Produtora gaúcha faz desabafo sobre o preço do leite no mercado
O preço do leite vem subindo no varejo e chegou a patamares nunca antes alcançados (entre R$ 7 e R$ 10), acima até do litro da gasolina. Esse assunto está tendo grande repercussão atualmente, mas a crise do setor lácteo não surgiu agora. Foi se avolumando nos últimos três anos, em um contexto de pandemia (“fique em casa, a economia a gente vê depois”), alta do dólar e inflação, agravada pela seca na última safra e a guerra na Ucrânia. O custo do milho e da soja – dois dos principais alimentos para os bovino – disparou, assim como o de outros itens importantes na produção leiteira, como minerais, fertilizantes e combustíveis.
Todo esse cenário fez diminuir a oferta de leite no país em 10,3% no primeiro trimestre, ou 10 milhões de litros por dia; desta forma, os preços do produto subiram bastante. Nos últimos doze meses, até maio (sem contabilizar a alta de junho), o leite UHT subiu 29,43% para o consumidor, os queijos 17,4%, o iogurte 20,4% e a manteiga 17,4%, todos acima da inflação medida pelo IPCA, de 11,7%.
Entre abril e julho, tradicionalmente, há uma elevação no preço do leite no campo, por causa do período de entressafra, quando a oferta do produto cai. O clima mais seco prejudica a disponibilidade e a qualidade das pastagens. Para compensar, os produtores complementam a alimentação dos animais com rações concetradas e silagens, o que encarece o custo de produção.
Ou seja, as contas apertaram primeiro para o lado do produtor de leite, antes de atingir o consumidor. Isso fica claro quando se olha para a relação de troca. Há cinco anos, o produtor precisava vender 37 litros de leite para comprar um saco de ração para o gado. Hoje, são necessários 51 litros para comprar o mesmo produto.
Desabafo de uma produtora de leite
Em um depoimento emocionado, a produtora de leite Nilza Menezes (de Viamão/RS) fez um desabafo explicando os motivos do preço do leite estar tão caro na prateleira do supermercado (vídeo no final desta matéria).
Nos comentários do vídeo, há vários produtores afirmando que, nos últimos anos, têm investido em tecnologias, ordenhas mecanizadas, armazenamento refrigerado, geradores de energia, nutrição, construção de barracões, etc. Porém, segundo os pecuaristas, nada disso adiantará se as políticas de preços nos laticínios e cooperativas leiteiras não forem revistas.
A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) defende a desoneração de impostos. A isenção do PIS e Cofins poderia provocar uma redução de até 9% no preço de itens básicos, como da ração dos animais.
Thiago Rodrigues, Assessor Técnico da CNA, afirma que atualmente o produtor está gastando quase a metade do que ganha apenas para alimentar os animais. “A ração está representando 45% do custo [de produção]...Milho e soja são os ditadores do mercado, que vão influenciar nesta questão de preço. A gente tem ainda a questão do sal mineral, que também tem onerado bastante o produtor, tendo em vista a dependência do mercado brasileiro de fontes de matéria-prima de mercados externos”.
Por esses motivos, o pecuarista que produz mais de 10 mil litros de leite por hectare/ano, viu o lucro por cada litro do cair de R$ 0,19 em 2018 para R$ 0,10, em 2022. Uma queda de 47%, a pior dos últimos cinco anos no Brasil. Os dados fazem parte de um levantamento feito pela CNA a pedido da CBN.
Maior produtora de leite do país, a Fazenda Colorado, em Araras, no interior de São Paulo, produz cerca de 100 mil litros de leite por dia. O gestor de produção da propriedade, Sergio Soriano, afirma que o ideal seria que o lucro do produtor passasse de R$ 0,19 para R$ 0,30. “Eu acho que uma margem que deixa o produtor em uma condição de fazer os investimentos na condição que ele precisa, seria algo em torno de R$ 0,30, R$ 0,40 por litro de leite. Tirando os custos de criação. Abaixo disso, fica muito difícil do nosso negócio continuar reinvestindo”.
Confira o desabafo da produtora gaúcha:
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Desabafo de uma produtora de leite gaúcha
Produtora-de-leite-de-Viamao.mp4 (12,31 MB)
Fonte: Compre Rural