A plataforma Global Dairy Trade (GDT) realizou, ontem (19/07), seu evento de nº 312 e o cenário baixista – observado ao longo dos últimos leilões – ganhou força nesta quinzena. O receio de recessões econômicas e o retorno das políticas de controle sanitário na China impactaram negativamente os preços praticados no mercado internacional de lácteos.

Neste 312º leilão GDT, houve um recuo de 4,45% na média do preço dos lácteos, que fecharam em US$ 4.166,00 por tonelada. Além disto, ocorreu um recuo de 1,03% no volume negociado (23.219 toneladas de lácteos), em relação ao último leilão. O comportamento no volume negociado foi semelhante aos últimos anos, também com recuos na segunda quinzena de julho.

Todos os derivados apresentaram queda de preço, com destaque para o leite em pó desnatado, que registrou o menor valor desde novembro de 2021 e voltou a ter preço inferior ao leite em pó integral:

• Leite em pó desnatado (-8,7%), fechando a US$ 3.709,00 por tonelada;
• Leite em pó integral (-5,15%), passando de US$ 3.961,00 por tonelada para US$ 3.757,00;
• Manteiga (-2,1%), fechando a US$ 5.530,00 por tonelada;
• Queijos (-1,7%), fechando a US$ 4.825,00 por tonelada.

Os problemas econômicos, que grandes economias mundias enfrentam, estão contribuindo para este cenário baixista, impulsionando os recuos nos preços praticados. A inflação no Estados Unidos, por exemplo, teve alta de 1% em maio e 1,3% em junho, com o índice de preços ao consumidor acumulando +9,1% em 12 meses. Este é o maior valor do indicador desde novembro de 1981 (após os choques do petróleo nos anos 1970). Essas altas consecutivas na inflação americana elevam as tensões sobre uma possível recessão econômica mundial.

A Europa também dá sinais de que pode enfrentar uma recessão, na esteira dos problemas decorrentes do conflito na Ucrânia. Pela primeira vez na história, o euro se igualou ao dólar, chegando a cair abaixo da paridade em relação a moeda dos Estados Unidos na última quarta-feira (13/07).

Segundo relatório da S&P Global Ratings, as chances da zona do euro entrar em recessão nos próximos 12 meses são de 30% a 43%. A desaceleração econômica já é uma realidade, visto que a região apresentou dois trimestres consecutivos com variações negativas do Produto Interno Bruto (PIB). Além disso – em meio a uma onda de calor enfrentada pelos europeus – países como a Alemanha já começam a analisar a possibilidade de racionamento de energia, frente aos problemas de fornecimento do gás russo.

A China também vem enfrentando uma desaceleração. A economia do país asiático cresceu apenas 0,4% no segundo trimestre do ano, em relação ao ano anterior, segundo dados oficiais divulgados sexta-feira (15/07). Esse foi o pior desempenho da economia chinesa para o 2º trimestre desde que a série de dados começou, em 1992. Outro fator que vem gerando transtornos na China é a política de controle sanitário. Xangai e Pequim, grandes centros comerciais do país, retornaram com as testagens em massa, reforçando possíveis intensificações dos lockdowns nos próximos dias. 

Em relação aos contratos futuros, tanto a plataforma GDT como a Bolsa de Futuros da Nova Zelândia (NZX Futures) projetam cenários baixistas para os próximos 3 meses. Em meio às incertezas de um mercado extremamente volátil, as projeções do GDT estimam um ligeiro aumento para agosto, seguido de quedas, com o leite em pó integral girando em torno de US$ 3.700,00 por tonelada. Para a NZX Futures, o cenário é mais pessimista e a projeção é de queda para agosto, seguido de leves reduções para os próximos meses, com os preços se mantendo ao redor de US$ 3.635,00  por tonelada, pelo menos em curto prazo.

Efeito dos resultados do leilão GDT no mercado brasileiro

Considerando o dólar desta segunda-feira (R$ 5,39) e o valor do leite em pó integral no mercado internacional (US$ 3.757,00 por tonelada), pode-se chegar ao preço equivalente de um leite importado colocado no Brasil, que seria de R$ 2,45 por litro. Se comparado à média Cepea de junho (R$ 2,68/litro), esse valor está abaixo do que é pago aos produtores brasileiros. Além disso, ele é um valor bem inferior ao preço do leite spot da segunda quinzena de julho (R$ 4,06/litro – média Brasil).

Com a baixa disponibilidade de leite no mercado interno, os preços dos derivados lácteos estão operando em patamares elevados. Mas, as primeiras correções de mercado começaram a ocorrer nesta semana, frente aos repasses do varejo ao consumidor final, que desestabilizou a demanda pelos produtos e tem refletido em uma maior dificuldade nas vendas.

Ao longo dos últimos dias, o dólar seguiu ganhando força, impulsionado pelos temores de recessão mundial e pelos riscos fiscais que novos auxílios propostos pelo governo federal podem causar no Brasil. Desta forma, o cenário no momento se mantém.

Mesmo com fatores impactando negativamente as importações – a elevação do dólar, por exemplo – a competitividade dos produtos importados segue ganhando força, haja vista o recuo nos preços internacionais dos lácteos e os preços no mercado interno brasileiro, que estão em níveis elevados. Por ora, a tendência é de elevação nas importações e uma janela de exportações ainda fechada.

Fontes: Milkpoint e GDT