Produtores americanos forçados a descartar leite enquanto lojas limitam compras de consumidores

Produtores americanos forçados a descartar leite enquanto lojas limitam compras de consumidores

03 de abril, 2020

Enquanto a maioria dos supermercados nos Estados Unidos impôs limites às compras de produtos lácteos, produtores americanos foram forçados a jogar fora grandes quantidades de leite em toda a região do Atlântico Central e nos estados do Nordeste e do Sudeste do país. Há, também, alguns relatos indicando que o mesmo começou a acontecer em Wisconsin nesta semana. Na quarta-feira, 26 de março, a Agência Reguladora do Setor de Laticínios na região nordeste do país confirmou que entre seis e oito empresas, principalmente cooperativas, relataram haver descarte de leite no final de março.

O pagamento, a precificação e a utilização do leite nos Estados Unidos são regulados pelo Departamento de Agricultura americano (USDA) em 11 regiões diferentes do país, em um sistema chamado de “Ordens Federais de Comercialização do Leite” (Federal Milk Marketing Orders). Os preços pagos aos produtores são baseados, em parte, na coleta de leite e nos relatórios de utilização feitos pelos “handlers” (empresas processadoras) de leite no final de cada mês - dividindo o leite em quatro classes de acordo com a forma com que foi usado: Classe I - leite fluido; Classe II - iogurte, sorvete, coalhada e outros produtos "soft"; Classe III - queijo e soro; e Classe IV - manteiga e leite em pó. O leite da Classe I tem o maior preço*.

O USDA, em Washington, recebeu inúmeras ligações telefônicas e consultas de cooperativas e laticínios na semana passada e emitiu um comunicado afirmando que “em resposta às perguntas da indústria de laticínios, o USDA vai permitir algumas flexibilidades...para atender às mudanças na demanda dos consumidores dentro do programa de Ordens Federais. As flexibilidades atenderão às novas necessidades dos produtores rurais e dos processadores de laticínios, visando garantir o escoamento eficiente do leite das fazendas até os consumidores. O USDA quer que o público se sinta seguro de que os pontos de venda terão leite disponível”.

Os relatos começaram com a notícia de que as cooperativas Mount Joy Farmers Cooperative e Dairy Farmers of America (DFA) seriam forçadas a descartar o leite do leste do Condado de Lancaster por falta de uma planta para processá-lo no fim de semana (28 a 29 de março). Isto cresceu para incluir a confirmação de produtores nos condados de Berks, Líbano, Franklin e Cumberland sendo forçados a despejar leite no início desta semana.

Na segunda-feira, todos os produtores de fazendas leiteiras independentes da Clover Farms Dairy, na Pensilvânia, estavam recebendo avisos de que teriam que descartar 48 horas de produção de leite no final do mês entre segunda e quarta-feira (30 de março a 1 de abril). Acrescente a isso, a confirmação de que os produtores membros da DFA estavam jogando leite fora em Nova York e Vermont e de que pequenas cooperativas independentes em Nova York estavam tendo que descartar parte de seu leite ou seriam excluídas do mercado 'spot' e precisar jogar leite fora.

Fazendas nos estados do sudeste, por sua vez, começaram a relatar que também estavam sendo notificadas de que teriam que descartar leite, sem ter para onde escoar o produto. Além disso, produtores que entregam leite para Land O'Lakes, na Pensilvânia, relataram descartar cargas significativas de leite na terça-feira, depois que os embarques para a fábrica de engarrafamento da Weis Markets foram recusados. Mesmo com as lojas da Weis Markets em toda a região tendo suprimento escasso de leite e ainda estarem impondo limites de 2 galões por comprador a partir de quarta-feira, 1 de abril.

Enquanto grandes lojas varejistas como Walmart, Weis, Aldi, Target, Gigants, entre outras, foram confirmadas como tendo refrigeradores de laticínios escassos ou vazios, os produtores continuaram sendo forçados a jogar leite fora, supostamente porque as fábricas de laticínios estavam cheias, as lojas não estavam fazendo pedidos e a demanda dos consumidores diminuiu depois de ser descrita pelo USDA na semana anterior como "exponencialmente maior" do que um ano atrás e "extraordinária" na semana anterior a esta.

Como as cadeias de suprimentos da indústria ajustam as linhas de produtos das escolas e restaurantes para produtos embalados ao varejo, algumas fábricas relataram não conseguir processar o leite com a rapidez suficiente para duas semanas de demanda crescente, trazendo leite de fora. Mas, acabaram se deparando com as lojas impondo limites às compras dos consumidores de modo a não ampliar o risco de ficarem sem estoque de outras marcas. Também foram citadas dificuldades na descarga de leite para as lojas da cidade de Nova York.

Em termos de produtos manufaturados no varejo, a manteiga continua praticamente indisponível nas lojas verificadas em toda a região do Atlântico Central e os relatórios provenientes de outras áreas indicam suprimentos escassos semelhantes e compras restritas.

Na quarta-feira, 1 de abril, algumas lojas foram reabastecidas com leite e produtos lácteos e algumas cadeias estavam tirando as restrições por consumidor, mas eram a exceção, não a regra. Quase universalmente, no entanto, a manteiga estava ausente ou limitada nos pontos de venda, apesar de um relatório de estoque a granel do USDA afirmarna semana passadana semana passada, que havia 25% mais manteiga em estoque do que no ano anterior.

É notótio - de acordo com as regras da programa de Ordens Federais e com as flexibilidades anunciadas - que os processadores de leite da Classe I têm um claro incentivo financeiro para agrupar e precificar o leite descartado dentro da "Ordem", porque ele será precificado pelo valor mais baixo da classe (U$ 14,87 em vez de U$ 20,71), permitindo que os processadores se beneficiem do pool enquanto diluem o percentual de utilização da Classe I que foi exponencialmente maior em toda a Ordem Federal do Nordeste nas duas semanas anteriores, de modo a reduzir o preço definido pelo USDA com base nos relatórios de receitas e utilização dos processadores de leite para março.

Embora existam relatos conflitantes de alguns processadores se os produtores serão pagos pelo leite que estão sendo forçados a jogar fora, a DFA afirma que o leite descartado será agrupado e pago, mas eles estão rastreando esse leite e olhando de uma forma abrangente para ver como para lidar com isso daqui para frente.

 

Nota:

*Para março de 2020, o leite da Classe IV tem o valor mais baixo, com o preço anunciado para todos as Ordens Federais na quarta-feira (1 de abril) a US$ 14,87 por cem libras (U$ 0,3278 por litro) em comparação com o preço do leite para Classe I no nordeste de março em US$ 20,71 (U$ 0,4566 por litro).

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Fonte: Ag Moos

Tradução: Equipe Canal do Leite

Disponível em: https://agmoos.com/2020/04/02/farmers-forced-to-dump-milk-while-stores-limit-consumer-purchases/

 

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