CEPEA: Receita atinge recorde real, mas o momento exige cautela do produtor
12 de outubro, 2020
Dados da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em parceria com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA) indicam que – no primeiro semestre de 2020 – o crescimento do PIB do agronegócio foi de expressivos 5,26%, sendo este o avanço mais intenso para uma primeira metade de ano.
No caso do setor leiteiro, as incertezas no início da pandemia deixaram pecuaristas mais cautelosos – entre março e abril, muitos secaram as vacas ou diminuíram os investimentos. Esse cenário se somou ao período de sazonalidade da produção no meio do ano, resultando em consecutivos recordes nos preços do leite pagos ao produtor nos últimos meses. Em setembro, especificamente, a “Média Brasil” líquida do CEPEA atingiu R$ 2,13/litro, um recorde real da série. Na parcial deste ano, o aumento no preço do leite foi de 56,4%.
Por outro lado, os custos de produção também subiram. Cálculos realizados pelo Projeto “Campo Futuro” indicam que o Custo Operacional Efetivo (COE) – que considera os desembolsos correntes das propriedades – acumula alta de 7,57% de janeiro a agosto, tendo-se como base a “média Brasil”. Ressalta-se que, no mesmo período do ano passado, o aumento havia sido de apenas 0,14%.
Dentre os estados acompanhados pelo CEPEA, os que apresentaram as elevações mais fortes nos custos foram Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. De janeiro a agosto, os desembolsos nestes estados aumentaram 11,53%, 9,35%, 7,71% respectivamente.
A elevação dos custos foi impulsionada pela alta generalizada dos grãos, em especial do milho e do farelo de soja, que são importantes componentes das rações concentradas. Os custos com os concentrados chegam a comprometer até 30% da receita anual de uma propriedade de bom desempenho produtivo.
Ainda que a receita tenha subido com mais força que os custos ao longo deste ano, favorecendo a margem do produtor leiteiro, este momento deve ser avaliado com cautela. Isso porque a forte valorização do dólar elevou os preços de importantes insumos pecuários que são importados e influenciou também a valorização doméstica dos grãos e derivados, à medida que estimulou as exportações brasileiras desses produtos. Esse contexto deve continuar se refletindo sobre o bolso do produtor nos próximos meses.
No caso da receita, o movimento de alta no preço do leite ao produtor deve perder a força a partir de outubro, devido ao final da entressafra e a condições climáticas mais favoráveis para a produção leiteira com a chegada da primavera.
Relação de troca
Tendo-se como base o preço do leite na “média Brasil” e a média do milho das regiões acompanhadas pelo CEPEA, de janeiro a agosto, o poder de compra do produtor leiteiro caiu frente ao mesmo período do ano passado.
Entre janeiro e agosto de 2020, com a venda de um litro de leite, o produtor comprava 1,94 quilo de milho em média, sendo que – no mesmo período do ano passado – era possível adquirir 2,53 quilos com a venda de um litro de leite. Para o farelo de soja, a venda de um litro de leite possibilita a compra de 0,98 quilo do derivado, contra 1,22 quilo de janeiro a agosto do ano passado. Ou seja, apesar da recente alta na receita, o produtor perdeu o poder de compra frente o seu principal insumo.
Futuro
As referências do mercado futuro sinalizam que há expectativas de continuidade de preços firmes para soja e milho até o final de 2020 e início do ano que vem. Por outro lado, sazonalmente, como mencionado acima, os preços do leite tendem a recuar com a chegada das chuvas e a melhoria das condições das pastagens. Já, pelo lado da demanda, a redução dos valores pagos no auxílio emergencial pode retrair o consumo observado até setembro, alterando o apetite de compra e a competição entre indústrias pelo leite no campo.
Diante disso, cabe ao produtor atenção constante e o monitoramento dos números do mercado e principalmente do seu negócio. Vale ressaltar que a elevação pontual dos preços pode resultar em melhoria das margens da propriedade, mas somente o aumento da eficiência produtiva garante que essas margens se sustentem ao longo do tempo.
Fonte: CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada