CEPEA: Oferta não cresce como esperado e preço do leite deve avançar
26 de setembro, 2024
Até o início de agosto, os fundamentos de mercado apontavam reduções para o preço do leite ao produtor. Por um lado, a produção leiteira parecia estimulada pelo aumento da margem no campo e, por outro, a demanda seguia condicionada aos preços baixos nas gôndolas.
Além disso, as importações – ainda em volumes elevados – pressionavam as cotações ao longo de toda cadeia produtiva. Foi nesse contexto que o CEPEA registrou queda de 1,5% no preço do leite captado em julho, levando a “Média Brasil” a fechar a R$ 2,7225/litro. Naquele momento, a expectativa era de que o terceiro trimestre seguisse registrando retrações no preço do leite ao produtor.
Porém, esse cenário mudou de forma rápida e drástica. Se antes o mercado apontava aumento da disponibilidade de leite e de lácteos, agora, a expectativa é de que haja menor oferta. Com isso, o leite captado em agosto deve apresentar alta de 1% a 2%, a depender da região. E espera-se que o movimento de valorização ganhe força a partir de setembro.
Apesar do aumento da margem do produtor nos últimos meses – e de certa estabilidade nos custos de produção – o estímulo à atividade foi menor do que o esperado. Isso ficou evidente, em meados de agosto, com a divulgação dos dados mais recentes da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE. O levantamento apontou que, em âmbito nacional, a captação de leite cru pelas indústrias de laticínios caiu 6,2% no segundo trimestre em relação ao primeiro. Comparando com o mesmo período do ano passado, o incremento foi de apenas 0,8%.
A desconexão entre as expectativas dos agentes do mercado e os dados de captação comprova a dificuldade do setor em dimensionar seu potencial de oferta diante de tantas mudanças estruturais recentes do sistema agroindustrial do leite. Isso se traduz numa fonte importante de incerteza para quem transaciona leite cru no Brasil, o que impede a previsibilidade, o planejamento de longo prazo e o gerenciamento de riscos. Além disso, os agentes de mercado também podem ficar mais expostos e vulneráveis à especulação.
A recuperação da produção, como era previsto no início de agosto, não aconteceu sobretudo devido ao clima extremo. O excesso de chuvas e enchentes no Rio Grande do Sul em maio fizeram com que a oferta crescesse pouco entre julho e agosto. A entressafra no Sudeste e Centro-Oeste se intensificou com o calor a partir de agosto. E as queimadas em setembro fizeram esse cenário se agravar a nível nacional. Além de comprometer o bem-estar animal, os incêndios têm prejudicado a produção de forragens para alimentação animal, o que eleva o custo de produção e limita a oferta.
Como a produção não se recuperou conforme o previsto, os estoques de lácteos nas indústrias não foram repostos como esperado. O consumo tem se mantido firme e os estoques, nos laticínios, já estão abaixo do normal – o que pode elevar as cotações em setembro. Segundo o CEPEA, em agosto, apesar de o UHT e o leite em pó terem se desvalorizado, o preço da muçarela já tinha aumentado devido ao menor estoque.
Outro fator que contribui para a menor disponibilidade de lácteos entre agosto e setembro foi a diminuição das importações. Dados da Secex compilados pelo Cepea mostram que, em agosto, houve queda de 25,2% nas importações de lácteos, totalizando 187,8 milhões de litros em equivalente.
Fonte: CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada