SanCor chega ao fim da linha: Crise irreversível na tradicional Cooperativa Argentina
17 de fevereiro, 2025
O desfecho para a histórica cooperativa argentina SanCor era previsível. Depois de anos de má gestão, promessas não cumpridas e soluções improvisadas, a empresa anunciou oficialmente sua entrada em concurso preventivo de credores.
O processo foi designado ao Juizado de Primeira Instância em Matéria Civil e Comercial da Quarta Nomeação da cidade de Rafaela, província de Santa Fe, e representa o último cartucho antes de um colapso definitivo.
Uma tragédia anunciada
Fundada e administrada por produtores, a SanCor afundou por decisões equivocadas de seus próprios dirigentes. Muitos tentaram atribuir sua crise a fatores externos, como a relação comercial com a Venezuela, o governo Kirchner ou o sindicato ATILRA.
No entanto, a verdade é que diversas empresas argentinas do setor de laticínios enfrentaram os mesmos desafios e seguem operando. Algumas com dificuldades, é verdade, mas nenhuma no estado de colapso em que SanCor se encontra.
Atualmente, a cooperativa recebe menos de 150.000 litros de leite por dia, fornecidos por um punhado de produtores que ainda insistem em acreditar em uma recuperação. No auge de sua produção, a SanCor processava mais de 4,5 milhões de litros diários. A sangria de fornecedores é um reflexo da falta de confiança na gestão.
A falácia do fideicomisso*
Nos últimos anos, a SanCor tentou atrair investidores para um fideicomisso que ajudaria na recuperação da empresa. O plano nunca saiu do papel. Houve também tentativas de obter crédito governamental e o interesse de fundos de investimento como BAF e IIG, mas nada se concretizou. O tempo passou e a crise se aprofundou.
Entre 2023 e 2024, a operação foi drasticamente reduzida. A cooperativa vendeu e fechou diversas unidades produtivas, comerciais e administrativas na esperança de reverter o cenário, mas sem sucesso. Sem matéria-prima suficiente, com uma estrutura pesada e sem um plano sólido, a situação se tornou insustentável.
O concurso: uma solução tardia?
Em um comunicado oficial, a SanCor argumentou que o concurso é uma tentativa de buscar uma solução definitiva para seus problemas financeiros. A empresa assegura que continuará negociando com potenciais investidores e tentando consolidar uma saída para a crise.
Porém, a dura realidade é que poucos enxergam um futuro para a SanCor como cooperativa. O mais provável é que suas plantas sejam desmembradas e vendidas a outros players do setor lácteo. O fim parece inevitável.
A indústria láctea argentina observa de perto este desfecho. Afinal, a SanCor foi um dos grandes nomes do setor e sua queda simboliza o que a má gestão pode fazer com uma empresa que, em outros tempos, dominava o mercado.
O concurso preventivo pode ser o último respiro da SanCor, mas dificilmente evitará o desmembramento e a liquidação de seus ativos. Sem confiança dos produtores, sem investidores dispostos a apostar e sem um plano de recuperação viável, o destino da cooperativa parece selado.
O que resta agora é observar quem levará os pedaços dessa história de grandeza e decadência da indústria láctea argentina.
Nota:
*Fideicomisso é um mecanismo legal que permite a transmissão de bens a uma pessoa, com a condição de que, após um determinado tempo ou evento, os bens sejam transferidos a outra pessoa. O testador (fideicomitente) determina que a herança seja transmitida a uma pessoa (fiduciário). O fiduciário é responsável por conservar e transmitir a herança ou o legado a uma terceira pessoa (fideicomissário). O fideicomissário é a pessoa que recebe a herança ou o legado
Fonte: Edairy News