Os desdobramentos mais recentes do comércio internacional colocam os produtores de laticínios da União Europeia (UE) em águas agitadas. A dinâmica entre China e UE deu mais um passo retaliatório, gerando preocupação em diversos setores, especialmente no mercado de lácteos. Isso ocorre após uma série de medidas adotadas por Pequim em resposta às tarifas da União Europeia sobre veículos elétricos chineses – uma disputa iniciada com a investigação antissubsídios da UE contra os EVs chineses em 2023.

A escalada da disputa comercial

Imagine um tabuleiro de xadrez, com China e União Europeia como os principais jogadores. O primeiro movimento foi da UE, ao impor tarifas sobre carros elétricos chineses. Pequim respondeu rapidamente com tarifas sobre importações europeias, começando por conhaque e carne suína, e agora voltando sua atenção aos produtos lácteos. Esse jogo de retaliações é um exemplo clássico de guerra comercial, na qual produtos acabam se tornando peças de um embate político maior.

Impactos sobre os laticínios

As novas tarifas impostas pela China tornam os produtos lácteos europeus – como os queijos – significativamente mais caros para os consumidores chineses. Como consequência, os exportadores europeus enfrentam grandes desafios, com destaque para os produtores franceses de queijo, particularmente vulneráveis a essas mudanças econômicas. Esse cenário pode levar compradores chineses a buscar outros fornecedores globais, como a Nova Zelândia, que passa a ter vantagem competitiva.

Ao mesmo tempo, empresas chinesas de laticínios, que já enfrentam excesso de oferta de leite e preços internos reduzidos, podem encontrar um certo alívio. Ao tornar os produtos europeus menos atrativos devido ao aumento de preços, a concorrência externa diminui.

Negociações em andamento

Enquanto China e União Europeia continuam negociando as tarifas sobre veículos elétricos, persistem divergências importantes. Atualmente, as tarifas sobre laticínios são provisórias, com possibilidade de ajustes conforme a decisão final prevista para meados de fevereiro de 2026.

Segundo Shawna Morris, vice-presidente executiva de política comercial e assuntos globais da National Milk Producers Federation, se essas tarifas sobre queijos europeus forem mantidas, isso pode melhorar a competitividade das exportações de queijo dos Estados Unidos para a China.

“As tarifas sobre os produtos da UE são apenas provisórias; elas podem ser revisadas ao final da investigação, em meados de fevereiro de 2026”, afirma Morris. “O maior desafio para os exportadores americanos de queijo continua sendo o acesso livre de tarifas dos produtos da Nova Zelândia, graças ao acordo de livre comércio que o país tem com a China.”

Matt Herrick, vice-presidente executivo e diretor de impacto da International Dairy Foods Association (IDFA), afirma que a sobreposição direta entre os produtos lácteos dos EUA e da UE enviados à China não é tão grande. Ainda assim, ele destaca: “Se surgir uma oportunidade de mercado devido a essa ação ou a outras medidas bilaterais adotadas por parceiros comerciais contra nossos concorrentes, os exportadores americanos de lácteos estão prontos para ocupar esse espaço e fornecer produtos de alta qualidade a preços competitivos.”

Herrick também ressalta a importância estratégica de os exportadores americanos diversificarem seus mercados além da China. Historicamente, a China tem sido o terceiro maior destino das exportações de lácteos dos EUA, atrás apenas do México e do Canadá, representando de 7% a 10% do valor total exportado anualmente. No entanto, o esforço chinês por maior autossuficiência deve reduzir a demanda por importações, criando um desafio competitivo direto para os produtos americanos.

Para enfrentar esse cenário, a indústria de laticínios dos EUA vem trabalhando ativamente na abertura de novos mercados. Herrick cita esforços conjuntos com o governo Trump que resultaram em novos tipos de acordos e demonstra otimismo em relação à cooperação com o USTR e a Casa Branca para explorar oportunidades no Sudeste Asiático, Oriente Médio, Norte da África, América Central e América do Sul. Essa estratégia busca reduzir a dependência de um único grande mercado.

Esses pontos estão alinhados com os argumentos apresentados em um artigo de opinião de Gregg Doud, presidente da National Milk Producers Federation (NMPF) e Michael Dykes, CEO da IDFA.

Phil Plourd, presidente da Ever.Ag Insights, afirma que, em termos gerais, isso tornará o queijo europeu mais caro na China.

“Isso não é algo ruim do ponto de vista dos Estados Unidos”, diz ele. “Ao mesmo tempo, não estou convencido de que os volumes envolvidos sejam suficientes para provocar uma mudança realmente significativa.”

Em tempos incertos e voláteis, o comércio global de lácteos passa por um realinhamento impulsionado por movimentos estratégicos no tabuleiro econômico internacional. Enquanto o mundo aguarda o desfecho das negociações em andamento, agentes de diversos setores permanecem atentos, prontos para se adaptar às mudanças constantes do comércio global. Para a indústria de laticínios da União Europeia, os próximos meses serão decisivos para definir os impactos dessas tensões comerciais e seus reflexos no mercado mundial.

Parte superior do formulário

Parte inferior do formulário

Fonte: Dairy Herd Management