Conjuntura do setor leiteiro

Conjuntura do setor leiteiro

20 de julho, 2024

Segundo a IFCN (International Farm Compariton Network), a oferta mundial de leite em 2024 segue com baixa de 0,4% em relação a 2023. Em que pese a redução da oferta, os preços dos derivados lácteos, desde novembro de 2022, têm se mantido baixos, especialmente com a redução das importações chinesas.

A migração da produção de regiões tradicionais para regiões emergentes é outro fenômeno que vem se consolidando na produção de leite. Segundo a FAO, em 2000 a Europa produziu 37% do leite mundial de bovinos, a Ásia 29%, as Américas 26% e a Oceania e a África 8%. Em 2021, a Europa produziu o equivalente a 26%, as Américas 22% e a Ásia 44%.

Em relação à Europa, pode-se afirmar que a maturidade do mercado, aliado aos rigores das normas de produção referentes aos impactos ambientais, dentre outras restrições, tem gerado desestímulo e estagnação da produção de leite. A Ásia tem como motor de seu crescimento a expansão da população, a mudança de hábitos alimentares, a urbanização e o elevado aumento de renda das populações. Os principais países produtores de leite de bovinos são a Índia, o Paquistão e a China.

Merece destaque também a mudança da participação dos diferentes grupos no mercado mundial de alimentos. Segundo a FAO, em 2000 os produtos lácteos representavam 9% dos valores transacionados e, em 2021, passaram a 8%. No mesmo período frutas e vegetais passaram de 18% para 19% e cereais e preparados de 14% para 15%. Isto pode indicar uma mudança de hábito alimentar para alimentos à base de plantas.

As projeções macroeconômicas para o Brasil apontam crescimento do PIB, manutenção da taxa Selic, redução da inflação e do desemprego para o ano corrente. Contudo, incertezas sobre as contas públicas e o aumento da dívida têm gerado expectativas de perda de dinamicidade da economia brasileira em 2025. Isto acende um alerta para o setor lácteo, na medida em que os produtos possuem elevada elasticidade de renda, que – por sua vez – depende diretamente do crescimento econômico. Além disso, nos últimos meses, têm sido observada uma elevação das cotações ao consumidor, o que pode inibir as vendas.

No Brasil, há muitos desafios referentes à competitividade da cadeia produtiva de lácteos. Comparando os preços nacionais de produtos lácteos com os dos importados, verifica-se – em relação ao preço FOB – que a muçarela nacional tem spread médio de 31% e o leite em pó integral de 37%.

Essa diferença maior dos preços nacionais, mesmo com as elevações recentes da taxa de câmbio, incentiva a continuidade do processo de importação. Essa situação se torna realmente desafiadora para os laticínios se considerarmos uma piora de suas margens nos últimos três meses. Nesse sentido, a indústria de laticínios nacional tem perdido capacidade de manter as margens dos diferentes produtos.

Na produção primária, a situação também traz desafios. Na comparação dos preços recebidos pelos produtores nacionais com os produtores no mercado mundial, verifica-se que os valores pagos aos nacionais são maiores que os de outros países. Em maio de 2024 a diferença no preço do leite spot, em Minas Gerais, para os pagos aos produtores na Argentina e no Uruguai, foi maior, em dólar/kg, em 33% e 43%, respectivamente (Figura 1).

Além da competividade internacional e as questões climáticas, que tem afetado áreas importantes de produção de leite, deve-se considerar, ainda, incertezas em relação à continuidade da queda e ou manutenção dos custos de produção. Após um período de queda, o ICP/Leite da Embrapa passou por uma dinâmica lateralizada desde maio de 2023 e, recentemente, a sinalizar alta dos custos.

Em síntese, desafios se colocam para o setor lácteo, considerando, neste primeiro semestre de 2024: (1) preços ao produtor em crescimento; (2) redução das margens da indústria; (3) incentivos, via preço, ao aumento das importações; e (4) proximidade do período de safra (5) pouca maturidade da governança da cadeia produtiva para alianças estratégicas de longo prazo para enfrentar os desafios.

 

 

Fonte: Centro de Inteligência do Leite (CILeite/Embrapa)

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