João Ricardo Alves Pereira


Zootecnista, Doutor em Nutrição Animal e Pastagens

jricardouepg@uol.com.br

PUBLICAÇÕES

A importância do uso da “Ração Total Misturada” (TMR)

07 de outubro, 2020

Escrito por Dr. João Ricardo Alves Pereira* 

 

O manejo alimentar é um dos maiores desafios na produção de carne ou leite, por ser a alimentação o fator de maior impacto no custo de produção em sistemas mais intensivos. Representando de 40 a 60% do custo total de produção, a alimentação pode determinar o sucesso ou fracasso da atividade.

Apesar da grande importância econômica, o conceito de "Nutrição de Precisão" é ainda recente e tem muito a ser trabalhado quando pensamos em produzir leite e carne de forma econômica e sustentável.

Parte da ração consumida por uma vaca de leite, ou mesmo um boi de engorda, é perdida na forma de fezes, urina e calor. Segundo especialistas, esse desperdício de energia é consequência de um manejo nutricional inadequado que oferece para o animal mais proteínas e energia do que ele é capaz de absorver. O manejo alimentar correto, atendendo as exigências específicas de cada categoria, garante aumento de produtividade e redução dos impactos ambientais, já que esse “desperdício de nutrientes” pode gerar poluentes como, por exemplo, o nitrogênio oriundo de proteínas e o fósforo dos alimentos e minerais.

Contudo, um manejo alimentar correto só é possível quando conseguimos associar três fatores:

1. Formulação adequada da dieta, visando atendimento das exigências nutricionais da categoria a ser alimentada – Exige conhecimento por parte de um técnico nutricionista;

2. Mistura precisa dos ingredientes, respeitando os diferentes níveis de inclusão e a manutenção das propriedades físicas, principalmente dos alimentos fibrosos, fundamentais ao bom funcionamento do ambiente ruminal – Exige um equipamento de pesagem preciso e com tecnologia na mistura. Desaparece o conceito de “bater a raçao”!

3. Garantir o correto fornecimento aos animais da dieta formulada e misturada – Exige mão de obra qualificada e capacitada e equipamento de precisão para o oferecimento correto aos animais.

Assim sendo, termos como “Ração Total Misturada” (TMR); “Dieta Total” ou mesmo “Ração Total”, passaram a fazer parte do vocabulário da pecuária moderna.

Como definição, “mistura total dos alimentos”  é:  "A prática de pesagem e mistura de todos os alimentos para animais em uma ração completa que fornece nutrientes necessários para atender as necessidades dos animais"; onde cada bocado deve conter os níveis necessários desses nutrientes (fibra, energia, proteínas, minerais, vitaminas, aditivos, etc) exigidos para crescimento e produção de carne ou leite.

As dez vantagens de se utilizar RaçãoTotal Misturada (TMR), segundo pesquisadores da Universidade da Pensilvânia – EUA:

1. O sistema TMR está muito bem adaptado à mecanização, com o uso de vagões misturadores transportadores ou estacionários, que são dotados de conjuntos de pesagens precisos (balanças de alta sensibilidade) e mecanismos de corte (facas) para o devido processamento de fibras;

2. Cada bocado de alimento consumido pode conter a quantidade adequada de ingredientes para o desenvolvimento de microrganismos do rúmen, resultando no aumento da utilização de nutrientes como, por exemplo, o nitrogênio vindo das proteínas que pode ser substituído pelo nitrogênio não protéico - NPN, vindo da uréia, reduzindo os custos na alimentação;

3. Aumento de até 4% na eficiência alimentar (kg de leite/kg de ração), quando comparado ao sistema de dois tratos diários, mas sem mistura total, em função da uniformidade de consumo e disponibilidade simultânea no rúmen dos todos os nutrientes;

4. Com o uso da TMR é possível se ter maior precisão na formulação e alimentação. O uso de escalas de alimentação (ex. número e horário de tratos) permite que a quantidade de cada ingrediente alimentado possa ser controlada de perto, minimizando perdas e facilitando o gerenciamento;

5. Quando uma TMR é misturada corretamente um animal não vai consumir mais ou menos de uma forragem ou concentrado, garantido a homogeneidade na produção de leite e ganho de peso (diminui os animais “refugos”);

6. Redução de incidência de alterações digestivas e metabólicas, como timpanismos, acidose ruminal, laminites, etc. Que são decorrentes do consumo desequilibrado de alimentos e nutrientes;

7. A produção de leite é pelo menos 5% maior com o uso da TMR, em comparação com o sistema convencional (mistura manual);

8. Evita a consumo seletivo e descontinuado, principalmente de alimentos volumosos, que gera sobras e desperdícios nos cochos de alimentação;

9. Evita a deterioração no cocho de alimentos fermentados e desuniformidade de consumo de alimentos essências de menor quantidade de inclusão, como minerais, vitaminas e aditivos;

10. Permite maior variedade e flexibilidade no uso de ingredientes e subprodutos para formulação das dietas, o que pode reduzir sensivelmente os custos de produção.

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*Dr. João Ricardo Alves Pereira - Professor Adjunto da Universidade Estadual de Ponta Grossa, possui graduação em Zootecnia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Mestrado em Nutrição Animal e Pastagens pela ESALQ/USP e Doutorado em Zootecnia pela UNESP/Jaboticabal. É palestrante e consultor de empresas nas áreas de conservação de forragens e nutrição animal, ganhador do Prêmio Impacto 2012 Milkpoint, técnico do ano no Troféu Agroleite 2016.

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