Resistência à mosca-dos-chifres observada em bovinos da raça holandesa
25 de novembro, 2021
Alguns bovinos leiteiros da raça Holandesa, especialmente aqueles com coloração de pelagem branca, afastam naturalmente a mosca-dos-chifres, um inseto parasita conhecido por causar estresse e doenças nos bovinos, de acordo com uma nova pesquisa conduzida na Penn State's College of Agricultural Sciences, nos Estados Unidos.
As descobertas podem ajudar, de modo especial, os produtores orgânicos cujos rebanhos devem ser criados a pasto e não devem ser expostos a pesticidas sintéticos ou antibióticos, observou a pesquisadora Bailey Basiel. "A infestação da mosca-dos-chifres resulta em mais de US$ 700 milhões em perda de lucros nos Estados Unidos anualmente, com outros US$ 60 milhões gastos pelos produtores no controle da mosca", disse Basiel, que conduziu a investigação sob a orientação do professor Chad Dechow.
Além do impacto econômico, a preocupação mais significativa é o impacto da mosca-dos-chifres no bem-estar animal, explicou Basiel. "As picadas da mosca-dos-chifres são dolorosas e irritantes para o gado", disse ela. "Infestações graves podem levar à infecção bacteriana, estresse, diminuição da produção de leite, perda de peso e problemas de saúde."
Os pesquisadores queriam saber se a resistência à mosca-dos-chifres é uma característica hereditária no Holandês e, em caso afirmativo, quais genes são responsáveis por tornar esse gado menos atraente para o inseto. De 2017 a 2019, trabalhando com 13 produtores de leite orgânico nos EUA, Basiel e sua equipe documentaram cargas de moscas em mais de 1.600 animais da raça Holandesa pastando entre maio e setembro, o auge da temporada da mosca-dos-chifres.
Técnicos treinados avaliaram a carga de moscas em uma escala de zero a quatro, com zero indicando poucas ou nenhuma moscas e quatro indicando alta infestação; o sistema de pontuação foi validado pela contagem de moscas de imagens digitais. Eles também documentaram a composição da cor do gado, atribuindo valores percentuais de preto e branco, e consideraram fatores como estágio de lactação, ambiente físico, estado de saúde e capacidade de permanência, que é a probabilidade de um animal permanecer no rebanho por um determinado período.
Os pesquisadores também realizaram testes genéticos em um subconjunto aleatório de animais e enviaram os resultados ao Council on Dairy Cattle Breeding (CDCB). Esta organização sem fins lucrativos mantém um banco de dados de avaliações genéticas e previsões genômicas em rebanhos de todo o mundo.
Depois de revisar as fotos e as contagens de moscas relacionadas, os pesquisadores descobriram que os animais com pelagem predominantemente branca tinha menor carga de moscas do que aqueles que eram predominantemente pretos.
Quando comparados com as informações das descobertas genéticas, os cientistas descobriram que uma região no cromossomo 6 estava associada à maior variação na carga da mosca-dos-chifres. O gene KIT, que está envolvido no padrão e na coloração da pelagem, está localizado naquela região e provavelmente está associado à variação na carga de moscas, explicou Basiel.
Outra descoberta digna de nota está relacionada às cargas da mosca-dos-chifres e à produção de leite. "Sabemos que a infestação da mosca-dos-chifres impacta negativamente a produção de leite e de seus componentes, o que também observamos em nosso estudo", disse ela. "Vacas com pontuações mais altas de moscas reduziram a produção de leite na época da pontuação."
No entanto, a produção de leite e seus componentes estavam geneticamente correlacionados com a carga da mosca, o que significa que vacas geneticamente predispostas a produzir mais leite também eram mais suscetíveis à infestação pela mosca-dos-chifres.
Basiel e Dechow disseram que suas descobertas são preliminares e que mais pesquisas são necessárias para entender as vantagens potenciais - e desvantagens - da criação de resistência à mosca-dos-chifres . Por exemplo, bovinos com manchas predominantemente brancas são mais suscetíveis a problemas de saúde, como queimaduras solares e câncer nos olhos.
"Até determinarmos se existem outros genes ou características que influenciam a carga de moscas no gado, eu não recomendaria a criação apenas para gado branco", disse Basiel. "Estudos futuros determinarão se a seleção genética pode ser outra ferramenta para ajudar. Até então, os produtores orgânicos devem continuar a usar um bom manejo de dejetos, armadilhas para moscas e repelentes naturais para proteger seus rebanhos."
O estudo, publicado no Journal of Dairy Science, é uma conseqüência de um exame mais amplo da saúde do gado leiteiro orgânico que Dechow está liderando. Para tanto, ele recebeu uma bolsa do Instituto Nacional de Pesquisa Orgânica para Alimentos e Agricultura e Iniciativa de Extensão do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
“Os produtos orgânicos são mais caros, porque são mais caros de produzir”, disse Dechow. "Se pudermos aumentar a eficiência mesmo em uma pequena quantidade, então os produtos orgânicos, como o leite , podem se tornar mais acessíveis. Tornar os sistemas de leite baseados em pastagens mais competitivos economicamente enquanto melhora a saúde e o bem-estar animal é uma coisa boa para todos."
Fonte : Agrolink
Adaptado pelo Canal do Leite