EUA: Cannabis na dieta das vacas leiteiras?
21 de março, 2022
A Farm Bill (Lei Agrícola americana) de 2018 expandiu a produção legal de cânhamo nos Estados Unidos. Mas, muito trabalho ainda precisa ser feito para se definir questões regulatórias, em relação às aplicações do cânhamo naquele país.
Para esclarecimento, o cânhamo e a maconha não são a mesma coisa. Ambos são da mesma classe de plantas do gênero Cannabis, mas se distinguem por seu nível de tetrahidrocanabinol (THC). O cânhamo legal deve conter 0,3% de THC ou menos; ou seja, o cânhamo não pode deixá-lo chapado.
O cânhamo tem uma grande variedade de usos, que muitas vezes lhe rendem o apelido de “cânhamo industrial”, tais como: cordas, têxteis, produtos para alimentação humana, papel, bioplásticos, materiais de construção e biocombustíveis. Antes da proibição nos EUA, há mais de 80 anos, o cânhamo era uma importante cultura, considerada commodity, em muitas partes do país.
Tillery Sims, diretor executivo da Associação dos Produtores de Cânhamo do Texas, vem trabalhando para restaurar o papel do cânhamo na rotação de culturas para os agricultores. “Queremos ser um recurso confiável para os agricultores, para dar-lhes um lugar para informações consistentes sobre o cânhamo”, ressaltou Sims em um webinar durante a World Ag Expo 2021.
No webinar estava também Hunter Buffington, então Diretora Executiva da Hemp Feed Coalition (HFC). A missão de sua organização é obter aprovação federal para o cânhamo e seus subprodutos e criar novos mercados em uma área potencialmente importante: alimentação animal. Ela disse que a aprovação do uso do cânhamo na alimentação animal trará mais valor aos produtores, pois eles poderão utilizar ou comercializar todas as partes da planta.
A semente de cânhamo é um grão geralmente reconhecido como seguro para consumo humano, pela Food and Drug Administration (FDA), pois não produz canabinóides, os quais são encontrados na parte superior da planta. A HFC aponta que o farelo de sementes de cânhamo – composto pela casca da semente após a extrusão do óleo – é uma fonte altamente nutritiva de proteínas, fibras e lipídios.
Buffington compartilhou dados de 40 produtos feitos do farelo de sementes de cânhamo (cultivados e processados nos EUA), de três variedades diferentes, plantadas em 10 estados. Verificou-se ser um ingrediente altamente homogêneo, com o seguinte perfil nutricional:
- Proteína bruta: 33,5%
- Fibra bruta: 34,0
- Gordura bruta: 10,1%
- FDA: 34,65
- FDN: 43,6%
- Cálcio: 1.584,71 ppm
- Fósforo: 8.254,06 ppm
- Selênio: 1,28 ppm
- Sódio: <25,00 ppm
- Lisina: 10,44 mg/g
- Metionina: 5,48 mg/g
“Obter a aprovação federal é um processo demorado, caro e baseado em dados”, disse Buffington.
A HFC apresentou seu primeiro pedido de aprovação para uma nova definição de ingrediente em 2020. A esperança da organização é que o processo, que começou na American Feed Control Officials (AAFCO), vai culminar com a aprovação do primeiro ingrediente de cânhamo para alimentação animal, pelo Centro de Drogas Veterinárias do FDA (FDA-CVM). O pedido é para bolos e farelo de sementes de cânhamo para uso na alimentação de galinhas poedeiras.
O FDA devolveu o pedido à HFC em 2021 com um pedido de mais dados.
Em fevereiro de 2022, a AAFCO emitiu uma carta aberta conjunta de preocupação sobre a permissão do cânhamo na alimentação animal. Dirigida a lideranças agrícolas e formuladores de políticas estaduais, a carta foi uma advertência contra estados americanos que possam contornar a regulação federal para aprovação do cânhamo na alimentação animal.
“Atualmente, nenhum ingrediente de cânhamo foi aprovado, pelas vias estabelecidas, como ingrediente para ração animal”, afirmou a carta. “Seria imprudente ignorar esses procedimentos estabelecidos necessários para proteger a saúde humana e animal e legislar unilateralmente a aprovação de ingredientes de ração animal em nível estadual”.
Mais detalhes na carta abordavam preocupações com (1) saúde e segurança animal; (2) segurança dos alimentos provenientes de animais de produção que entram na cadeia alimentar humana; e (3) implicações legais para produtores de animais e fabricantes de rações.
Entre as 17 organizações que assinaram a carta estavam a American Dairy Science Association, a American Association of Bovine Practitioners, a American Veterinary Medical Association, a National Cattlemen’s Beef Association e a Federation of Animal Science Societies.
“Entendemos a importância de apoiar a indústria do cânhamo e, no entanto, também acreditamos que é muito cedo para saber se o cânhamo é seguro para animais de produção nas fazendas, bem como para nossos animais de estimação”, afirmou a carta.
A HFC, por sua vez, emitiu seu próprio comunicado em resposta à carta da AAFCO. Nele, eles afirmaram que a carta da AAFCO “deliberadamente confunde grãos de cânhamo com canabinóides, retrocedendo muitos anos de progresso que a indústria fez educando nossos colegas no meio agrícola tradicional sobre como as partes da planta diferem e o valor altamente nutritivo que o grão traz.”
Escrito por: Maureen Hanson
Fonte: Dairy Herd Management
Traduzido e adaptado pela Equipe do Canal do Leite, disponível em: www.dairyherd.com/news/education/hemp-headed-dairy-rations