Victor Breno Pedrosa


Zootecnista, Prof. Dr. de Melhoramento Animal e Estatística

vbpedrosa@uepg.br

PUBLICAÇÕES

A importância da coleta de dados da fazenda para o melhoramento animal

28 de março, 2020

Autores: Dr. Victor Breno Pedrosa* e Dra. Laiza de Souza Lung**

Diante de tecnologias cada dia mais inovadoras e de informações compartilhadas em uma velocidade avassaladora, há ainda quem duvide da importância da coleta de dados da fazenda. Neste contexto, pergunto ao amigo leitor. Você acredita que algo pode ser melhorado, em seu máximo potencial, sem que este seja medido/mensurado?

Ao final dos anos 1800, criadores de algumas das principais raças leiteiras da época, organizados nas primeiras associações de raça, trabalharam arduamente para estabelecer uma incipiente coleta de informações das fazendas, dentre as quais listavam: o registro dos animais, genealogia conhecida e dados de produção de leite. Tinha início, ainda que não oficialmente, o controle leiteiro. Eles já sabiam, naquela época, que os dados coletados eram fundamentais para o direcionamento, tanto da seleção genética, como para análise dos principais indicadores da atividade.

No Brasil, o controle leiteiro passou a ser realizado por volta de 1945, mais de 100 anos do primeiro controle oficial nos Estados Unidos. De forma geral, existe dois tipos de controle leiteiro: oficial, que são normalmente realizados pelas associações de raça, e não oficial, realizados pelos próprios criadores. Ambos são importantes desde que atenda aos interesses de cada criador e sejam realizados de forma correta e fidedigna. Recomenda-se o controle oficial, já que este é realizado por órgãos oficiais com chancela governamental.

Desde o início das mensurações muita coisa no controle de informações mudou, mas o que não mudou foi a importância que os dados coletados na propriedade exercem na melhoria das leiterias. Os indicadores de produção, saúde, reprodução e conformação, são aliados do criador para saberem se estão caminhando na direção desejada. Já imaginou, por exemplo, uma propriedade que não tenha controle de seus índices reprodutivos? Informações como idade ao primeiro parto, taxa de serviço, taxa de concepção, taxa de prenhez, dentre outras, não só auxiliam nos ajustes do manejo reprodutivo, como impactam diretamente o retorno econômico da atividade. Assim também ocorre com a utilização das informações do rebanho no processo de melhoramento genético.

Como mencionado na primeira matéria desta coluna, em fevereiro de 2019, o primeiro passo a ser dado em direção ao progresso genético é a definição do critério de seleção. E como saber quais características devo selecionar se não souber o que preciso melhorar? Ressalto que nem sempre aquilo que “achamos” que precisa ser melhorado é o principal gargalo de nosso sistema. Por isso, é tão importante ter certeza do que precisa ser prioritariamente melhorado, para concentrar os esforços de seleção no que é mais importante. E, somente os números da propriedade nos trarão esta resposta com exatidão.   

Todo programa de melhoramento animal, de qualquer espécie, demanda algumas informações essenciais, a saber: Genealogia dos indivíduos; Informações de produção e (opcionalmente, mais recentemente, para avaliação genômica) Informações do genoma. Como saber o potencial genético de seus animais sem estas informações? Impossível! Como as centrais de inseminação farão as provas dos touros (aqueles que você vê nos catálogos) sem as informações mencionadas acima? Sem chance! Adicionalmente, é fundamental mencionar que não somente importa ter estas informações, como ainda mais importante, é que estas informações sejam confiáveis, ou seja, genealogia correta, medições de desempenho acuradas, genotipagem precisa etc. Por isso, controlar é fundamental. Um exemplo de planilha de controle é apresentado a seguir:

Uma das maneiras mais precisas de controle de informações, internacionalmente, é via controle leiteiro, organizado pelas associações ou entidade competente. Registrar, controlar a produção, reprodução e classificar os animais, ainda são e serão por muito tempo, extremamente relevantes para o processo de melhoramento. A incorporação periódica dos dados provenientes dos controles se dá, geralmente, pela solicitação dos backups aos softwares de gerenciamento de rebanho utilizados pelos criadores, e posterior envio destes as entidades que realizam as avaliações genéticas.

Com o advento da genômica, muito se fala sobre a não necessidade de controle de genealogia ou de informações produtivas e reprodutivas, porém as informações genômicas só serão precisas, se houver dados fenotípicos que as abasteçam periodicamente. A genômica trabalha com o constante abastecimento de todos os conjuntos de dados (fenotípico, genotípico e de pedigree), pois, além da possibilidade de constante melhoria na confiabilidade da informação, com o avanço do progresso genético, as gerações se modificam e as bases que construíram as estimativas genômicas também se alteram. Por isso, se não ocorrer uma atualização constante das informações de genealogia, produção, reprodução e dos genótipos avaliados, essa informação perderá a precisão com o passar dos anos. Assim, é fundamental a colaboração do maior número de criadores possível, para que todo o processo seja constantemente abastecido e para que todos sejam beneficiados com uma estimativa precisa dos valores genéticos dos animais. Um abraço!! Desejo força nestes tempos difíceis!! Até a próxima!!

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*Victor Breno Pedrosa - Professor Doutor na Universidade Estadual de Ponta Grossa. Possui graduação em Zootecnia, e Mestrado pela USP (Universidade de São Paulo). Tem especialização em Animal Genomics pela University of Guelph (Canadá) e Doutorado em Zootecnia pela USP (Universidade de São Paulo) e pelo Institut für Nutztiergenetik (Alemanha). É coordenador do LeMA - Laboratório de estudos em Melhoramento Animal.

**Laiza de Souza Lung - Supervisora Técnica em Genômica da CRV Lagoa. Possui graduação em Zootecnia pela UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina), Mestrado em Ciência Animal e Pastagens pela USP (Universidade de São Paulo) e Doutorado em Genética e Melhoramento Animal pela UNESP (Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho").

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