Wagner Beskow: Produtor de leite vs indústria de laticínios
Em sua página no Facebook, o consultor gaúcho Wagner Beskow fez uma análise sobre o momento de beligerância existente na cadeia produtiva do leite no Brasil. Segundo ele, há apenas um fator capaz de mudar o cenário conflituoso que se instalou entre representantes dos produtores e dos laticínios: a melhora do poder aquisitivo das classes baixa e média!
“A verdade é que o cidadão está com sua renda estrangulada e o custo da alimentação, como um todo, o assusta e o limita muito. O auxílio emergencial do ano passado amenizou este cenário de forma notável porque a inflação ainda não estava consolidada. Neste ano, no entanto, o único efeito que se viu foi aliviar o número de pedintes nas ruas, que já haviam retornado. Ou seja, fez diferença para os mais necessitados, não há dúvidas, mas não para a grossa faixa de consumidores de lácteos”, avalia ele.
Wagner entende que mesmo que os preços dos lácteos tivessem se mantido nas gôndolas, eles já estariam defasados frente aos aumentos médios de 30-40% nos custos do produtor e da indústria. No entanto, hoje, eles estão com valor inferior ao de 12 meses atrás. Isso, combinado com o aumento de custos de ambos os elos, tornou a situação bastante delicada para todos e insuportável para muitos.
“De nada adianta nos acusarmos e apontarmos dedos. A dor é real de todos os lados. A única solução sem dor seria a capacidade do Brasil recuperar seus empregos, da mão-de-obra nacional conseguir ser mais eficiente (produtividade) e, como consequência, conseguir recuperar renda, mas isso é um processo lento”, continua ele.
Sem isso, explica o consultor, não há espaço para aumento de preços ao consumidor, de modo que a acomodação será forçada da gôndola em direção à ordenhadeira (ilustrado no diagrama da imagem abaixo, em inglês). Caso o produtor de leite não entenda isso, ele ainda não entendeu o seu setor.
A indústria de laticínios achava que o auxílio emergencial, deste ano, poderia sustentar consumo e preços, o acabou não acontecendo. Todavia, o mercado spot apostou em tal recuperação e logrou puxar, antecipadamente, os preços para cima. Assim, a indústria foi obrigada a seguir a tendência ou não teria leite e o setor todo acreditou; o produtor voltou a ganhar um ânimo, mas o mercado consumidor - que é soberano - deixou todos "agarrados no pincel".
Wagner salienta que "a hora é de usarmos a cabeça e usá-la de preferência fria. No mundo todo os alimentos ao consumidor e os insumos ao produtor e indústria subiram muito. O fato de não estarmos sozinhos indica que algum reequilíbrio tende a ocorrer. Quem está no mercado hoje, seja produtor ou indústria, sabe minimamente o que faz. Não há mais amadores em atividade. O que ainda não atingimos é um grau evoluído de consciência e de ação em cadeia, em conjunto."
Para ele, já se avançou nesse sentido, mas - com a pandemia - os desafios triplicaram e exigem talvez o triplo de capacidade de todos. Em inglês há uma expressão: "thinking hats on" que numa tradução não-literal seria equivalente a "hora de colocarmos a cachola para pensar".
Fonte: Wagner Beskow
Disponível em: https://www.facebook.com/wagnerbeskow