Oferta crescente interrompe movimento de alta nos preços do leite
31 de agosto, 2024
Interrompendo o movimento de alta que vinha sendo observado desde novembro de 2023, o preço do leite captado em julho registrou queda real de 1,5% frente a junho, levando a “Média Brasil” a R$ 2,7225/litro, de acordo com o CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
Em termos reais, porém, esse preço ainda supera em 7,9% o de julho/23 (valores deflacionados pelo IPCA de julho/24). Apesar de o preço do leite pago ao produtor acumular avanço real de 30,1% desde o início de 2024, a média de janeiro a julho deste ano (de R$ 2,50/litro) está 11,5% inferior à do mesmo período de 2023.
A queda nos valores ao produtor é explicada pelo aumento da oferta nacional. O Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) do Cepea avançou 4,6% em julho. Todos os estados registraram alta na captação, mas o resultado foi puxado sobretudo pelos fortes crescimentos em Minas Gerais (8%), no Rio Grande do Sul (4,7%) e em Santa Catarina (4,1%).
A produção de leite vem se recuperando devido aos investimentos de pecuaristas em nutrição do rebanho. Mesmo que o Custo Operacional Efetivo (COE) tenha subido 0,62% em julho, de modo geral, a margem bruta do produtor se manteve em alta. Estima-se que a margem bruta do pecuarista tenha avançado 3,93% de junho para julho, passando de R$ 0,82 para R$ 0,85 por litro, considerando-se a “Média Brasil”. Os cálculos são do CEPEA em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), tomando-se como base propriedades típicas amostradas no projeto Campo Futuro.
Além do avanço na produção interna, as importações continuam elevando a disponibilidade de lácteos no mercado nacional. Em junho, houve aumento de 37,4% nas compras, totalizando 251,1 milhões de litros em equivalente leite, segundo dados da Secex. Essa quantidade supera em 35,3% a internalizada no mesmo período do ano passado.
Ademais, indústrias de laticínios seguiram com dificuldade em garantir margem nas vendas dos lácteos. Pesquisas do CEPEA mostram que, em julho, o leite UHT, a muçarela e o leite em pó fracionado se desvalorizaram 5,68%, 2,03% e 0,25%, respectivamente. Isso também influenciou o pagamento da matéria-prima daquele mês.
Diante desse contexto, a expectativa é de que o terceiro trimestre seja marcado pelo recuo das cotações do leite cru.
Gráfico 1. Série de preços médios recebidos pelo produtor (líquido), em valores reais (deflacionados pelo IPCA de julho/2024)
Fonte: CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada