Nota de Conjuntura do setor lácteo
01 de abril, 2024
Os preços das commodities lácteas estão em processo de recuperação no mercado internacional, desde o início do segundo semestre de 2023. Isso traz um alento, já que a tendência baixista teve início no limiar de 2022, percorreu todo aquele ano e foi até no final do primeiro semestre de 2023. Em termos de valorização de preços, o destaque é a manteiga, que atingiu valor de US$ 6.461 a tonelada, difícil de ser sustentável no longo prazo. Para o mercado nacional, este cenário de recuperação dos preços é relevante. Afinal, preços mais elevados no exterior são um desestímulo à importação.
Boas notícias surgiram da economia brasileira. O PIB em 2023 teve um crescimento de 2,9%, acima das previsões mais otimistas, e a renda per capita atingiu o patamar de R$ 50 mil. O nível de emprego segue em crescimento, melhorando a massa salarial, com impactos positivos sobre a demanda em geral.
O único dado desfavorável foi a inflação de fevereiro (0,82%), medida pelo IPCA, que veio acima do esperado, puxada pelos preços dos alimentos. Leite e Derivados, com preços em recuperação, puxou a inflação para cima (1,21%), com destaque para o Leite Longa Vida (3,49%). Em 2023, a captação de leite no Brasil cresceu cerca de 2,5% em relação à 2022 que, somado ao volume de importações recordes, sinaliza um aumento relevante no consumo.
O ICPLeite/Embrapa mostra que os custos de produção caíram em fevereiro (-3,3%), interrompendo uma sequência altista que vinha desde julho de 2023. O custo da alimentação foi responsável pela expressiva deflação, dada a sua importância na formação de custos da atividade e, também, pela intensidade com que ocorreu. Em fevereiro, o grupo Concentrado teve retração de preços de 7,6%, com queda de preço de ração, farelos de soja, milho e trigo, e caroço e farelo de algodão. Adubos e defensivos também registraram queda de preços e levaram à redução do custo de produção do grupo Volumosos, que foi de -2,1%. Também o grupo Minerais registrou queda, ainda que restrita (-0,2%).
Os preços no varejo estão em crescimento, como mostrou o IPCA de janeiro e fevereiro, possibilitando a melhoria das margens da indústria e do varejo. Por consequência, a transmissão de preços ao longo da cadeia produtiva, tem levado à recuperação dos preços pagos ao produtor nas principais regiões. Ademais, o mercado Spot tem sinalizado com a continuidade de recuperação. Com custos menores e preços em crescimento, a margem do produtor melhorou em fevereiro, numa comparação com os últimos seis meses.
As importações continuam muito elevadas, apesar de uma desaceleração aparentemente estar em curso, com uma queda de -3,8% em relação a janeiro e -15,5% em re-lação a dezembro de 2023, quando se analisam os valores importados por média diária. A expectativa, contudo, era que a queda fosse maior, em função da entrada em vigor, em fevereiro, do Decreto Lei que reduz o benefício de renúncia fiscal para os laticínios que importarem leite e derivados.
Um olhar para o futuro próximo mostra que a demanda interna deverá continuar a permitir a recomposição de preços ao produtor, desde que as importações continuem caindo. Há, neste momento, incertezas quanto à capacidade da Argentina manter sua participação no mercado brasileiro nos níveis de 2023. O setor de produção daquele país vive crise. No Brasil, há grande expectativa quanto à mobilização de produtores, que estão indo às ruas. É possível que o Governo anuncie políticas públicas específicas para o leite ainda no mês de março.
Fonte: Centro de Inteligência do Leite (CILeite/Embrapa)