Victor Breno Pedrosa
Zootecnista, Prof. Dr. de Melhoramento Animal e Estatística
vbpedrosa@uepg.br
Os avanços genéticos em rebanhos leiteiros provenientes da inseminação artificial
13 de fevereiro, 2021
Autores: Dr. Victor Breno Pedrosa* e Dra. Laiza de Souza Lung**
As biotecnologias reprodutivas, tais como a inseminação artificial, transferência de embrião, FIV, entre outras, permitiram que o material genético proveniente de reprodutores de elevado potencial fosse disseminado de forma rápida, com a possibilidade de alcançar rebanhos em quase todas as localidades do mundo. Em particular a inseminação artificial, ano após ano, vem ganhando cada vez mais adeptos, devido a facilidade de armazenamento e deslocamento do material genético, mas também pelos custos acessíveis (principalmente atrelados a uma boa relação custo x benefício).
Os primeiros relatos de animais inseminados com sucesso ocorreram em meados do século XIV, em equinos e posteriormente em outras espécies de interesse zootécnico, dentre as quais os bovinos leiteiros. No Brasil, a inseminação artificial começou a ser praticada no início do século XX, e de lá para cá não parou mais de crescer. A ASBIA (Associação Brasileira de Inseminação Artificial) publicou em seu último relatório um crescimento de 31% na comercialização de sêmen bovino, entre os anos de 2019 a 2020. O mesmo relatório mencionou ainda que, atualmente, mais de 70% dos municípios brasileiros adotam a prática de inseminação artificial como ferramenta reprodutiva e de melhoramento genético.
Mas por que a inseminação artificial em bovinos tem crescido de maneira acelerada? Muito deste avanço é devido a melhorias relacionadas a criopreservação do sêmen, ao aumento da mão de obra especializada (ainda que aquém do seu potencial) e aos custos praticados. Porém, um dos maiores motivos está na conscientização dos criadores de que a ferramenta pode trazer, de fato, enormes benefícios ao progresso genético de seus rebanhos. Em particular, para bovinos leiteiros, o material genético utilizado, em muitos casos, é proveniente de outros países, os quais são selecionados intensamente, até chegarem ao Brasil, com o intuito de potencializar a produção, tanto em volume quanto em qualidade. O mesmo podemos dizer do material genético de reprodutores nacionais, utilizados em nosso próprio mercado interno e também em outros países, principalmente da América Latina. Por exemplo, o reprodutor Gir, Girolando ou Jersolando selecionado em Minas Gerais ou São Paulo, ajuda rebanhos do Norte do país a aumentar a produção e a performance via inseminação artificial.
Quando mencionamos que a inseminação artificial pode trazer benefícios para o progresso genético, estamos falando da correta seleção de reprodutores. Nenhuma biotecnologia substitui o trabalho de melhoramento genético, a seleção dos reprodutores deve estar alinhada aos objetivos da fazenda para obter progresso genético maximizado na direção almejada. Tal fato é evidenciado quando as futuras gerações iniciam sua produção. Neste momento, o criador tem a certeza de que o investimento em inseminação artificial feito na geração anterior valeu a pena e, com isso, ele volta a reinvestir na biotecnologia.
Dentre as diversas vantagens da utilização da inseminação artificial, pode-se destacar:
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Economia no custo de manutenção de touros na propriedade;
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Maiores garantias da qualidade do sêmen, devido à realização de análises prévias realizadas pelas centrais (desde que o produto seja posteriormente armazenado e manuseado de forma correta).
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O material genético de touros destacados pode ser armazenado em grandes quantidades e utilizado mesmo depois da morte do reprodutor.
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O material genético de indivíduos melhoradores pode percorrer o mundo e alcançar as propriedades mais remotas.
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Evitam-se eventuais lesões dos reprodutores no momento da monta.
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Permite o acasalamento de fêmeas que, mesmo no cio, não aceitam a monta.
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Facilita o controle dos acasalamentos que, por consequência, melhora a qualidade do controle de dados.
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Facilita a diversificação genética, que melhora a variabilidade, crucial para o progresso genético dos rebanhos.
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Pode melhorar a intensidade de seleção, permitindo a utilização mais ampla de material genético de reprodutores superiores.
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Possibilita a utilização constante de material genético de touros jovens, especialmente os provados genomicamente.
Neste contexto, destaca-se que alguns dos atributos relacionados a inseminação artificial refletem, direta e indiretamente, no ganho genético. O aumento da intensidade seletiva, a possibilidade de utilização de material genético oriundo de touros de elevada acurácia ou de touros jovens, ocasionam o aumento do ganho genético ao longo das gerações. Aliado a isto, quando o criador define e acompanha os objetivos de seleção de seu rebanho, consegue direcionar melhor seus acasalamentos, avançando mais rapidamente na direção do progresso genético objetivado.
A seleção de fêmeas superiores atrelada a uma boa programação dos acasalamentos via inseminação artificial produz bezerras leiteiras que são, em média, melhores do que as bezerras da geração anterior. Quando os objetivos de seleção do rebanho são pré-estabelecidos e a inseminação é direcionada vaca a vaca, pensando no rebanho como um conjunto, mas também nos critérios individuais de cada fêmea, pode-se alcançar um crescimento médio anual acima de $70 em Mérito Líquido ($), conforme demonstrado na figura 1, em análise de rebanhos leiteiros americanos.
Nota-se que o crescimento da lucratividade pode ser alcançado por anos seguidos, em que o progresso genético é constante, quando os programas de seleção fazem uso de biotecnologias reprodutivas e o mérito genético dos reprodutores é conhecido e bem direcionado. E você, meu amigo criador? Já é adepto da inseminação artificial para melhorar os indicadores produtivos e a lucratividade do seu rebanho? Um grande abraço e até a próxima!
Referências:
ASBIA. Benchmark Index Asbia, Relatório CEPEA. 2021
De Vries, A. & Kaniyamattam, K. A review of simulation analyses of economics and genetics for the use of in-vitro produced embryos and artificial insemination in dairy herds. Animal Reproduction, v.17, p.e20200020. 2020
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*Victor Breno Pedrosa - Professor Doutor na Universidade Estadual de Ponta Grossa. Possui graduação em Zootecnia, e Mestrado pela USP (Universidade de São Paulo). Tem especialização em Animal Genomics pela University of Guelph (Canadá) e Doutorado em Zootecnia pela USP (Universidade de São Paulo) e pelo Institut für Nutztiergenetik (Alemanha). É coordenador do LeMA - Laboratório de estudos em Melhoramento Animal.
**Laiza de Souza Lung - Supervisora Técnica em Genômica da CRV Lagoa. Possui graduação em Zootecnia pela UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina), Mestrado em Ciência Animal e Pastagens pela USP (Universidade de São Paulo) e Doutorado em Genética e Melhoramento Animal pela UNESP (Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho").