Pagamento por sólidos do leite começa a se tornar realidade no Brasil

Pagamento por sólidos do leite começa a se tornar realidade no Brasil

O pagamento por sólidos é uma prática bastante comum em países importantes na produção de leite, como os Estados Unidos e a Nova Zelândia, mas – até agora – inexistente no Brasil.

Não obstante, essa realidade parece estar começando a mudar. O Laticínio Verde Campo, de Minas Gerais, já está trabalhando com a modalidade. Desta forma, os produtores de leite poderão ser remunerados por quilos de proteína, gordura e lactose entregues à indústria e não mais por litros de leite.

Awilson Viana (foto) é o primeiro produtor de leite do Brasil a ter seu produto negociado nessa modalidade. Seu rebanho é composto 100% por animais da raça Jersey e sua propriedade está localizada no município de Candeias, no estado mineiro. No seu caso, o preço do quilo de sólidos segue o Indexador Cepea/MG médio.

 

 

Ele afirma que, desde a época da faculdade em veterinária, escutava que o gado leiteiro ideal seria o Jersey. Pois, a raça é mais eficiente na produção de sólidos e tem o leite com maior rendimento dentro dos laticínios.

“Foram 18 anos até que o dia chegou. Felizmente já tinha no coração as Jersey e todo um planejamento para com a raça. A princípio voltado para minha pequena propriedade, de terreno acidentado, com 6,6 hectares úteis para a atividade leiteira. O planejamento já contemplava um pequeno laticínio para fazer queijos artesanais mineiros e iogurtes, mas até isso ser concluído fornecemos leite para alguns laticínios ao longo de 7 anos.” 

O produtor fechou contrato com o novo modelo de comercialização e o leite fornecido em setembro será remunerado em sólidos, seguindo o preço base acrescido da variação do indexador Cepea. Como este indicador saiu no dia 30/09, já é possível projetar o valor para o recebimento de toda a produção do mês.

Segundo Awilson, a expectativa é que a remuneração chegue a 19,27/kg fornecido de proteína, gordura e lactose. “Trazendo para uma comparação em litros seria algo próximo de R$ 2,445 por litro de leite. Uma ótima remuneração por uma produção diária de 130 litros por dia.” 

Outro ponto importante destacado por Awilson é que - nesse formato de comercialização - o laticínio vai levar uma matéria prima de ótima qualidade, uma vez que o produtor deve atender as exigências das INS 76 e 77, bem como o leite produzido ter CBT menor que 50 e CCS menor que 250, para conseguir os valores máximos e não ser penalizado em porcentagens.

O produtor que se preocupa em produzir leite com qualidade é beneficiado por uma boa remuneração e o laticínio compra uma matéria prima premium. Os consumidores saem ganhando com produtos de alta qualidade e o meio ambiente agradece por haver menos resíduos da industrialização do leite. "Ou seja, todo o sistema passa a operar dentro de uma maior eficiência. Lembrando que sem a raça Jersey e suas qualidades fantásticas o desafio se torna muito maior", destaca Awilson.

O diferencial da raça Jersey

Segundo Nelci Mainardes, presidente da Jersey Brasil, a qualidade do leite Jersey é bastante reconhecida por seu elevado teor de sólidos, o que resulta em melhor rendimento industrial.

Ele afirma que, com o advento da modalidade de pagamentos por sólidos, muitas mudanças irão acontecer nas propriedades brasileiras, pois a raça Jersey vai realmente mostrar o seu grande diferencial na produção de leite.

Nelci faz uma rápida analise com base na forma de pagamento por qualidade praticada na região de Castro, a principal bacia leiteira do Paraná e uma das maiores do Brasil, considerando uma propriedade média com os seguintes dados:

  • Produção diária de 2400 litros/dia
  • CBT trimestral de 12,6
  • CCS trimestral de 206
  • Produção de sólidos trimestral de 13,96%
  • Remuneração atual de R$ 2,085 por litro

Conforme ele, com uma remuneração por sólidos a base de R$ 19,27 por kg, teria-se:

  • Produção da propriedade em kg de sólidos: 10.051,20 kg
  • Remuneração por litro de leite: R$ 2,69
  • Diferença de remuneração: R$ 0,605 por litro ou seja 29% a mais

"Portanto, os produtores brasileiros que vem investindo na raça Jersey e aqueles que apostam no leite da raça Jersey, podem se preparar que grandes mudanças virão em breve. Não é para menos que é a raça que mais cresce a nível mundial, principalmente no mercado americano que iniciou a remuneração por sólidos há alguns anos atrás", finaliza o presidente da Jersey Brasil.

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