Oferta menor acentua disputa por leite e preço ao produtor deve subir em julho
18 de julho, 2020
A menor oferta de leite deve sustentar o movimento de valorização do produto em julho, segundo projeção do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA). Isso deve favorecer os produtores, apesar do cenário de incertezas criado pela pandemia da Covid-19 em todas os segmentos da atividade econômica.
Segundo a analista Natália Grigol, da equipe leite do Cepea, pesquisas da entidade indicam que a competição acirrada entre laticínios para garantir a compra de matéria-prima deve intensificar a alta, podendo levar os preços para patamares superiores aos verificados em anos anteriores.
Leia, abaixo, a análise de Natália Grigol sobre o mercado leiteiro, publicada na edição julho do boletim do leito do Cepea, divulgado nesta quinta-feira 15:
Existe uma tendência típica de aumento das cotações ao produtor entre março e agosto, devido à sazonalidade da produção. Neste período, a captação de leite é prejudicada pela baixa disponibilidade de pastagens, em decorrência da diminuição das chuvas no Sudeste e Centro-Oeste.
Em maio, o Índice de Captação Leiteira (ICAP- -L) do Cepea registrou queda de 0,2% frente a abril na “Média Brasil”, fator que estimulou o aumento em 9,5% das cotações de junho (os valores foram deflacionados pelo IPCA de junho/20), que chegaram a R$ 1,5135/litro.
Assim, para julho, o contexto de oferta reduzida no campo deve sustentar o movimento de valorização do leite. Pesquisas ainda em andamento do Cepea indicam que a competição acirrada entre laticínios para garantir a compra de matéria-prima deve intensificar a alta, podendo levar os preços para patamares superiores aos verificados em anos anteriores.
O aumento da competição entre indústrias, por sua vez, está atrelado à necessidade de se refazer estoques de derivados lácteos. Tipicamente, as indústrias empenham esforços nessa direção antes de abril, prevendo que a captação caia nos meses posteriores.
Contudo, neste ano, as perspectivas negativas sobre o consumo no médio e longo prazos diante da pandemia da covid-19 aumentaram o nível de incerteza em abril e diminuíram o investimento das indústrias em estoques.
Com a reação no consumo (ancorada nos programas de auxílio emergencial), as vendas de lácteos se fortaleceram em maio e junho, reduzindo ainda mais os estoques. Diante disso, houve expressivas altas nos preços dos derivados lácteos em junho. No campo, a oferta restrita no mês resultou em disparada no preço do leite spot. Na média do mês, o preço do leite spot em Minas Gerais ficou 45% acima do de maio, em termos nominais, chegando a R$ 2,28/litro. Nesse sentido, as altas nos mercados de derivados e de spot em junho devem ser repassadas no pagamento ao produtor de julho (referente à captação de junho).
Agosto
Existe uma defasagem temporal no repasse das condições de mercado para o produtor, de modo que as negociações quinzenais do leite spot e a venda dos lácteos de julho irão influenciar os valores do leite captado naquele mês, que serão pagos ao produtor em agosto. O leite spot registrou valorização de 1% na primeira quinzena de julho, chegando a R$ 2,34/litro em Minas Gerais. O mesmo se observou para a muçarela, que se valorizou 2,4% no mesmo período. No caso do leite em pó, houve estabilidade das cotações e, no do UHT, houve queda acumulada de 0,5% na primeira quinzena de julho.
Parte dos agentes consultados pelo Cepea acredita que o preço ao produtor continue subindo em agosto, fundamentada na oferta limitada no campo.
No entanto, outra parcela de agentes acredita que a valorização em agosto pode ser freada por dois fatores: o primeiro é a pressão dos canais de distribuição, em especial nas negociações de UHT, dado que estes procuram atrair consumidores com preços baixos nesse período delicado de diminuição da renda agregada; o segundo é a retomada da produção no Sul do país, que, já em junho, deve se elevar consideravelmente em virtude das melhores condições climáticas e também do aumento do fornecimento de concentrado e silagem, estimulados pelos patamares de preços do leite”.
Fonte: CEPEA - Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada