Scot Consultoria: Forte valorização no mercado de leite e expectativas
A cotação do leite marcou o noticiário nos últimos dias. O preço do leite UHT atingindo R$9,00 por litro no mercado varejista em algumas regiões estimulou a discussão.
A Scot Consultoria acompanha regularmente o mercado de leite. No varejo, o preço médio do leite UHT, considerando a média paulista, subiu 54,9% em 2022, cujo preço médio está em R$7,08/litro.
Esse incremento no varejo, representa uma melhora na remuneração ao produtor?
O preço do leite pago ao produtor também subiu, veja na figura 2.
Mas, apesar da melhor remuneração, o aumento de preço ao produtor foi menor que o aumento de preço ao consumidor final (figura 3).
O incremento no preço veio associado a fortes aumentos nos custos de produção e achatamento de margens. Acompanhe, na tabela 1, a variação em doze meses dos componentes do Índice de Custos de Produção de Leite da Scot Consultoria.
O que elevou os preços?
Os preços do leite têm comportamento sazonal ao longo do ano. No primeiro semestre, com o maior volume de chuvas e safra do capim em boa parte das regiões produtoras, os preços ficam pressionados com o aumento da oferta. Já o segundo semestre marca um período de queda na oferta e preços firmes. Em 2022, essa pressão praticamente foi nula, com a menor captação de leite (figura 4). Mas por quê?
Entre 2020 e meados de 2021, com o custo de produção subindo e o consumo patinando por causa da pandemia e redução das atividades econômicas, o consumo caiu e muitos produtores acabaram migrando de atividade, reduzindo a oferta.
Nesta mesma janela temporal, o mercado do boi gordo foi marcado por forte valorização na arroba do boi, vaca e novilha gordos, provocando o descarte de matrizes leiteiras.
Somando a esse contexto, o clima também pesou. Pela terceira temporada consecutiva o fenômeno La Niña atuou sobre as lavouras brasileiras. E, em 2022, a quebra de produção na safra de verão não se restringiu apenas ao milho e à soja. As pastagens também foram afetadas, principalmente no Centro-Sul do país.
A menor oferta de leite, em função do descarte de reprodutoras, associada a uma menor produção de pasto e custos de produção elevados, desestimulando o uso de tecnologia, sustentaram os preços pagos ao produtor.
Nesse contexto de menor oferta, o controle da pandemia através da vacinação e o afrouxamento das medidas restritivas ganharam força, elevando a demanda.
O que esperar do mercado de leite para os próximos meses?
A expectativa é de mercado firme para os próximos meses. Se um afrouxamento nas cotações ocorrer, deverá ser entre novembro/dezembro, acompanhando a sazonalidade normal de mercado.
Para o clima, a projeção é de mais uma temporada sob o La Niña, o que deixa incerto o comportamento das chuvas em importantes bacias leiteiras e merece atenção dos produtores.
Os custos de produção deverão pesar realativamente menos nos próximos meses. Com um ritmo acelerado e boa produção na segunda safra 2021/22, o preço do milho atingiu o menor patamar em doze meses e assim deverá persistir até meados de novembro (entressafra no país).
Por fim, a volta dos auxílios emergenciais devem estimular o consumo de alimentos, entre eles o leite, um produto de primeira necessidade.
Fonte: Scot Consultoria