Vacas leiteiras enfrentam estresse térmico em todo o Brasil
17 de fevereiro, 2019
Autor: Marcelo de Paula Xavier*
As vacas de leite são afetadas pelo calor durante o verão em todas as regiões do Brasil. O estresse térmico é um dos fatores de maior impacto econômico na eficiência do rebanho, tendo efeitos negativos tanto na produção quanto na reprodução de vacas leiteiras. Nos Estados Unidos, por exemplo, pesquisas apontam que os efeitos negativos do estresse térmico chegam a representar 900 milhões de dólares por ano.
Causas e Considerações
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O estresse térmico ocorre quando o animal recebe uma carga de calor maior que sua capacidade de perder calor. As vacas sentem-se quentes antes dos humanos, com uma temperatura de 10 a 15°C mais baixa.
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Alta temperatura, umidade, radiação solar e baixa circulação de ar contribuem para o aumento do risco.
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Alta umidade relativa diminui a evaporação e reduz a capacidade da vaca de perder calor pela transpiração e pela respiração.
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Quando a temperatura é superior a cerca de 21ºC e a umidade relativa do ar é maior que 70%, as vacas começam a reduzir o consumo de ração, com uma consequente redução na produção de leite.
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As vacas Jersey são mais tolerantes ao calor, com perdas de produção insignificantes até 25ºC.
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As vacas irradiam calor durante a noite para os ambientes mais frios. Noites quentes e nubladas podem reduzir o resfriamento, aumentando o risco de estresse térmico.
Efeitos
Como nos seres humanos, as vacas provavelmente sentem dores de cabeça, irritabilidade e letargia quando estão muito quentes e/ou não têm água suficiente. Para lidar com o calor, as vacas usam uma variedade de estratégias, incluindo:
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aumento da taxa de respiração e sudorese;
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aumento do consumo de água;
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diminuição do consumo de ração;
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diminuição na produção de leite;
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alteração na composição do leite (por exemplo o % de gordura e proteína diminuem);
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alteração na concentração de hormonio no sangue (por exemplo prolactina aumentada);
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comportamento alterado:
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procuram por sombra;
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se aglomeram para sombrear uma à outra;
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rececusam a se deitar;
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mudam a orientação para o sol;
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ficam na água ou próximo a bebedouros.
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Minimizando o estresse térmico
Para minimizar os impactos na produtividade e melhorar o conforto das vacas, os seguintes fatores devem ser considerados.
ÁGUA
Vacas em lactação normalmente requerem mais de 100 litros de água por dia e beberão entre duas a seis vezes por dia. Assegure-se que o fluxo seja alto o suficiente para que os bebedouros nunca sequem. A maioria das vacas bebe logo após a ordenha, então instale os bebedouros nos corredores para atender a essa necessidade.
ALIMENTAÇÃO
Assegure-se de que a pastagem de verão seja de alta qualidade. Alimentos com alto teor de fibras podem aumentar o calor de fermentação no rúmen, aumentando a carga de calor sobre a vaca. Forneça alimentação suplementar à noite quando a temperatura estiver mais amena.
SOMBRA
Use piquetes com árvores de sombra durante períodos de estresse térmico - idealmente 5m2 de sombra por vaca - para minimizar a concorrência. Forneça sombra no galpão, se possível. Instale o sombrite nos piquetes.
GESTÃO
Reduza a distância de caminhada e a velocidade para a sala de ordenha. Reduza o tempo gasto em pátios não sombreados e minimize o estresse de manuseio. Isole as vacas mais severamente afetadas pelo estresse térmico e forneça sombra e resfriamento. Faça a ordenha bem no início da manhã e no final da tarde.
RESFRIAMENTO
Os aspersores podem ser usados na sala de espera para molhar as vacas e ajudar no resfriamento por evaporação antes da ordenha. No entanto, a aspersão pode aumentar a umidade ao redor das vacas, especialmente quando elas são mantidas juntas. A eficácia da aspersão depende da remoção do vapor de água pelo movimento do ar, idealmente usando ventiladores.
ITU - Índice Temperatura-Umidade
A Tabela abaixo pode ser usada para ajudar a gerenciar o estresse térmico nas vacas:
Fonte: Dairy NZ
*Marcelo de Paula Xavier, produtor rural, formado em Administração de Empresas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, com Mestrado em Agronegócios pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, foi presidente da Associação dos Criadores de Gado Jersey do Brasil por dois mandatos.