Produção de leite orgânico está crescendo no Brasil
12 de dezembro, 2022
A produção de leite orgânico deve crescer nos próximos anos no Brasil. O segmento vem apresentando bons resultados, impulsionado por um mercado que busca alimentos mais saudáveis, produzidos com boas práticas, respeitando o bem-estar animal, questões sociais e o meio ambiente. Este nicho de mercado também agrega valor aos produtos, gerando maior rentabilidade para os produtores.
A médica veterinária, mestre e doutora em zootecnia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Vanessa Amorim Teixeira, explica que a produção de leite orgânico cresce no mundo e ainda tem muito espaço para se desenvolver em nosso país. Segundo dados da Global Organic Dairy Market, em 2023, o mercado mundial de leite orgânico deve movimentar US$ 28 bilhões.
“No Brasil, a produção de leite orgânico ainda é muito recente, mas o país é um dos que têm mais potencial para desenvolver a atividade orgânica. Isso porque o sistema produtivo do leite já tem eficiência muito grande e utilizamos o sistema a pasto, com os animais livres. A produção do leite orgânico pode até ter sistema de confinamento, desde que os animais fiquem pelo menos seis horas livres”.
Para ela, apesar da atividade estar em fase de estruturação e expansão, algumas marcas já estão investindo na produção de orgânicos local, como Nestlé e Danone que - de 2018 a 2020 - investiram fortemente em ações para a adesão de novos produtores. O Brasil tem atualmente 150 produtores de leite orgânico, distribuídos em 100 unidades produtivas. O principal estado produtor é São Paulo, seguido por Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Santa Catarina.
Vanessa explica ainda que o sistema de produção do leite orgânico é diferente da produção do leite convencional e segue uma regulamentação própria do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). A produção é a mais natural possível e preza pelo bem-estar animal.
“O leite orgânico é um sistema de produção diferente do convencional. A produção é regulamentada e tem um manejo ambiental, social e dos animais diferenciado. O produtor precisa se adequar a diversas características técnicas como, por exemplo, fertilidade do solo em sistema orgânico, adubação verde, rotação de culturas, sem o uso de produtos químicos. A lista de exigências é ampla e até mesmo a higiene na hora da ordenha deve ser feita com produtos diferenciados, sem o uso de químicos”.
A saúde animal também é um ponto muito bem trabalhado. Para o tratamento de doenças dos animais é usada a homeopatia e fitoterápicos. “Os cuidados com o rebanho são muito mais preventivos, voltados para uma melhor imunidade. Mas, quando necessário, é permitido tratar o animal com medicamentos como antibióticos. Porém, a produção de leite da vaca fica um período sem ser captado, que varia conforme o medicamento usado”.
Para se obter melhor resultado, segundo Vanessa, a maioria dos pecuaristas que produzem o leite orgânico já utiliza animais adaptados para o sistema, sendo mais resistentes, com boa produtividade e podendo trabalhar a pasto.
Toda a produção orgânica precisa ser muito bem planejada e estruturada e, após atender ao regulamento, deve passar pelo processo de certificação. “Depois que o produtor adequar todo o sistema ao regulamento técnico, ele deverá buscar a certificação do MAPA ou de empresas particulares para ter o selo de orgânico Brasil. Depois de ingressar no processo para a certificação, a propriedade passa por um período de conversão. São 12 meses para a área produtiva ser considerada orgânica e seis meses para os animais”.
Dentre os desafios enfrentados está a dificuldade de produção de insumos para a alimentação do rebanho. “O milho e a soja utilizados devem ser orgânicos e não transgênicos, o que é muito difícil de ser produzido ou encontrado. Por isso, antes de começar a produzir o leite orgânico, tem que estruturar a cadeia de fornecedores. O produtor também pode produzir a alimentação”, explicou ela.
Outro desafio é a rede de captação e processamento do leite, que deve ser feita por empresas que têm a produção orgânica. Mas, superados todos os desafios, ao contrário da produção de leite convencional, o leite orgânico tem mais valor agregado e garante rentabilidade ao pecuarista. “O valor agregado do leite orgânico é alto e tem um mercado crescente. O valor fica bem acima do tradicional e o custo é mais barato, uma vez que o sistema é auto suficiente”.
Fonte: Diário do Comércio