Roney Ramos
Médico Veterinário, Doutor em Reprodução Animal pela USP
roney.ramos@genusplc.com
Índices reprodutivos na pecuária leiteira
22 de fevereiro, 2019
Autor: Dr. Roney Ramos, DVM. PhD*
Assim como em todas as áreas da atividade leiteira, na reprodução só temos a certeza que estamos no caminho certo quando somos capazes de avaliar o resultado prático de nossas escolhas e de nossas estratégias. Ter objetivos claros e saber mensurar o nosso progresso é fundamental. Por isso, nesse artigo vou descrever alguns indicadores que podem ser utilizados em propriedades leiteiras.
Antes de descrever os índicadores é importante esclarecer um ponto relevante. Ao falar sobre esse tema, os técnicos e produtores geralmente querem saber qual seria o valor ideal para cada índice ou indicador. Entretanto, o mais importante é estabelecer metas que superem a atual realidadade da propriedade, por exemplo, aumentar a taxa de concepção em 5 pontos percentuais em um determinado período de tempo. Usar essa estratégia faz com que o uso dos indicadores seja mais personalizado e adequados à realidade de cada propriedade. Vejamos alguns desses indicadores reprodutivos.
A taxa de prenhez a cada 21 dias é, sem dúvida, um dos melhores indicadores para avaliar a reprodução. Porém, o seu cálculo é complexo e geralmente só é utilizado por propriedades que utilizam algum programa de computador específico para propriedades leiteiras. Esse índice é baseado na porcentagem de vacas prenhas sobre o total de vacas elegíveis (vazias e fora do período voluntário de espera) dentro de um período de 21 dias.
Os dias em leite (DEL) ao primeiro serviço revela o momento em que as vacas estão sendo iniciadas no manejo reprodutivo. Propriedades com boas taxas de concepção e com rebanho com alta persistência podem iniciar mais tarde, nos Estados Unidos, muitas propriedades estão aumentando o seu período voluntário de espera chegando até aos 80 DEL.
A taxa de serviço (TS) e a taxa de concepção (P/IA) são mais comumentes usadas no Brasil e baseiam-se, respectivamente, no número de vacas inseminadas sobre as vacas elegíveis e no número de vacas prenhas sobre as que foram inseminadas. Analisar a taxa de concepcão por serviço também é interessante, rebanhos com um bom manejo de transição apresentarão pequenas quedas (2-3 pontos percentuais) a cada serviço extra.
Perdas gestacionais também devem ser avaliadas. Rebanhos de alta produção tendem a ter uma taxa de perda maior, devido ao alto metabolismo hormonal e a consequente dificuldade de manter a prenhez. Obviamente, algumas doenças podem provocar perdas gestacionais e, por isso, este indicador deve ser monitorado constantemente.
Outro índice a ser avaliado é a porcentagem de prenhezes gemelares. A alta produção de leite bem como a dieta das vacas e - até mesmo - o protocolo hormonal utilizado pode afetar a porcentagem de dupla ovulação, podendo ocasionar elevados número de partos gemelares, que são indesejados por vários fatores. Por exemplo, a alta taxa de aborto e problemas no parto o que aumentará a probabilidade de a vaca apresentar problemas no pós-parto como retenção de placenta, metrites e endometrites. Nos últimos anos a taxa média de partos gemelares nos Estados Unidos têm sido de aproximadamente 5%.
Com o aumento do uso de sêmen sexado, outro índice que se torna interessante é a porcentagem de fêmas nascidas. Tecnologias de sexagem, recentemente disponibilizadas no mercado, tem obtido uma maior porcentagem de fêmeas nascidas. Este índice, quando avaliado juntamente com o número de partos e a taxa de descarte, irá sinalizar a capacidade de reposição da propriedade. Vale ressaltar que, quando o objetivo é manter a produção de leite constante durante o ano, a porcentagem de vacas prenhas no rebanho deve também sempre ser monitorada, idealmente o objetivo é ter 50% do rebanho prenhe.
A taxa de descarte involuntário é diretamente afetada pela fertilidade do rebanho, por isto pode ser utilizada para avaliar mudanças no programa reprodutivo. Reduzir o descarte involuntário permite ao produtor aumentar o descarte voluntário, que é importante para aumentar a produção média do rebanho e a qualidade do leite através da remoção de vacas pouco produtivas e/ou com alta contagem de células somáticas do rebanho, por exemplo.
Os indicadores de performance reprodutiva são realmente muito importantes e podem auxiliar o produtor na tomada de decisão. O uso de programas de análises como o "ABS Monitor" permite monitorar a eficiência reprodutiva de rebanhos leiteiros, bem como maximizar a produção de prenhezes e assegurar a lucratividade da atividade leiteira.
*Dr. Roney Ramos - Médico Veterinário formado pela PUC-RS, Doutor em Reprodução Animal pela USP. Também é Técnico em Pecuária formado pela Escola Estadual Técnica de Agricultura. Entre 2013 e 2014, atuou como pesquisador visitante na Texas A&M Research Center in Amarillo, Texas - EUA, atuando principalmente com o manejo reprodutivo de rebanhos leiteiros em larga escala. Membro da Sociedade Brasileira de Tecnologia de Embriões (SBTE) e da International Embryo Tranfer Society (IETS). Com diversas publicações internacionais é também revisor científico de importantes periódicos como Theriogenology, Animal Reproduction, Gynecological Endocrinology e Cell and Tissue Research. Em 2016, foi premiado pela CAPES como autor de uma das três melhores teses de doutorado defendida em em todo o Brasil na área de medicina veterinária. Atualmente é Consultor de Serviços Técnicos na ABS Global (EUA), onde é responsável por fornecer assistência técnica para fazendas de bovinos leiteiros em dez estados norte americanos, focando principalmente nas áreas de Reprodução, manejo e qualidade de leite.