CEPEA: Preço ao produtor cai quase 15%, indo para R$ 3,0476/litro em setembro
02 de outubro, 2022
O preço do leite captado em agosto, que é pago aos produtores em setembro, registrou queda de 14,7% (R$ 0,52 por litro) frente ao mês anterior, chegando a R$ 3,0476/litro na “Média Brasil” líquida do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Apesar de expressiva, a diminuição ainda ficou aquém da expectativa de agentes do setor. Desde o início deste ano, o leite acumula valorização real de 37,2% no campo, em termos reais (valores deflacionados pelo IPCA de agosto/22).
O recuo nas cotações ao produtor ocorre sobretudo em função do enfraquecimento da demanda em agosto. Com estoques de derivados limitados nos atacados e baixa oferta de leite cru no campo, entre junho e julho, os preços dispararam ao longo de toda a cadeia, mas o patamar alcançado na gôndola desencadeou a retração do consumo.
Com dificuldades em assegurar vendas, os canais de distribuição passaram a pressionar os laticínios para baixar os preços dos lácteos. Pesquisas do Cepea indicam quedas de 15,3% e de 10% nos preços do UHT e da muçarela, respectivamente, negociados no estado de São Paulo em agosto. Com vendas fracas e estoques de lácteos crescentes nos laticínios e canais de distribuição, as compras de leite no spot também se reduziram em agosto. Na média mensal de Minas Gerais, os preços caíram 30,8%, passando de R$ 4,54/litro em julho para R$ 3,14/litro em agosto.
Além disso, nos últimos meses, o expressivo aumento das importações tem contribuído para elevar a disponibilidade de lácteos no mercado interno. De acordo com dados da Secex, em agosto, o volume importado de lácteos subiu quase 64% e o déficit da balança comercial se aproximou de 170 milhões de litros em equivalente leite.
É importante, também, destacar que a produção de leite cru tem crescido nos últimos meses. O Índice de Captação de Leite (ICAP-L) do Cepea subiu 4,8% de julho para agosto, quarto avanço consecutivo. Com isso, desde janeiro, o ICAP-L acumula alta de 6,3%.
A expectativa dos agentes de mercado é de que, com a aproximação do fim da entressafra, a produção ganhe fôlego no último trimestre do ano; o que deve manter os preços no campo em queda. Contudo, deve-se destacar que o incremento da produção nos últimos meses esteve atrelado ao forte estímulo da alta do preço do leite, que melhorou o poder de compra do pecuarista frente à custo de alimentação do rebanho. Por isso, é difícil prever a intensidade deste movimento de desvalorização, já que o potencial de aumento da oferta ainda é um ponto de incerteza para o setor.
Gráfico 1. Série de preços médios recebidos pelo produtor (líquido), em valores reais (deflacionados pelo IPCA Jun/22)
Fonte: CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada