Acordo entre EUA e Reino Unido: Caminho emergente para um maior comércio de produtos lácteos
09 de maio, 2025
A perspectiva de um acordo comercial entre os EUA e o Reino Unido (UK) já era esperada há muito tempo, especialmente no setor de laticínios. Este novo arcabouço para negociações marca um ponto de virada crucial, à medida que os EUA buscam igualdade de condições com os exportadores globais de laticínios.
Desequilíbrio Comercial Atual
Segundo Gregg Doud, presidente da Federação Nacional dos Produtores de Leite dos EUA (National Milk Producers Federation), alcançar um acordo comercial robusto com o Reino Unido é um passo vital para corrigir os desequilíbrios atuais no comércio de laticínios. Embora os Estados Unidos tenham investido pesadamente em sua capacidade de processamento de laticínios (mais de 10 bilhões de dólares), o país enfrenta grandes desafios para acessar o mercado britânico.
A disparidade comercial entre os EUA e a União Europeia (UE) é particularmente gritante. Os EUA importam 3 bilhões de dólares em produtos lácteos da UE, mas exportam apenas 167 milhões. Esse desequilíbrio é evidenciado pelo fato de que as exportações americanas de queijo para países como a Guatemala superam amplamente as destinadas à UE.
“É um desequilíbrio absurdo. Nós realmente exportamos 15 vezes mais queijo para a Guatemala do que para a União Europeia”, ressalta Doud. “Os Estados Unidos e o Reino Unido já passaram da hora de firmar um acordo comercial. Esse acerto sobre uma estrutura sólida para negociações nos próximos meses é um passo importante na direção certa.”
Importância Estratégica dos Novos Acordos
Os produtos lácteos dos EUA enfrentam obstáculos adicionais no mercado do Reino Unido, devido ao acesso livre de tarifas e cotas da União Europeia (UE), além das indicações geográficas que limitam a concorrência. Além disso, os recentes acordos de livre comércio com a Nova Zelândia e a Austrália* – que eliminarão as tarifas sobre laticínios no Reino Unido ao longo de cinco anos – complicam ainda mais o cenário para os exportadores norte-americanos. Esses acordos permitem que os concorrentes acessem o mercado britânico com mais facilidade, considerando seus produtos como “de baixo risco” e isentos de certificação.
Krysta Harden, presidente do Conselho de Exportação de Laticínios dos EUA (U.S. Dairy Export Council – USDEC), destaca a necessidade de que os exportadores de laticínios amerianos conquistem vantagens semelhantes.
“O anúncio de ontem sobre um acordo EUA-Reino Unido para um arcabouço de negociações comerciais deve ser o primeiro passo no trabalho necessário para abrir oportunidades de mercado para os produtos lácteos dos EUA no Reino Unido, que importou 5 bilhões de dólares do mundo no ano passado...O Reino Unido já mantém comércio aberto com o maior exportador mundial de laticínios, a UE, e terá comércio totalmente aberto com dois dos outros maiores exportadores (Nova Zelândia e Austrália) em apenas três anos. Comércio sem tarifas, sem cotas e sem certificados é o que os exportadores de laticínios dos EUA precisam para competir em igualdade de condições nesse mercado estratégico.”
A estruturação de negociações comerciais entre EUA e Reino Unido representa um passo importante rumo à equiparação das condições para os produtos lácteos norte-americanos no mercado internacional. Com investimentos significativos e uma capacidade robusta de processamento de laticínios, os Estados Unidos estão preparados para ampliar sua presença global, desde que consigam superar os desafios relacionados ao acesso aos mercados.
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*Os Acordos de Livre Comércio entre o Reino Unido, Austrália (AUKFTA) e Nova Zelândia (NZ-UK FTA) entraram em vigor em 31 de maio de 2023, promovendo comércio mais eficiente e menos oneroso entre os países. Eles abrangem reduções tarifárias, facilitação aduaneira, comércio digital, investimentos, mobilidade de profissionais e compromissos com sustentabilidade e igualdade de gênero.
Pontos principais:
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Redução de tarifas: Mais de 99% das exportações australianas e 96,7% das exportações neozelandesas ao Reino Unido terão tarifas eliminadas ou reduzidas imediatamente. Produtos agrícolas como vinho, arroz, laticínios, carnes e frutas terão reduções graduais com cotas tarifárias (TRQs) e salvaguardas até 15 anos após a entrada em vigor.
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Serviços e investimentos: Os acordos ampliam o acesso a serviços profissionais, financeiros, legais e de telecomunicações, com reconhecimento mútuo de qualificações e facilitação de vistos temporários para trabalhadores qualificados. Proteções para investidores foram incluídas, mas sem mecanismos de disputas investidor-Estado.
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Comércio digital: Estabelecem regras para eliminar barreiras digitais, protegem dados, reconhecem assinaturas eletrônicas e eliminam exigências de localização de dados, beneficiando empresas que dependem do fluxo livre de informações.
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Compras governamentais: O AUKFTA abre amplamente o mercado de compras públicas da Austrália para empresas do Reino Unido, com foco em serviços jurídicos e de transporte. O NZ-UK FTA oferece menos flexibilidade, mas prevê expansão futura.
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Propriedade intelectual: Ambos os acordos facilitam registro e renovação de marcas, estendem a duração dos direitos autorais na Nova Zelândia e fortalecem a proteção a produtos criativos e culturais.
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Sustentabilidade e inclusão: Os acordos promovem comércio sustentável com redução de tarifas para bens ecológicos e compromisso com tecnologias de baixo carbono. Também incluem capítulos dedicados a pequenas e médias empresas (PMEs) e igualdade de gênero, incentivando a participação de empresas lideradas por mulheres.
- Implicações para empresas: As empresas dos três países podem se beneficiar com novos acessos a mercados, ajustes nas cadeias de suprimentos, oportunidades de investimentos e expansão internacional. Os acordos se alinham com as regras do CPTPP, permitindo vantagens adicionais em regras de origem entre membros.
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Fonte: Dairy Herd Management
Traduzido e adaptado pelo Canal do Leite
Disponível: www.dairyherd.com/news/exports/path-fair-trade-emerging-u-s-uk-dairy-agreemen