CNA: O momento é de avaliar a composição do rebanho

CNA: O momento é de avaliar a composição do rebanho

14 de agosto, 2021

O ano de 2021 segue bastante desafiador para os produtores de leite. De janeiro a junho, o Custo Operacional Efetivo (COE) da atividade acumula alta de 11,49%, sendo que - ao longo do ano passado - ele já havia subido expressivos 23,24%. Neste contexto, o insumo que mais vem pesando no bolso do produtor tem sido o concentrado, que se valorizou 11,34% (“média Brasil”) no primeiro semestre de 2021, por causa da grande elevação nos preços da soja e do milho.

Apesar da recente recuperação nos preços do leite pago ao produtor, em função da entressafra, estes ainda estão longe de compensar o contínuo avanço nos custos de produção. De janeiro a junho, a receita do produtor variou positivamente 3,52% (“média Brasil”), cotado em R$ 2,201/litro. Com as margens apertadas, muitos produtores se mostram preocupados quanto ao futuro da atividade (Gráfico 1).

Somente uma análise detalhada de cada propriedade é capaz de avaliar se os possíveis resultados insatisfatórios são reflexo das condições do mercado ou de ineficiências dentro do sistema. Este diagnóstico é fundamental para o sucesso da atividade, pois permite ao produtor adequar sua estratégia às condições de mercado, gerando eficiência e reduzindo custos desnecessários.

Dados do Projeto Campo Futuro (CNA/Senar) mostram que dentre os gargalos nas propriedades leiteiras, alguns acabam sendo recorrentes. Um caso é a estrutura de rebanho, que muitas vezes está longe de ser a ideal; ou seja, poucos animais contribuindo com a receita e muitos apenas gerando custos, como aqueles em recria.

Em um cenário de alta nos custos de produção, propriedades com rebanhos desestruturados e menos produtivos tendem a sentir mais os efeitos em suas margens. Como consequência, tendem a investir ainda menos nas categorias de reposição, uma vez que os gastos se concentram nos animais em produção, que geram renda.

Diversidade da produção de leite brasileira

O Brasil possui uma pecuária leiteira extremamente heterogênea, com modelos distintos para recria de bezerras. Muitas propriedades do Sudeste e Centro-Oeste, avaliadas pelo Projeto Campo Futuro, praticam a recria de maneira extensiva, com pouca ou quase nenhuma suplementação dos animais. Nestes casos, as fases finais do crescimento dos animais jovens são realizadas em regime exclusivamente a pasto, recebendo apenas sal mineral.

Por outro lado, sistemas que utilizam suplementação para os animais de recria, conseguem obter um desenvolvimento mais rápido de suas bezerras e, desta forma, adiantar a primeira parição e trazer mais renda ao sistema. Quando a novilha do primeiro sistema estiver parindo, a novilha do sistema mais intensivo estará se aproximando quase fechando sua primeira lactação. O ganho nesse sentido é duplo, tendo em vista que o animal deixou de gerar apenas despesas e começou a contribuir gerando recursos oriundos da comercialização do leite produzido.

Os custos maiores com a nutrição e o aumento da necessidade de mão de obra na fase do nascimento à desmama, que poderiam ser fatores apontados como impeditvos para a adoção de sistemas de recria mais intensivos, deixam de ser considerado tendo em vista o reflexo nas margens da atividade.

Essa questão torna-se ainda mais crítica quando a recria das propriedades tiver mais animais do que realmente seriam necessários para suprir a necessidade de reposição ou mesmo o planejamento de crescimento da atividade. Alguns indicadores zootécnicos das propriedades modais acompanhadas pelo Projeto Campo Futuro também evidenciam as diferenças em termos de margens, dentre eles o percentual de animais em lactação sob o rebanho total.

A analise mostra que, nos modais onde a margem líquida foi positiva, existiam em média 40,2% de vacas em lactação em relação ao rebanho total. Por outro lado, nos modais de margem líquida negativa, esse valor é de 32,1% em média; ou seja, uma proporção menor de animais gera receita em relação ao rebanho.

A retenção de todas as fêmeas é compreensível, em caso onde os trabalhos de melhoramento genético estão presentes na propriedade, mas nesses sistemas as novilhas excedentes são uma importante fonte de receita para a atividade. O que se nota é que a retenção de fêmeas realizada sem critérios técnicos, acaba por aumentar excessivamente os animais em fase de recria, onerando o sistema como um todo.

Diferentemente de países como Estados Unidos, o Brasil ainda tem poucas iniciativas de terceirização da recria de fêmeas e esta poderia ser uma boa solução para algumas regiões, especialmente para as propriedades que são menores e a área é um fator limitante.

A terceirização consiste na transferência das bezerras para uma propriedade especializada na recria de animais, onde  eles recebem uma dieta adequada até atingirem sua maturidade sexual. Depois deste período, são emprenhadas e voltam para a propriedade de origem para iniciar sua vida produtiva. A maior vantagem está em se ter a garantia do retorno de um animal já produtivo a propriedade e o produtor poder concentrar seu tempo e seus esforços exclusivamente para os animais em produção.

 

Fonte: CNA/Senar - Projeto Campo Futuro

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