Marcelo de Paula Xavier


Editor do Canal do Leite, Administrador de Empresas e Mestre em Agronegócios

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O grande potencial do gado Jersey mocho

03 de maio, 2019

Escrito por Marcelo de Paula Xavier*, M.Sc.

 

A ideia de criar gado Jersey mocho tende a gerar bastante entusiasmo. Provavelmente, isto advém do interesse em animais um pouco incomuns ou no conforto em não se precisar fazer a descorna (um dos serviços mais desagradáveis em uma fazenda de pecuária).

Mesmo que a ideia de um rebanho todo de animais sem chifres deva estar fora do alcance para a maioria, os criadores de Jersey podem se beneficiar do uso de genes mochos, aumentando o número de animais sem chifres e garantindo que todos os animais mochos sejam identificados em seus rebanhos.

A Genética

O estudo da transmissão do gene mocho é uma lição fundamental de genética. Cada animal tem dois genes que determinam se ele vai ter chifres ou vai ser mocho natural. Um gene é herdado do pai e outro da mãe, sendo que o caráter mocho é dominante e o de chifres é recessivo.

Se o animal carrega o gene mocho, seu genótipo será de mocho e seu fenótipo será sem chifres. Um animal homozigoto herda dois dos mesmos genes – mocho ou de chifres – de seus pais. Um animal heterozigoto herda um gene mocho e um gene para chifres.

A vantagem do caráter mocho é que em apenas uma geração já se ganha o gene. Usando-se um touro heterozigoto em vacas com chifres, por exemplo, metade dos bezerros resultantes vão ser animais mochos. Já, usando-se um touro homozigoto (que é raro) em vacas com chifres, todos os bezerros vão ser mochos.

Raízes do Gene Mocho nos Estados Unidos

Nos estados Unidos, há um certo debate se as primeiras importações de gado da Ilha de Jersey foram de animais mochos ou com chifres. Todavia, um bezerro Jersey nascido sem chifres atualmente é pouco comum. Animais mochos naturais representam somente 13 de cada 1000 animais registrados na Associação Americana de Gado Jersey (AJCA).

A maioria dos animais Jersey mochos registrados pela AJCA tem ancestrais que podem ser rastreados a 3 touros seminais: FAIR WEATHER DON VOLUNTEER-P; FAIR WEATHER CHAMPION SUPERB-P (ambos nascidos em 1952); e NORMSLAND BELLE BOY-P (nascido em 1960).

As primeiras raízes do gene mocho podem ser rastreadas de BELLE BOY até um touro mocho nascido em 1911 e uma vaca mocha nascida em 1907. No entanto, SUPERB-P foi o primeiro touro mocho a receber a designação de “Senior Superior Sire”.

Seu sangue é encontrado no pedigree do touro mocho mais usado da raça, FAIR WEATHER OPPORTUNITY-P-ET, que ganha este título facilmente, com mais de 16.500 filhas (uma quantidade 4 vezes maior que qualquer outro de seus pares).

Sem dúvida, o mais influente criador americano de gado Jersey mocho foi o falecido Stanley Chittenden, de Nova Iorque, criador dos touros “Fair Weather” mencionados. Em 1983, Chittenden foi condecorado com o Master Breeder Award da AJCA, em parte pelo papel que teve em desenvolver genética de Jersey mocho nos Estados Unidos.

Foi a experiência que ele teve com a descorna dos seus animais que gerou sua paixão pelo Jersey sem chifres. “Papai ficou cansado das vacas batendo umas nas outras e disse que os chifres deveriam desaparecer", explica Paul Chittenden, o filho mais velho de Stanley. "Ele viu um anúncio de venda de 15 animais mochos do Rebanho Willow Brook, no Tennessee. Ele e Doc Malnatu, nosso veterinário na época, pegaram um avião, compraram os animais e os trouxeram para casa de caminhão”.

Stanley Chittenden foi muito bem sucedido em criar um gado Jersey mocho, funcional, longevo e rentável, porque ele nunca sacrificou a produção e a conformação para ter um animal sem chifres. “Papai cruzava um bom animal mocho com um bom animal de chifres, então ele se concentrava em cruzar a progênie mocha”, resumiu Paul.

Paul Chittenden deu continuidade aos esforços de seu pai com o gado mocho e a sua fazenda, Dutch Hollow Farms, acabou se tornando uma das mais importantes fontes de genética Jersey mocha para os Estados Unidos e para o mundo.

Por que criar animais mochos?

Mesmo que os métodos de descorna tenham melhorado através dos anos, este serviço continua sendo pouco desejado em uma fazenda. “Eu imagino que ninguém gosta de fazer a descorna, não importa como isto seja feito”, observa Karin Knolle, da Creekside Farm, em Sandia, Texas. 

Knolle, uma ex-diretora da AJCA, representa a terceira geração de sua família a criar gado Jersey sem chifres. O rebanho que ela e seu pai, Pearson, possuem é aproximadamente 65% mocho. Seu avô, Henry Knolle, começou a criar Jersey mocho em 1980, porque ele se preocupava com o estresse da amochação e os efeitos que ela tem nos bezerros durante um período importante para seu crescimento.

Juntamente com alguns touros “Fair Weather” criados pelos Chittendes, um touro proeminente no programa de seleção dos Knolle foi HANK ARON-P. O pai de sua avó é BELLE BOY e sua mãe, MAPLEROW MERCURY ARON-PTL-P, é uma das fêmeas mochas com maior reconhecimento na raça no mundo.

O Processo de Registro

Aniamais Jersey mochos são identificados na base de dados da AJCA com a inclusão da letra “P” (heterozigoto) ou "PP" (homozigoto), como um sufixo ao nome de registro. Segundo Erick Metzger (Gerente de Serviços da AJCA), “quando o registro de um bezerro é marcado como mocho, o programa de processamento da associação confere para ver se pelo menos um dos pais é mocho. Se este for o caso, o registro é aceito e o bezerro é identificado como sendo mocho”.

“Se o bezerro não tiver um pai mocho, nós checamos se um avô ou bisavô do lado materno é mocho”, continua Metzger, “talvez, gerações subsequentes poderiam ter sido registradas como mocho, mas não foram. Nós acertamos com o criador para identificar o gene mocho, quando podemos”.

Ocasionalmente, o gene mocho não é identificado até que o animal tenha filhos sem chifres. Este é o caso de FOXLAND JUNO KATIE 6F-P, de propriedade da Waverly Farm (na Virginia), vaca que foi Campeã Americana em 1999.

“Minha filha Claire e eu fazemos toda a descorna”, comenta Mike Stiles (da Waverly Farm). “Quando pegamos um bezerro filho da Katie, percebemos que ele não tinha chifres e ficamos imaginando por que. Nós fomos até a Katie e descobrimos que ela era mocha natural. Sua cabeça tem formato um pouco diferente, um pouco mais achatada".

Identificar animais mocho naturais é um processo relativamente simples, como explica Paul Chittenden. “Logo que o bezerro nasce, nós tateamos o botão do chifre e identificamos-no como sendo mocho ou com chifres. Se não pudermos identificar se um animal é mocho ou não, nós voltamos a verificar quando o bezerro estiver mais velho".

Potencial Mocho

Mesmo não sendo tão comuns, a raça Jersey tem uma frequência mais alta de nascimentos de mochos naturais do que qualquer outra raça não-mocha de leite. Combinando isto com suas outras vantagens, a raça tem um pacote muito especial de atrativos para os produtores de leite.

Além de ser mais apropriada para climas tropicais e sub-tropicais, mais do que qualquer outra raçaeuropeia pura, o Jersey tem o benefício mercadológico do fator mocho. Há também um grande potencial de crescimento para este mercado na Europa, onde a raça teve uma exposição limitada no passado.

O movimento pelos direitos dos animais, naquela parte do mundo, criou legislações que requerem uma descorna feita por veterinários, com anestesia e a um alto custo.

Referêcias:

Jersey Journal

Dairy Cow Daily

PolledJersey.com

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*Marcelo de Paula. Xavierformado em Administração de Empresas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, com Mestrado em Agronegócios pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foi presidente da Associação de Criadores de Gado Jersey do Brasil por 2 mandatos consecutivos e atualmente é editor do Canal do Leite.

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