Brazzale alerta para falta de competitividade de lácteos no Brasil
17 de julho, 2019
Piercristiano Brazzale - que com os irmãos Roberto e Gian dirige a Brazzale, indústria de lácteos mais antiga da Itália – não esconde a surpresa com o que viu recentemente em um supermercado de Campo Grande (MS). Seu queijo Grana Padano, mesmo submetido a uma tarifa de importação de 28% para entrar no Brasil, era vendido mais barato que seu concorrente brasileiro. Enquanto o queijo italiano tipo parmesão custava R$ 99,99 por quilo, o concorrente brasileiro era oferecido a R$ 129,99 (30% a mais).
Para ele, este é um sinal do choque de competitividade que o nosso segmento de lácteos enfrentará com o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia. Pelo acordo, a UE terá uma cota (a ser implementada em dez anos) de 30 mil toneladas de queijos para exportar ao Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai. Desta forma, a tarifa de importação intra-cota partirá do nível atual de 28% e chegará a zero em uma década. A muçarela foi excluída dos queijos que a UE poderá exportar para o Mercosul.
"O segmento de queijo no Brasil teve protecionismo, mas vai precisar melhorar muito a qualidade e ter um sistema eficiente de produção para enfrentar a concorrência que virá", diz Piercristiano. Ele lembra que o Brasil é um dos maiores produtores mundiais de leite, mas que a qualidade do produto é considerada baixa, addim o país precisará melhorar muito também para aproveitar o acesso ao mercado europeu oferecido pelo acordo. Segundo o empresário, uma possibilidade para os brasileiros é inicialmente vender leite em pó, desde que adaptado aos padrões internacionais.
Como presidente do Comitê Científico da Federação Internacional do Leite (FIL), sediada em Bruxelas, Piercristiano quer atrair mais participantes do segmento do Brasil, para trabalhos conjuntos na melhora de condições higiênico-sanitários, padronização de máquinas, marketing, e etc. De outro lado, o empresário não esconde o interesse em ter melhores condições para - posteriormente - investir no Brasil. "É o país que tem o maior potencial para produção agrícola no mundo". Porém, ele enfatiza que, além de maior eficiência no segmento, espera uma redução do custo Brasil.
A Brazzale produz sobretudo queijo e manteiga, exportando para 65 países e faturando € 205 milhões em 2018. É a única grande indústria de lácteos italiana que construiu fábricas fora da Itália. Produz queijos na Moravia, a mais rica região agrícola do antigo império austro-húngaro (hoje na República Checa) e muçarela e ricota na China. No Brasil, tem a Fazenda Ouro Grande, em Mato Grosso do Sul, que abriga um projeto de sustentabilidade ambiental de criação de gado e produção de carvão vegetal em 3,8 mil hectares.
Em termos de custo, o empresário compara o Brasil à Itália. Exemplifica que na República Checa o salário líquido médio de um empregado é de € 1 mil, semelhante ao da Itália. A diferença é que o custo total por empregado para produzir será de € 1,4 mil na República Checa e de € 2,4 mil na Itália. No Leste Europeu, por exemplo, a energia elétrica é 50% mais barata e o gás, 20%.
"O Brasil precisa ter uma estratégia de política pública para melhorar o padrão de seu leite e reduzir os custos para concorrer no mercado internacional e atrair investimentos".
Fonte: Jornal Valor Econômico.