Há várias razões pelas quais a demanda por leite de camela é forte em alguns mercados. Ele é um alimento tradicional desejado por pessoas que emigraram de seus países de origem. O leite de camela também é um alimento halal*. Apesar de ser significativamente mais caro que o leite de vaca ou de cabra, o leite de camela tem mercado entre consumidores dispostos a pagar mais por seus benefícios à saúde. O preço varia conforme a demanda e as distâncias de transporte.

O leite de camela tem baixo teor de alérgenos, sendo uma boa alternativa ao leite de vaca para pessoas com sensibilidades. Ele também possui cerca de cinco vezes mais vitamina C que o leite de vaca, além de ser rico em vitaminas do complexo B e antioxidantes. Tem um pouco mais de sal do que o leite de vaca, é muito mais baixo em gordura e apresenta melhor estabilidade de armazenamento. O leite de camela também demonstrou reduzir o açúcar no sangue e melhorar a sensibilidade à insulina em pessoas com diabetes tipo 1 e tipo 2. Contém lactoferrina, que possui propriedades antibacterianas, antifúngicas, antivirais, anti-inflamatórias e antioxidantes.

Líderes da Good Earth Dairy, na Austrália Ocidental, acreditam que o leite de camela será um grande disruptor tanto para o leite de vaca como de cabra globalmente, especialmente como ingrediente de fórmula infantil. “Isso ocorre devido à química superior do leite, que é mais compatível com o intestino humano”, afirma Marcel Steingiesser, presidente executivo.

Além da Austrália, laticínios de camelos existem atualmente nos Estados Unidos, em diversos países da África, na Arábia Saudita, nos Emirados Árabes Unidos, na Mongólia e no Cazaquistão. Na África, Quênia, Somália e Mali produzem cerca de 64% do leite de camela do mundo, representando cerca de 8% da produção total de leite na África Subsaariana.

A maior fazenda de leite de camelos do mundo, localizada em Dubai, possui mais de 10.000 camelos, incluindo o rebanho de ordenha e machos destinados à produção de carne.

Os laticínios de camelos na Austrália

Há reportagens na mídia australiana indicando que a demanda por leite de camela está aumentando, embora a oferta continue muito limitada, com apenas sete laticínios de camelos atualmente em operação.

Vale destacar que, antes de serem domesticados na Austrália, os camelos eram (e ainda são) considerados uma praga feroz. Segundo o FeralScan, iniciativa do Centre for Invasive Species Solutions, a população de camelos selvagens da Austrália é de cerca de 1 milhão.

No entanto, para os responsáveis pela Good Earth Dairy, localizada perto da cidade de Perth, no estado da Austrália Ocidental, a população isolada de camelos selvagens australianos é uma vantagem, garantindo que seja o rebanho mais saudável do planeta.

A empresa foi fundada em 2015. Steingiesser relata que, desde então, “estamos desenvolvendo tecnologias e know-how para nos tornarmos o produtor de menor custo do leite de camela e do leite de camela em pó da mais alta qualidade”.

Criação de camelos em Minnesota?

No final de 2023, a extensão da Universidade de Minnesota anunciou uma colaboração com membros da comunidade somali para explorar a possibilidade de produção de leite de camela no estado, por meio do programa Regional Sustainable Development Partnership. Minnesota tem cerca de 76.000 pessoas de origem somali.

Para observar de perto a pecuária leiteira de camelos, funcionários da universidade e membros da comunidade viajaram recentemente para a Camelot Farms, no Colorado. É um dos dois laticínios de camelos licenciados nos Estados Unidos e envia leite de camela congelado para consumidores em todo o país.

Podem ser coletados até 5 litros de leite de camela por ordenha. O educador de pecuária leiteira da Universidade de Minnesota, James Salfer, observa que as vacas leiteiras foram selecionadas geneticamente para liberar o leite com muita facilidade, mas com as camelas o processo é mais complexo. “Frequentemente, os produtores de leite de camela deixam os filhotes com a fêmea ou permitem que eles comecem a mamar para estimular a descida do leite e depois conectam a unidade”, diz ele. “Ou então é necessário muito mais estímulo manual do úbere e dos tetos.”

Quanto ao potencial da produção de leite de camela nos Estados Unidos, Salfer acredita que o mercado será apenas de nicho, consumido principalmente por imigrantes de países onde o leite de camela faz parte da dieta cultural. “Como a América do Norte tem abundância de alimentos de alta qualidade e uma grande infraestrutura para coletar, processar e transportar leite de vaca, será muito difícil para o leite de camela competir”, afirma. “Mas acredito que existe mercado para pequenas fazendas que façam processamento no próprio local em regiões onde haja demanda.”

O futuro na Austrália

Questionado sobre sua perspectiva para a demanda e produção de leite de camela na Austrália nos próximos 5 a 20 anos, Steingiesser, da Good Earth Dairy, é muito otimista.

“Sem nenhum marketing, estamos vendendo mais de 15.000 litros por ano”, afirma. “Agora buscamos comercializar nossa tecnologia e levantar AUS$ 16 milhões (€9,8 milhões) para um projeto de AUS$ 30 milhões (€18,4 milhões) que incluirá um laticínio especialmente projetado para 3.000 camelos e uma fábrica com capacidade anual de 21 milhões de litros.”

Pequenos investidores também são bem-vindos. O site da Good Earth Dairy afirma que “por apenas AUS$ 250, você pode se tornar coproprietário de um negócio australiano de leite de camela em crescimento, que pretende se tornar um player global”. A empresa também recebeu recentemente um subsídio governamental de AUS$ 4,4 milhões (€2,7 milhões) para apoiar sua expansão.

Com produção inicial planejada de 21 milhões de litros por ano, o volume ainda é muito pequeno quando comparado aos 8,2 bilhões de litros de leite de vaca produzidos anualmente na Austrália – mas certamente é significativo.

Olhando para o futuro, Steingiesser afirma: “Eu acredito que, ao preço certo, com o sabor certo e com a educação adequada do mercado, toda a produção pode ser vendida – e o crescimento dependerá apenas do nível de capital investido."

 

*Nota: Halal é qualquer alimento que segue as normas islâmicas, estabelecidas no Alcorão, sendo permitido para consumo pelos muçulmanos. O termo Halal significa “permitido” ou “lícito” dentro das regras religiosas do Islamismo.

 

 

Fonte: Dairy Global

Disponível em: https://www.dairyglobal.net/industry-and-markets/market-trends/camel-milk-a-promising-market-with-potential-to-grow/