Com oferta limitada, preço do leite reage 2,3% em abril
30 de abril, 2021
Depois de acumular queda de 10,7% no primeiro trimestre do ano, em termos reais (deflacionado pelo IPCA), o preço do leite captado em março – pago aos produtores em abril – subiu 2,3% na “Média Brasil” líquida, chegando a R$ 1,9837/litro. Este valor é recorde para um mês de abril e supera em 28,4% o registrado no mesmo período de 2020.
Segundo pesquisa do CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), a inversão na tendência do preço se deve a um cenário de oferta limitada de leite no campo. O Índice de Captação Leiteira (ICAP-L) caiu 3,7% de fevereiro para março e já acumula queda de 8,8% desde o início deste ano.
A partir de março, tipicamente, se verifica uma redução no volume de chuvas e, consequentemente, menor disponibilidade de pastagens. Esta realidade prejudica a alimentação dos rebanhos e a produção de leite no Sudeste e Centro-Oeste. Assim, o avanço da entressafra da produção leiteira é, sazonalmente, um fator de desequilíbrio entre oferta e demanda e, portanto, de elevação de preços entre março e agosto.
Entretanto, neste ano, a situação tem sido agravada por conta da valorização considerável e contínua dos grãos, principais componentes dos custos de produção da pecuária leiteira. Houve uma perda substancial na margem do produtor nos últimos meses, o que tem freado investimentos na atividade, prejudicado o manejo alimentar dos animais e estimulado o abate de vacas.
Com a oferta de leite limitada, a competição das indústrias pela compra de matéria-prima se acirrou em março, levando – por conseguinte – à retomada dos preços pagos ao produtor em abril. As negociações do leite spot se elevaram nas duas quinzenas de março e a média mensal superou a de fevereiro em 10,4%.
Nesse contexto, as indústrias tentaram repassar as altas nos preços dos lácteos negociados. Uma pesquisa do CEPEA mostrou que os preços médios mensais do leite UHT e do leite em pó, negociados no atacado de São Paulo, subiram 7,5% e 7,6%, respectivamente, de fevereiro para março.
No caso do queijo muçarela, o movimento de valorização se intensificou a partir da segunda quinzena de março, de modo que – na média mensal – a tendência de alta não foi observada e o preço do lácteo caiu 5% na mesma comparação (dados deflacionados pelo IPCA de março/21).
O setor lácteo atravessa um momento delicado: de um lado, os custos de produção elevam o preço do leite no campo e as indústrias precisam manter preços atrativos aos seus fornecedores; de outro, a grande pressão dos canais de distribuição dificulta o repasse da valorização da matéria-prima ao consumidor, que – por sua vez – está com menor poder de compra, diante do atual contexto econômico.
Apesar de haver, portanto, uma tendência de retomada dos preços do leite no campo, este movimento de valorização deverá acontecer de forma comedida, sendo possivelmente freado pela demanda fragilizada.
Fonte: CEPEA – Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da USP
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