Torres inteligentes para produção de alimentos frescos para vacas leiteiras
03 de dezembro, 2021
De propriedade de Jim Cnossen – no Texas, Estados Unidos – a leiteria Cnossen Dairy começou a operar há 45 anos e, atualmente, tem 11.000 vacas em ordenha. A propriedade utiliza cerca de 3 mil hectares de terras agrícolas, mas está passando por um dos períodos mais secos já registrados.
Para lidar com a escassez de água e, ao mesmo tempo, manter a melhor alimentação para seu rebanho de alta produção, eles tiveram que buscar novas tecnologias para a fazenda. Em um acordo com a Grōv Technologies, eles estão construindo um centro de alimentação com ambiente controlado, de modo a produzir alimentos frescos durante todo o ano. O Centro de Alimentação Cnossen-Grōv será a maior instalação de cultivo de alimentos "indoors" no mundo.
Reduzindo o impacto das secas com sensores e visão computacional
Os alimentos serão produzidos dentro de "torres" (foto abaixo), as quais usam protocolos de aprendizagem de máquina para produzir grama de trigo1 (wheatgrass), que é um alimento nutritivo de alta densidade. O centro de alimentação irá produzir mais de 131.000 kg de forragem por dia, com menos de 5% da água usada na agricultura convencional. Isto será essencial para diminuir o impacto das secas, que afetam a Cnossen Dairy e muitas outras leiterias no oeste dos Estados Unidos.
Steve Lindsley, presidente da Grōv, disse que “ser capaz de fornecer às vacas uma alimentação consistente e altamente nutritiva durante todo o ano reduzirá o impacto das secas e mudanças climáticas e ajudará os Cnossens a fornecer aos consumidores um produto mais sustentável”.
A Cnossen Dairy será o segundo capítulo deste sistema de torres. A Grōv já está produzindo cerca de 13.600 kg por dia de forragem de alta densidade, na fazenda Bateman Mosida, em Elberta. Esta é a maior leiteria do estado americano de Utah, ordenhando cerca de 7.500 vacas de alta produção.
A alimentação, com alta densidade de nutrientes, é produzida de forma controlada, usando um sistema operacional baseado em nuvem, que opera e monitora automaticamente as "percepções" das torres e os geradores. Sensores e sistemas de visão por computador medem a temperatura e a umidade do ar, a quantidade de luz, o peso e o crescimento das plantas. Esses dados são integrados ao sistema operacional de cada torre e permitem à Grōv gerenciar e melhorar as operações em suas instalações ao redor do globo.
Esta forma otimizada de produzir comida não só economiza água, tempo, trabalho e espaço (1 torre substitui de 13,7 a 20,2 ha de terras agrícolas), como a alimentação com nutrientes de alta densidade é considerada benéfica para a saúde e produção de gado.
O CEO da Grōv Technologies, Steve Lindsley, explicou que a alimentação que eles produzem tem mais proteína, açúcar, amido e maior digestibilidade do que um feno de alfafa e pode substituir 20-60% de uma dieta total (TMR). “O bom perfil nutricional da nossa comida pode ajudar a melhorar a saúde e o desempenho dos animais e, também, já testamos isso na prática”.
Experimentos com alimentação para o gado
Em cooperação com o Departamento de Ciências Animal, Leiteira e Veterinária, da Universidade Estadual de Utah, a Grōv testou o impacto da alimentação de alta densidade de nutrientes para o desempenho do gado de corte e para a qualidade da carne, nas fazendas Bateman Mosida.
Neste estudo, 80 vacas holandesas (para corte) foram randomizadas em 2 grupos e alimentadas, a vontade, com uma dieta de acabamento de alta energia a base de grãos (grupo 1) ou com uma dieta contendo até 42% de grama de trigo com nutrientes de alta densidade (grupo 2). O estudo mostrou que os animais alimentados com nutrientes de alta densidade apresentaram ganho um médio diário maior (1,32 kg vs 1,27 kg) e mais peso corporal após 126 dias, em comparação com os animais alimentados com a dieta concentrada de grãos.
As carcaças do grupo alimentado com nutrientes de alta densidade tendiam a ser classificados em um grau de qualidade superior do USDA (Choice)2, em comparação com o grupo alimentadas com a dieta de acabamento (Choice menos). As amostras de carne do primeiro grupo tinham, também, uma porcentagem menor de ácidos graxos transsaturados e poliinsaturados e, ainda, uma proporção mais benéfica de ácidos graxos ômega 6 / ômega 3, em comparação com o segundo grupo.
“Nós também acabamos de iniciar uma cooperação com a Faculdade de Agricultura e Ciências da Vida da Cornell University (sede do Dairy Center of Excellence, uma das principais instalações de pesquisa do setor lácteo no mundo) para conduzir um estudo sobre o impacto de nossa alimentação na eficiência da produção de leite e na pegada de carbono,” explicou o CEO da Grōv.
Segundo ele, a tecnologia que eles desenvolveram é modular e pode ser aplicada em fazendas em todo o mundo. “Isso nos permite controlar todos os aspectos do ambiente de uma planta, dando-nos a capacidade de ajustar mais variáveis e coletar mais dados sobre o crescimento das plantas do que nunca. Isso, por sua vez, ajudará a atingir personalizações específicas de nutrientes para uma dieta total ideal para animais. Produzimos super-alimentação para super-vacas e podemos cultivar os alimentos rapidamente – em 5,5 a 7 dias.”
Melhorar e proteger as dietas
Linsdley observou, também, que o sucesso do cultivo indoors de alimentos para os animais é uma maneira de fazer mais com menos. “A quantidade de terras agrícolas não é infinita; temos que reduzir os pesticidas e usar água e antibióticos de maneira responsável. Ao mesmo tempo, aprendemos muito durante a pandemia Covid-19 sobre resiliência e vulnerabilidade da cadeia de abastecimento agroalimentar. Por ter um sistema controlado na fazenda para produzir alimentação animal, podemos melhorar e salvaguardar o fornecimento das dietas, otimizar a previsibilidade e agregar valor aos animais, às pessoas e ao planeta. O custo das torres está de acordo com o custo da forragem cultivada no campo em muitas partes do mundo.”
Notas:
1 - A grama de trigo nada mais é que uma nova grama da planta do trigo. Ela é rica em diversos nutrientes bons para a sua saúde, como as vitaminas A, C, E, G, K e do complexo B, além de fornecer sais minerais como ferro, magnésio, selênio e cálcio. Ela também fornece 17 aminoácidos e proteínas.
2 - De modo geral, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) classifica a carne bovina de duas maneiras: QUALITY GRADE (níveis de qualidade) quanto à maciez, suculência e sabor; e YIELD GRADE (níveis de rendimento) para a quantidade de carne magra utilizável na carcaça. Do melhor para o pior, os níveis de qualidade são: Prime, Choice, Select e Standard.
Fonte: Dairy Global
Traduzido e adaptado pela Equipe do Canal do Leite
Disponível em: https://www.dairyglobal.net/health-and-nutrition/nutrition/smart-towers-to-grow-fresh-cow-feed/