Panorama atual do consumo de lácteos no mundo
20 de junho, 2025
Há 30 anos, cada habitante do mundo consumia uma média de 155 litros de leite por ano. Esse valor representa a soma de todos os lácteos transformados em litros de leite equivalentes. Atualmente, esse consumo subiu para 182 litros, incremento de 17%. Embora esse número pareça modesto, trata-se de uma média global, que aponta que, em termos absolutos, nos últimos anos o consumo de leite e derivados no mundo tem aumentado em torno de 1 litro por ano.
Dados do International Farm Comparison Network (IFCN) de 127 países revelam que os países que registraram as maiores taxas de crescimento (acima de 300%) nas três últimas décadas foram Vietnã, China, Mianmar, Ruanda e Uganda, impulsionados pelos baixos índices registrados no início da série histórica e expressivo aumento da renda. São regiões que culturalmente faziam menor uso do leite nas dietas no passado. Entretanto, essas regiões, incluindo a China, aderiram a dietas com características ocidentais, incorporando produtos lácteos, principalmente por parte da população mais jovem e urbana.
O principal destaque nesse sentido é o Turcomenistão, que já possuía um nível relevante de consumo em 1996 (179 litros por habitante/ano) e passou para atuais 423 litros, ou seja, aumento significativo de 136%, superando em muito a média mundial. Por outro lado, países como Zimbábue, Afeganistão, Zâmbia, Líbano e Madagascar tiveram quedas expressivas no consumo per capita, chegando a reduzir em até 57% os volumes consumidos. Muitas dessas quedas estão associadas a crises econômicas, desastres ambientais e instabilidades políticas.
A Irlanda lidera o ranking mundial (figura 1), com consumo per capita de 601 litros de leite por ano, seguida pela Dinamarca, com 507 litros. Ambos são países com tradição consolidada no consumo de lácteos, além de contar com políticas públicas que incentivam a produção e o consumo.
No extremo oposto, países como Gana, Malawi, Madagascar e Zimbábue apresentam os menores níveis de consumo, com valores inferiores a 10 litros por habitante/ano. Essas nações, localizadas na África e no Sudeste Asiático, enfrentam desafios, como baixo poder aquisitivo da população, infraestrutura precária de produção e de distribuição e alta prevalência de intolerância à lactose.
Em suma, essa disparidade reflete não apenas diferenças econômicas, mas também fatores culturais, climáticos e de infraestrutura que influenciam o acesso e a preferência por produtos lácteos. Para entender melhor essas nuances, analisamos o consumo de leite por continente.
EUROPA E OCEANIA: REGIÕES DE GRANDES CONSUMIDORES DE LEITE
A Europa destaca-se como um continente com elevado consumo médio de leite, atingindo 301 litros por habitante/ano. A região abriga alguns dos maiores países consumidores globais, como Irlanda, Dinamarca, Luxemburgo e Suíça, com níveis de consumo acima de 415 litros. No entanto, mesmo dentro do continente europeu, há variações significativas. Moldávia, Hungria e Macedônia do Norte apresentam consumos modestos, abaixo de 186 litros.
A renda média elevada na Europa e a tradição cultural de consumo de lácteos, aliada a políticas públicas que incentivam a produção e o consumo, explica em grande parte o protagonismo europeu no cenário global. Além disso, a eficiência das cadeias de suprimentos e a forte presença de cooperativas e indústrias lácteas contribuem para a acessibilidade e a diversificação dos produtos lácteos na região.
No ranking de continentes, a Oceania se sobres - sai como o maior consumidor, com consumo médio de 308 litros por habitante/ano. A Nova Zelândia e a Austrália consomem 313 e 304 litros, respectiva - mente. A Nova Zelândia, em particular, é conhecida por sua forte indústria láctea, que exporta a maior parte do que produz, mas também mantém um consumo interno significativo, impulsionado por programas como o Milk for Schools, que incentiva o consumo de leite entre crianças em idade escolar.
A Austrália, por sua vez, também mantém importantes iniciativas de promoção e valorização dos lácteos, como a campanha Legendairy, premiada internacionalmente, que tem contribuído para manter as elevadas taxas de consumo na região.
CONTRASTES DO CONSUMO NA ÁSIA E NAS AMÉRICAS E A ÁFRICA DE POUCO LEITE
O continente asiático apresenta uma das maiores heterogeneidades no consumo de leite. Enquanto países da Ásia Central, como Turcomenistão e Cazaquistão, registram consumos elevados, de 423 e 287 litros por habitante/ano, respectivamente, nações do Extremo Oriente e do Sudeste Asiático, como China, Tailândia e Vietnã, têm níveis inferiores a 37 litros. No entanto, vale ressaltar que, dos 34 países asiáticos que constam na base de dados do IFCN, apenas 32% deles superam a média de consumo mundial.
Essa disparidade está ligada a fatores culturais, como a alta prevalência de intolerância à lactose em algumas populações e a preferência por dietas baseadas em cereais e vegetais. A Índia, por exemplo, apresenta consumo mediano de 180 litros, refletindo tanto a diversidade regional quanto o crescimento econômico recente, que tem ampliado o acesso a produtos lácteos, especialmente em áreas urbanas. No entanto, o consumo ainda é limitado em muitas regiões rurais, onde a infraestrutura de produção e distribuição é precária.
Nas Américas, o consumo médio de leite é de 138 litros por habitante/ano (menor que a média mundial de 182 litros), com diferenças marcantes entre as regiões. Na América do Norte, os Estados Unidos e o Canadá lideram, com indicadores que chegam a 286 e 270 litros, respectivamente. Esses volumes chegam a ser mais de cinco vezes maiores do que os verificados em países como Guatemala e Bolívia, que apresentam consumo abaixo de 43 litros.
Na América do Sul, o Equador se destaca como o maior consumidor, com 277 litros por habitante/ ano, seguido por Uruguai (224 litros), Argentina (194 litros) e Brasil (188 litros). Por outro lado, países como Bolívia, Peru, Paraguai e Venezuela têm consumos inferiores a 100 litros por habitante/ano, refletindo desafios econômicos, de infraestrutura, de renda e hábitos alimentares que restringem o acesso a produtos lácteos.
O Brasil, apesar de ter aumentado 53% o consumo de leite nos últimos 30 anos, de 123 litros por habitante/ano em 1996 para os atuais 188 litros, tem consumo apenas próximo à média de consumo mundial. Em comparação aos demais países da América do Sul, o Brasil supera o consumo de seis países, mas está abaixo de outros três. Dentre os 127 países acompanhados pelo IFCN, o nível de consumo anual de leite por habitante coloca o país na 57ª posição no ranking global.
Já o continente africano apresenta a menor média de consumo de leite, com apenas 58 litros. Os países de maior consumo por lá são Sudão, Argélia, Quênia, Egito e Moçambique, que registram médias que va - riam de 103 litros a 173 litros, enquanto nações como Malawi, Nigéria, Zimbábue, Madagascar e Gana não passam de 9 litros. As condições climáticas adversas, a falta de infraestrutura para produção e distribuição e o baixo poder aquisitivo da população são alguns dos fatores que explicam tal indicador. Além disso, a competição com outras fontes de calorias mais acessíveis, como cereais e tubérculos, também contribui para o consumo limitado de lácteos.
Fonte: EMBRAPA – Anuário Leite 2025