Leite: poder de compra e a relação de troca
09 de agosto, 2022
2021 foi marcado por oscilações de preços, tanto nos valores recebidos pelo produtor de leite como na compra de insumos. Com isso, a relação de troca exigiu cáculos apurados para assegurar rentabilidade.
O retorno da elevada inflação em 2021 impactou negativamente diversos setores da economia brasileira, entre eles a produção de leite. Segundo o ICPLeite/Embrapa, a inflação acumulada do custo de produção de leite no ano passado foi de 25,3%. Já a variação acumulada do valor do leite ao produtor mineiro foi de 1,9%, de acordo com o CEPEA-Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (2022).
Diante desse cenário, o poder de compra do produtor foi bastante afetado e este estudo apresenta sua oscilação durante o ano passado. Para tanto, selecionamos alguns insumos importantes na atividade produtiva, que compõem a alimentação do rebanho e fazem parte da limpeza da ordenha ou da produção de alimentos volumosos.
O poder de compra mensal foi obtido pela divisão do preço do insumo pelo valor recebido por litro de leite – valores praticados no mês em questão. Os preços desses insumos foram acompanhados mensalmente pela Embrapa Gado de Leite e os valores do litro de leite foram obtidos junto ao Cepea.
Conforme observa-se no gráfico 1, durante 2021 o preço médio do leite caiu no primeiro trimestre, registrando em março o menor valor do período: R$ 1,958. A partir de então, o preço foi melhorando e em setembro atingiu o seu pico – nesse mês o produtor de Minas recebeu, em média, R$ 2,412 pelo litro do leite. O último trimestre apresentou queda no preço e o ano encerrou com preço médio de R$ 2,159, valorizando-se 5,8% em relação a janeiro.
A despeito do comportamento do preço do leite, nem sempre o valor mais alto recebido pelo litro significa melhor condição para compra de insumos e vice-versa. Essa relação pode variar a depender do insumo observado e como o seu preço se comportou ao longo do ano. A tabela 1 aponta que a quantidade de litros de leite necessários para comprar adubo 0:05:20, por exemplo, foi aumentando ao longo do ano, apesar de o preço médio do leite ir se valorizando de março a setembro de 2021, situação desfavorável ao produtor que, em setembro – quando recebeu o maior valor pelo leite –, teve que dispor de 80,1 litros de leite para comprar 50 kg deste item. E essa relação só piorou nos meses seguintes, chegando a precisar de 125 litros de leite para comprar o mesmo produto em dezembro.
Situação semelhante ocorreu com outros insumos. A relação de troca do leite pela energia elétrica rural foi mais favorável em junho, quando eram necessários 240 ml de leite para pagar 1 KwH. Com a diminuição dos níveis dos reservatórios, as tarifas praticadas pelas companhias energéticas aumentaram e a relação foi piorando no decorrer do segundo semestre, aumentando em 33% a quantidade necessária de leite para cumprir a mesma obrigação em dezembro. A quantidade de leite necessária para comprar 1 litro de óleo diesel também aumentou consideravelmente, passando de 1,8 litro (janeiro) para 2,6 litros (dezembro), representando elevação de 45%.
Quanto à alimentação concentrada do rebanho: para comprar 1 saco de 30 kg de concentrado mineral em janeiro eram necessários 54 litros de leite; em dezembro, 85,7 litros, ou seja, 58% a mais. Já os meses mais favoráveis para adquirir farelo de algodão, farelo de soja e fubá, foram, respectivamente, setembro, outubro e julho. Já os mais desfavoráveis foram agosto, fevereiro e maio, respectivamente. Esse resultado está alinhado ao comportamento dos preços dos grãos, que desaceleraram no último trimestre de 2021. Por fim, o melhor mês para adquirir sanitizantes foi agosto e o pior, março, acompanhando a curva de preço médio do leite.
Além de ter atenção ao preço que recebe pelo leite, é importante que o produtor acompanhe a evolução dos preços dos insumos que compõem o seu custo de produção e os utilize de forma racional, evitando desperdícios, otimizando e ganhando eficiência na atividade.
Fonte: Anuário Leite 2022 / Embrapa