Marcelo de Paula Xavier
Editor do Canal do Leite, Administrador de Empresas e Mestre em Agronegócios
canaldoleite@terra.com.br
Perfil de uma vaca Jersey com baixo risco de descarte
12 de outubro, 2019
Escrito por Marcelo de Paula Xavier*, M.Sc.
O que faz uma vaca Jersey durar em um rebanho e ter uma vida produtiva longa?
Esta é uma pergunta bastante pertinente nos dias de hoje, dado o custo de se fazer uma boa reposição. Claro que as práticas de manejo – incluindo nutrição, sanidade e conforto animal – desempenham um papel muito fundamental, mas o foco desta coluna é a avaliação funcional de tipo, também conhecida como classificação linear.
As informações de classificação podem ser usadas para se tomar decisões importantes em um programa de seleção e, também, para se identificar os animais mais valiosos de um rebanho. Mas, independentemente dos objetivos de cada criatório, tais informações trazem vários benefícios para os produtores de leite:
- Fornecem uma avaliação imparcial e precisa do rebanho;
- Geram uma compreensão clara dos pontos fortes e fracos de cada animal;
- Definem tendências de características de tipo de uma geração para a seguinte;
- Fornecem uma base para acasalamentos corretivos;
- Permitem a incorporação de informações de conformação nos pedigrees oficiais;
- Adicionam valor na comercialização dos animais superiores.
Como as características funcionais de tipo são hereditárias e podem ser medidas de forma confiável, elas se tornam uma boa ferramenta para se predizer a longevidade das vacas de leite. Em resumo, a classificação é a maneira neutra e confiável dos produtores avaliarem seus rebanhos e, desta forma, melhorarem seus resultados.
Neste contexto, o Dr. Kent A. Weigel (da Universidade de Wisconsin) fez um estudo bastante interessante para determinar como cada característica de tipo aumenta ou diminui o risco de uma vaca Jersey ser descartada. Na pesquisa, foram usados dados de conformação, de produção e de sobrevivência de 268 mil vacas Jersey nos EUA, com primeiro parto entre janeiro de 1981 a agosto de 2000.
Os dados foram ajustados para efeitos de rebanho, ano, idade ao primeiro parto, consanguinidade e produção de leite. As vacas foram agrupadas em categorias para cada característica, as quais correspondiam às pontuações lineares da avaliação de tipo e os resultados foram expressos como o risco de descarte das vacas em relação a uma vaca com uma pontuação ideal para cada característica.
Quais foram os resultados do estudo?
Analisando-se a Tabela 1, com os resultados do estudo, podemos concluir que:
A ESTATURA não teve relevância significativa na sobrevivência das vacas, pois o risco de abate na pior categoria (pontuações de 36- 40) foi apenas 6% maior do que o de uma "vaca ideal".
Para FORÇA, escores nas faixas de 11-15 e 16-20 foram ideais, sendo que as vacas com escore de 41-45 tiveram 30% mais chance de ser abatidas do que as vacas com escores nos intervalos ideais.
Para FORMA LEITEIRA, escores intermediários de 21-25 foram ótimos, sendo que maior risco de descarte tiveram as vacas com pontuações de 41-45 (38%) e, também, com pontuações de 36-40 (14%).
Para ÂNGULO DE GARUPA, vacas com garupas altas (6-10) tiveram só 4% mais chance de abate do que as vacas com pontuações intermediárias de 16-20 e 21-25. Porém, vacas com garupas escorridas (pontuações de 41-45) tiveram 16% mais chance de ser abatidas.
A LARGURA DE GARUPA teve uma faixa ótima de 11-15, sendo que as vacas com pontuação alta (36-40) apresentaram um risco 18% maior de descarte involuntário.
Para as PERNAS, as pontuações intermediárias (21-25) e um pouco inferiores (11-5) foram ideais. Vacas com pernas traseiras extremamente retas (escores 6-10), tiveram um risco 4% maior de abate do que vacas intermediárias. Mas, as vacas com as pernas traseiras extremamente curvas (escores 41-45) estiveram 30% mais propensas a ser abatidas.
ÂNGULO DE PÉ também foi muito importante com respeito à sobrevivência das vacas. As altas pontuações (41-45) foram as melhores e as vacas com um ângulo muito baixo (escores 6-10) tiveram 22% mais chance de serem abatidas.
Como esperado, as características de úbere foram as mais importantes. Vacas com pontuações de 36-40 para LIGAMENTO ANTERIOR sobreviveram por mais tempo. Vacas com escores na faixa de 6-10 tiveram 53% mais probabilidade de serem abatidas e vacas marcando 11-15 tiveram um risco 37% maior.
Para ALTURA DE ÚBERE e LARGURA DE ÚBERE, notas de 36-40 e 21-25 foram ótimas respectivamente. Vacas de baixa pontuação (6-10) tiveram 30% e 15% mais risco de abate, nessa ordem. Porém, as vacas de alta pontuação (41-45) tiveram também maior risco (18% e 16%, respectivamente) do que uma vaca ideal.
PROFUNDIDADE DE ÚBERE foi, de longe, a característica mais importante, com as notas 41-45 sendo as mais desejáveis. Vacas com úberes muito profundos (6-10) tiveram um espantoso aumento de 125% no risco de abate em comparação com as vacas de alta pontuação. Vacas nas faixas de 11-15 e 16-20, respectivamente, tiveram 78% e 50% mais risco de abate.
LIGAMENTO CENTRAL foi o segundo em importância, com as vacas que marcaram 6-10 tendo um risco 76% maior de abate do que vacas na faixa ideal (21-25).
Por último, as notas de 31-35 para COLOCAÇÃO DE TETOS foram as melhores, sendo que as vacas com tetos abertos (6-10) tiveram uma chance 31% maior de serem abatidas.
Em resumo
- A sobrevivência das vacas de leite está aumentando em importância, devido ao alto custo das novilhas de reposição;
- As características lineares de tipo podem ser preditores úteis da sobrevivência das vacas Jersey;
- As características de úbere, especialmente profundidade, tem um grande efeito sobre a sobrevivência das vacas;
- As características de pés e pernas também são importantes, embora não tão críticas como as de úbere;
- Entre as vacas com produção equivalente, uma forma leiteira intermediária é a preferida;
- As características de tamanho corporal e garupa são menos úteis para a previsão de sobrevivência das vacas.
É importante ressaltar que outras características, incluindo fertilidade e contagem de células somáticas, também desempenham um papel fundamental na sobrevivência das vacas. Para conhecer mais sobre o Programa de Avaliação de Tipo Funcional da Associação Americana do Gado Jersey (AJCA), veja o PDF abaixo.
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Avaliação Uniforme de Tipo Funcional
Avaliação de Tipo Funcional.pdf (882,31 KB)
Referências:
Type Traits and Culling: Profile of a Low-Risk Jersey Cow, Kent A. Weigel, Ph.D.
Uniform Functional Type Traits Appraisal Program, AJCA
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*Marcelo de Paula Xavier, formado em Administração de Empresas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa, com Mestrado em Agronegócios pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Foi presidente da Associação de Criadores de Gado Jersey do Brasil por 2 mandatos consecutivos e atualmente é editor do Canal do Leite.