na Roma antinga, Scrofa – um fazendeiro respeitado por sua perícia e sucesso – aconselhava os produtores a cuidar bem dos seus animais. Em uma ocasião, ele estava falando de sua "ciência pastoral" em uma assembleia de agricultores e supostamente teria dito o seguinte: "Omnis Pecuniae Pecus Fundamentum".
"O gado é a base de toda a riqueza", traduzindo do latim, a frase destacava a importância do gado na economia do Império Romano, onde a riqueza era frequentemente medida pela quantidade de animais que uma pessoa possuía.
Não por acaso, os pioneiros da Associação Americana do Gado Jersey escolheram essa frase como o lema de sua organização. Eles eram homens de notável perspicácia empresarial e já vislumbravam o grande potencial da raça que estavam ajudando a moldar.
Sem dúvida, a AJCA tem um papel de grande relevância no extraordinário processo de seleção genética e avanços no manejo que transformaram essas pequenas e eficientes vacas em máquinas de produção. Verdadeiros exemplos de como a ciência e a tecnologia podem aprimorar o potencial natural de uma raça.
A AJCA, aliás, se tornou uma associação muito forte e respeitada, que vem ajudando os pecuaristas de todo o mundo que dependem da genética Jersey para sua prosperidade!
Notas:
1 – O ajuste para idade adulta permite comparações justas entre a produção de vacas de uma mesma raça em diferentes ambientes e estágios de sua vida produtiva. O cálculo é composto de duas partes: a medida da produção real de leite em 305 dias – com base nas pesagens regulares do controle leiteiro oficial – e o fator de correção para “equivalente na idade adulta”. Nos Estados Unidos, este fator corrige os efeitos do número de lactações, idade no parto, estação do ano, dias abertos anteriores e região do país. A maioria das organizações que fazem o controle oficial americano usa o “Bestpred” para calcular as produções ajustadas e real em 305 dias. Nesta metodologia, os dados são comparados com as curvas de lactação do rebanho específicas da raça e da paridade.
2 – Nos seus relatórios anuais, a AJCA inclui médias de produção para os rebanhos americanos de Jersey, calculadas em uma lactação padronizada de 305 dias, com duas ordenhas por dia, tanto em base ajustada para idade adulta como em base real. Para serem incluídas nos cálculos, as vacas Jersey devem ser registradas e estar na Contagem de Gerações {4} ou superior. Por sua vez, os rebanhos computados nas medições devem ter no mínimo 10 vacas.
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*Marcelo de Paula Xavier, formado em Administração de Empresas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, com Mestrado em Agronegócios pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foi presidente da Associação de Criadores de Gado Jersey do Brasil por 2 mandatos consecutivos e atualmente é editor do Canal do Leite.